Presidente da SBPC trata da interdisciplinaridade

“Não há dúvidas de que a pesquisa interdisciplinar causa um grande impacto positivo na ciência”. A afirmação é da presidente da SBPC, Helena Nader, durante sua conferência, proferida nesta quinta-feira (07/11), durante o V Fórum Integrador de Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), com a palestra "Interdisciplinaridade e o futuro da Ciência no Brasil", no Teatro Marcos Lindemberg, na Unifesp. Durante a palestra, Helena apresentou diversos projetos interdisciplinares que trouxeram avanços para a ciência e melhoria para a sociedade como um todo.

“Não há dúvidas de que a pesquisa interdisciplinar causa um grande impacto positivo na ciência”. A afirmação é da presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader, durante sua conferência proferida no V Fórum Integrador de Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), com a palestra “Interdisciplinaridade e o futuro da Ciência no Brasil”, no Teatro Marcos Lindemberg, na Unifesp, que começou ontem (06/11) e termina amanhã (08/11).

Durante a palestra, Helena apresentou diversos projetos interdisciplinares que trouxeram avanços para a ciência e melhoria para a sociedade como um todo. “Na minha visão o primeiro projeto interdisciplinar foi o Projeto Manhattan, em 1939, onde físicos alemães estudavam a divisão de um átomo de urânio”, explicou. “Albert Einstein e Enrico Fermi, na época, informaram o presidente dos Estados Unidos sobre os perigos da tecnologia atômica nas mãos das potências do Eixo”, exemplificou. Ela também disse que a pesquisa e produção ocorreram em mais de 30 locais em todo os Estados Unidos, Reino Unido e Canadá. Segundo Helena, para o desenvolvimento do projeto que gerou a bomba atômica, foram reunidos pesquisadores de diversas áreas, entre elas, engenharia e físicas.

Mesmo todos sabendo do resultado de como a bomba foi usada, Helena disse que o projeto deixou um grande legado, entre eles, os laboratórios nacionais: Laboratório Nacional de Lawrence Berkeley, Laboratório Nacional de Los Alamos, Laboratório Nacional de Oak Ridge, Laboratório Nacional de Argonne e Laboratório de Ames, Laboratório Nacional de Brookhaven e Laboratório Nacional Sandia. Helena, disse ainda que o projeto também trouxe outros impactos positivos, tanto políticos como culturais, porque se passou a ter uma discussão diferente sobre ética e até onde pode ir o papel da ciência.

Ao citar os laboratórios nacionais deixados após o projeto Manhattan, Helena citou que a falta de laboratórios desse tipo no Brasil. “Este é um grande gargalo que o país tem”, disse. “Laboratórios nacionais de fato, que deem condições de uso e equipamento para todos os cientistas, como, por exemplo, o Magnet Lab, que é só de ressonância magnética, e que é aberto para o mundo.”

O projeto genoma é outro projeto interdisciplinar de sucesso, que envolveu médicos, biomédicos, biólogos, matemáticos, estatísticos, entre outros. “E o laboratório Los Alamos teve um papel fundamental já que ele que tinha condições de armazenar todas as informações”, disse Helena. Ela ainda citou outro exemplo, na medicina, ainda não definitivo, mas já existe um protótipo de um óculos que estimula o sistema nervoso e faz a pessoa enxergar.

Um dos sucessos de interdisciplinaridade do Brasil é a Embraer. “Em 1949 o Brasil criou o projeto estratégico nacional na área aeronáutica – com a criação do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica)”, explicou. “E em 1969, o nascimento da Embraer, controlada pelo Governo Federal, para desenvolver engenharia aeronáutica no país e produzir aviões. Em 1994, a empresa é privatizada, combinando o conhecimento tecnológico e industrial com uma cultura empreendedora e em 2012, é uma das das principais fabricantes mundiais de aeronaves comerciais e executivas, com forte e crescente atuação em defesa e segurança”. Para ela, talvez o ITA é o que é hoje por causa desse começo, dessa filosofia. “É uma filosofia de formar bem e fazer ciência de  ponta”, finalizou.

Outro sucesso interdisciplinar do Brasil é a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), pois conta com pesquisadores de diversas áreas, entre eles, médicos, veterinário, biólogos e agrônomos. “Todos juntos, criaram – claro que com todo conhecimento trazido das escolas de agricultura do país, entre elas a Esalq (Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz) –  a adaptação da soja às condições de clima e solo do cerrado”, lembrou. “Muitos diziam que no Brasil não era possível cultivá-la, e hoje o país é o primeiro colocado no mundo na produção de soja.”

 Quanto a Petrobras, Helena citou o sucesso da perfuração de poço direcional de 85º. “A adoção dessa técnica, em substituição à perfuração de poços verticais, proporciona maior contato do poço com o reservatório e, consequentemente, aumento de produção com menor número de poços produtores”, explicou. “Isso é ciência interdisciplinar de diferentes áreas do conhecimento.”

Centros

Quanto aos centros interdisciplinares, Helena disse que são poucos. Ela citou, como exemplo, o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), que é a nova denominação da Associação Brasileira de Tecnologia de Luz Síncrotron (ABTLuS). “Este centro é responsável pela gestão dos Laboratórios Nacionais de Luz Síncrotron (LNLS), de Biociências (LNBio), Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE) e de Nanotecnologia (LNNano)”, disse. “Mesmo com estes laboratórios, há pouco recursos”, disse.

Outro programa interdisciplinar de sucesso, para Helena, é o programa Biota. “Infelizmente falta dialogo entre a academia e a ponta de ensino básico e fundamental”, lamentou. “O material disponibilizado pelo Biota para a área de educação é fora de série e envolveu toda a área de conhecimento.”

Evento

A abertura do V Fórum Integrador de Pesquisadores da Unifesp, que começou no dia 06/11 e termina no dia 08 de novembro, cujo tema este ano é “Interdisciplinaridade em Pesquisa: Avanços e Perspectivas”, contou com a presença da reitora da Unifesp, Soraya Soubhi Smaili, e a pró-reitora de Pós-Graduação e Pesquisa, Maria Lucia Oliveira de Souza Formigoni.

O evento científico é voltado para a comunidade da Unifesp e tem como objetivo divulgar e fomentar as pesquisas realizadas no âmbito da instituição.  “A abertura do evento foi bastante interessante, já que começamos pensando numa maneira diferente”, disse a pró-reitora, ao citar a primeira conferência palestrada por Olgária Chain Feres Matos, do departamento de filosofia da Unifesp, cujo tema foi ‘Interdisciplinaridade: discreta esperança’. “Não em cima da ciência, mas da filosofia.”

Ela disse ainda que a palestra a fez pensar que dentro desse tema –  interdisciplinaridade – é preciso repensar um pouco aquilo que se faz hoje. “A palestra foi importante no sentido de nos acordar um pouco para não ficarmos no pragmatismo da ciência”, disse a pró-reitora.

A reitora da Unifesp, por sua vez, também comentou a abertura e disse que a programação do fórum está muito estimulante. “Na abertura fizemos uma análise histórica, mas em um contexto atual, fazendo a gente pensar no futuro”, explicou. “Além de nos convidar para uma reflexão.”

O evento é composto de sessões de workshops com a finalidade de promover espaço para o recebimento de propostas de atividades enviadas pelos pesquisadores da Unifesp a serem incluídas na programação do evento. Além de workshops e conferências, há sessões coordenadas com a participação de pesquisadores de outras universidades e de profissionais envolvidos em inovação e empreendedorismo.

(Vivian Costa)