A obra reúne ensaios escritos nas últimas duas décadas e atualizados para a nova publicação

Todo conhecimento, ainda que não tenha uma aplicação imediata, é útil. Essa é uma das premissas do novo livro do linguista e poeta Carlos Vogt, A utilidade do conhecimento, lançado na terça-feira, 28/04, na Livraria da Vila, em São Paulo.
Todo conhecimento, ainda que não tenha uma aplicação imediata, é útil. Essa é uma das premissas do novo livro do linguista e poeta Carlos Vogt, A utilidade do conhecimento, lançado na terça-feira, 28/04, na Livraria da Vila, em São Paulo.
A obra reúne ensaios escritos nas últimas duas décadas e atualizados para a nova publicação. “Os textos, como estão no livro, são inéditos e têm em comum reflexões sobre a importância do conhecimento a partir de experiências acumuladas ao longo da minha trajetória na divulgação científica e de questões da contemporaneidade”, explicou à Agência FAPESP.
Vogt ocupou a presidência da FAPESP entre 2002 e 2007. Atualmente é professor titular de Semântica Linguística e coordenador do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e presidente da Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp). Também é diretor de redação da revista eletrônica ComCiência e autor de diversos livros, como Poesias Reunidas (2008), Ilhas Brasil (2002) e A Imprensa em Questão (1997).
O livro traz ainda artigos científicos de Vogt que, a exemplo dos ensaios, proporcionam ao leitor estabelecer relações entre o conhecimento e princípios da ética – para o autor, a base da utilidade de todo conhecimento.
“Não há conhecimento inútil, pois o desejo de conhecer é inerente ao ser humano e a satisfação desse desejo representa por si só uma utilidade. Trata-se de uma necessidade ética a de conhecer”, disse.
Vogt estabelece ainda distinções entre a utilidade do conhecimento e seu utilitarismo. “É preciso compreender em que sentido o conhecimento utilitário das economias globalizadas na sociedade do conhecimento difere da utilidade ética constitutiva de todo conhecimento”, destaca.
Para o autor, essa diferença está relacionada à demanda pela transformação do conhecimento em riqueza e por padrões de produção e de consumo que atendam às necessidades das populações crescentes, preservando a qualidade de vida e o equilíbrio do meio ambiente em todo o planeta.
Ao refletir sobre como transformar o conhecimento em valor econômico e social, Vogt destaca dois desafios: um ecológico e outro tecnológico.
“Para enfrentar essas questões, próprias do que se convencionou chamar de economia ou sociedade do conhecimento, é necessário estar preparado para cumprir todo um ciclo de evoluções e de transformações do conhecimento, que vai da pesquisa básica, produzida nas universidades e instituições afins, passando pela pesquisa aplicada e resultando em inovação tecnológica capaz de agregar valor comercial”, escreveu.
Nesse cenário, o autor afirma que é preciso não perder de vista “os fundamentos éticos, estéticos e sociais sobre os quais se assenta a própria possibilidade do conhecimento e de seus avanços”.
Dessa forma, também a utilidade prática do conhecimento carrega consigo um viés ético. “O conhecimento é utilitário não porque tenha finalidade prática, mas por agregar valor aos produtos dele derivados. A comercialização do produto do conhecimento visa também a felicidade do outro, pela satisfação e pelo prazer, agora, do consumidor”.
As reflexões trazidas pelo livro vão além e tratam de temas como urbanização, ecologia, clonagem, tecnologias da informação e da comunicação e transformações proporcionadas pela física, em linguagem coloquial e muitas vezes poética.
No capítulo “O salto cântico da física”, é apresentada uma série de depoimentos de grandes nomes da física brasileira, como César Lattes, Mario Schenberg, Oscar Sala e Bernhard Gross, colhidos em entrevistas publicadas pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e pelos jornalistas Mariluce Moura e Neldson Marcolin na revista Pesquisa FAPESP, organizados por Vogt como um diálogo entre os entrevistados.
O autor também aborda episódios de sua memória afetiva, como sua infância na cidade de Sales de Oliveira, no interior paulista, e o papel da FAPESP na sua formação acadêmica, iniciado com a concessão de uma bolsa de mestrado na década de 1960.
“Foi desse modo que (…) a FAPESP cruzou definitivamente o caminho das decisões que marcaram os rumos da minha vida intelectual e acadêmica. A inscrição da FAPESP em minha história de vida, pelos diferentes papéis que foram sendo constituídos, aos poucos excedeu sua importância profissional para instalar-se definitivamente como referência ética, afetiva e intelectual no universo de valores das relações pessoais e institucionais que, com ela, aprendi a prezar e a respeitar”, conta.
A utilidade do conhecimento 
Autor: Carlos Vogt 
Lançamento: 2015 
Preço: R$ 69 
Páginas: 352