Brasil precisa aumentar o impacto da ciência que produz


O Brasil já tem uma produção científica significativa, principalmente em volume de publicações, mas precisa avançar para que o impacto do conhecimento gerado no país seja maior no mundo. Essa foi uma das principais conclusões da mesa-redonda “Impacto e avaliação da pesquisa”, realizada ontem, durante a 65ª Reunião Anual da SBPC, que acontece no Recife até sexta-feira.

O Brasil já tem uma produção científica significativa, principalmente em volume de publicações, mas precisa avançar para que o impacto do conhecimento gerado no país seja maior no mundo. Essa foi uma das principais conclusões da mesa-redonda “Impacto e avaliação da pesquisa”, realizada ontem, durante a 65ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que acontece no Recife até sexta-feira (26/07). A mesa, coordenada pela presidente da SBPC, Helena Nader, foi composta pelos presidentes da Capes, Jorge Almeida Guimarães, e do CNPq, Glaucius Oliva, e pelo diretor científico da Fapesp, Carlos Henrique de Brito Cruz.

No final, Helena se disse muito satisfeita e feliz com as apresentações e os debates que ocorreram durante a mesa redonda. De acordo com ela, é importante a comunidade científica parar para repensar os critérios para avaliação de projetos de pesquisa, que poderão ser financiados pelas agências de fomento. Ela também falou sobre os institutos tecnológicos e os de pesquisa. “Vejo neles um papel fundamental, voltado para a tecnologia e a inovação”, disse. “Esse deve ser o foco.” Segundo a presidente da SBPC, eles não foram criados para oferecer cursos de pós-graduação. “Na minha visão, esses institutos foram um grande avanço para o país e vão formar o que falta ao país, que é o técnico bem formado”, disse. “Há uma mania no Brasil de que todo mundo tem de ser doutor, mas isso precisa ser repensado.”

Apoiado em gráficos, Oliva, por sua vez, mostrou que um grande número de indicadores de ciência e tecnologia do país têm melhorado, entre os quais números de grupos de pesquisa, de mestres e doutores, de publicações e de matrículas, que têm aumentado, assim como os orçamentos do Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovação (MCTI), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), além dos de algumas fundações de amparo à pesquisa estaduais. Um dado que Oliva destacou foi o número de docentes com doutorado, em tempo integral, nas instituições públicas, que saltou de 35 mil para 70 mil em seis anos.

Apesar desses indicadores positivos, o Brasil não tem conseguido transformá-los em produtos tecnológicos. Conforme os dados apresentados por Oliva, o país apresenta um déficit crescente da balança comercial nos cinco setores de média, média alta e alta densidade tecnológica da indústria, que são o farmacêutico, o de tecnologias da informação, o do complexo industrial da saúde, o de químicos e o de máquinas e equipamentos. “Nos últimos 10 anos nós quase que dobramos nossa produção científica e triplicamos e, em alguns casos, quintuplicamos nosso déficit da balança comercial em bilhões de dólares”, comparou.

Falando sobre o tema da mesa-redonda, Brito Cruz disse que a ciência e a tecnologia no Brasil têm o desafio de aumentar três tipos de impactos: social (ideias que afetam políticas públicas); econômico (ideias que criam empresas e aumentam sua competitividade e que geram novos setores industriais); e intelectual (ideias que criam mais ideias; que fazem a humanidade mais sábia e que são citadas na literatura). Segundo o diretor científico da Fapesp, apesar do crescente aumento de sua produção científica, o Brasil ainda precisa melhorar muito na questão do impacto intelectual. “O país não tem feito descobertas e invenções do mesmo nível dos achados da estrutura e existência do DNA e do Big-Bang ou da criação do transistor, por exemplo”

De acordo com Brito Cruz, para aumentar o impacto intelectual da ciência feita no Brasil, o país precisa adotar algumas medidas e vencer alguns desafios. “Um deles, é proteger o tempo do pesquisador contra tarefas extra-científicas, como a burocracia dos projetos de pesquisa”, disse. Segundo ele, em outros países, os pesquisadores tem apoio institucional, funcionários das instituições que se encarregam da parte administrativa e burocrática dos projetos. Para o diretor científico da Fapesp, o Brasil também precisa desenvolver cooperação internacional e aumentar a visibilidade e impacto de revistas brasileiras, além de estimular a qualidade e o mérito e valorizar mais as citações de cada artigo em vez do fator de impacto da revista na qual sai publicado.

Guimarães, da Capes, por sua vez, ressaltou os impactos e conquistas da ciência brasileira nos últimos 60 anos, como o fato de o Brasil ter se tornado autossuficiente em alimentos. Segundo ele, muito disso se deveu a criação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Guimarães citou ainda, como exemplo de impactos positivos do conhecimento gerado no país, a indústria aeronáutica, o sistema bancário nacional, com o melhor sistema de automação no mundo, e a Petrobrás, com suas tecnologias para exploração de petróleo em águas profundas. “Tiramos leite de pedra nesses 60 anos”, disse.

O presidente da Capes não esqueceu, no entanto, alguns aspectos e desafios que precisam ser vencidos. “Na questão do impacto social temos dois exemplos dramáticos e negativos”, declarou. “Um deles é a educação, onde há um nó. Ficamos para trás em comparação a outros países. Outro é a área jurídica. Existe país mais injusto que o Brasil? Injusto do ponto de vista da justiça, propriamente dita? Esses dois segmentos não acompanharam os avanços de outros áreas. Há alguma coisa errada.”

(Evanildo da Silveira)