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Idioma inglês, educação e orçamento são os desafios da ciência, diz Prêmio Nobel de Química 2011

Daniel Shechtman encantou centenas de estudantes, cientistas, pesquisadores em apresentação na 64ª Reunião Anual da SBPC sobre sua trajetória na descoberta dos quasicristais.

Daniel Shechtman encantou
centenas de estudantes, cientistas, pesquisadores em apresentação na 64ª
Reunião Anual da SBPC sobre sua trajetória na descoberta dos quasicristais.

A limitação do idioma inglês, a
qualidade da educação e a manutenção do orçamento para pesquisa são os três
gargalos da área científica, principalmente de países em desenvolvimento –
disse o cientista israelense Daniel Shechtman, ganhador do prêmio Nobel de
Química em 2011.

 

Ele concedeu entrevista coletiva
à imprensa ontem (24) após ministrar conferência na 64ª Reunião Anual da
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), na Universidade
Federal do Maranhão (UFMA), em São Luís.

 

Segundo Shechtman, a língua do
mundo científico é o inglês e nem todos os cientistas falam esse idioma.
“A ciência é universal, mas o idioma pode ser um obstáculo”, disse
o cientista, que ganhou o Prêmio Nobel de Química no ano passado pela
descoberta dos quasicristais em 1982, teoria que alterou a forma como os
químicos entendem a matéria sólida e abriu espaço para pesquisas do diesel
até materiais para panelas.

 

No caso da educação, ele disse
ser necessário começar a investir nessa área muito cedo e com alta qualidade
nos países latino-americanos. Além disso, as crianças devem ter acesso à ciência
na pré-escola. Em países desenvolvidos, ele exemplificou, as crianças com
seis anos de idade já sabem ler.

 

O Nobel de Química de 2011
acrescentou que o orçamento para pesquisa “deve ter um fluxo
contínuo”. Pois sem ele “não há ciência”. Segundo Shechtman,
os cientistas também devem contribuir e pautar o governo sobre as prioridades
da área. 

 

Futuro da
química verde –
 Respondendo
à imprensa sobre o futuro da química no Brasil, ele declarou que “não há
como prever”. Acrescentou, porém, que em um país rico em biodiversidade,
como é o Brasil que possui a Amazônia, a ciência biológica precisa ter forte
investimento em pesquisa e trabalhar em parceria com o setor da
química.  Para tanto, o cientista israelense disse, essa medida requer
tempo e educação com alta qualidade.

 

“Se não for assim o Brasil
vai continuar fazendo, mas não conquistará a liderança”, disse. Ele
considera fundamental para a ciência a comunicação e a troca de experiência
com outros países.

 

Nascido em 1941 em Tel Aviv, o
Nobel de Química de 2011 é professor dos departamentos de Engenharia de
Materiais do Instituto Tecnológico de Haifa, em Israel, e de Ciências dos
Materiais da Universidade Estatal de Iowa, nos Estados Unidos.

 

Gravata – Antes
de conceder coletiva à imprensa, o Prêmio Nobel de Química de 2011 ministrou
conferência no auditório principal da UFMA. Bem humorado, ele chamou a
atenção pela sua gravata azul marinho com desenhos de elementos químicos.

 

Trajetória – Na
Reunião Anual da SBPC em São Luís, Shechtman encantou a plateia composta de
centenas de estudantes, cientistas, pesquisadores, dentre outros, ao falar
sobre sua trajetória na descoberta dos quasicristais. Ele lembrou ter sido
rejeitado pelos próprios colegas e por eminentes cientistas e chegou a ser
retirado do grupo de pesquisa quando apresentou seu “paper” sobre a
teoria.

 

Shechtman, que considera a
perseverança e tenacidade elementos importantes para qualquer jovem
cientista, publicou seu trabalho na revista Physical Review Letters em 1984.

 

Na conferência, o cientista
israelense explicou como foi a descoberta dos quasicristais. Antes da
conclusão de sua teoria, lembrou ele, os cientistas acreditavam que a matéria
sólida era sempre de átomos organizados em uma ordem definida que podia ser
repetida diversas vezes para formar uma estrutura de cristal. Sua teoria
revelou, porém, que os átomos não possuíam apenas um arranjo que podia ser
repetido. Ao analisar as imagens de um material ele descobriu um formato
inexistente até então.

 

(Viviane Monteiro – Jornal da
Ciência)