69ª Reunião Anual da SBPC tem início com discursos em defesa dos investimentos em CT&I

A abertura do encontro pautou-se pela defesa do reconhecimento da ciência como via para o desenvolvimento e a necessidade de o País voltar a investir na pesquisa e na busca da diversidade do conhecimento

O maior evento de ciência e tecnologia da América Latina abriu as portas à comunidade científica e educacional nesse domingo, 16, no campus da Pampulha, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Começou a 69ª Reunião Anual da SBPC. Com o tema “Inovação – Diversidade – Transformações”, a abertura do evento fez jus à linha mestra do encontro, com discursos valorizando a multiplicidade dos arranjos científicos e, especialmente, a necessidade de um novo olhar do governo sobre a importância dos investimentos em CT&I para que o Brasil consiga desenvolver-se socialmente e economicamente.

Esta é a quinta vez que a UFMG abriga a reunião anual da SBPC; oitava em que o encontro ocorre em Minas Gerais. “Receber a SBPC mais uma vez e na ocasião dos 90 anos da UFMG é um prazer para nós”, celebrou o reitor Jaime Arturo Ramírez. E a recepção foi calorosa, iniciada por um vídeo comemorativo das nove décadas de existência da federal mineira, seguido pelo eclético repertório do Ars Nova – Coral da UFMG, um dos maiores expoentes do canto coral brasileiro.

Junto à celebração pela abertura dos trabalhos – que se seguirão até o dia 22 de julho, com mais de 240 atividades em toda a programação –, os responsáveis pelo evento também aproveitaram a solenidade para reforçar a necessidade urgente de uma política nacional de valorização da ciência brasileira.

“Nenhuma sociedade pode viver sem universidades”

A famosa citação do antropólogo e educador Darcy Ribeiro foi rememorada pela vice-reitora da UFMG e coordenadora regional da 69ª Reunião Anual, Sandra Goulart Almeida. Na conjuntura atual política e econômica, o pensamento de Ribeiro ganha ainda maior relevância. “A universidade é, antes de tudo, um meio de construir uma sociedade mais justa e equânime”, frisou a vice-reitora da UFMG.

Os cortes orçamentários promovidos pelo governo federal, que têm colocado em xeque o futuro da pesquisa científica brasileira, foram criticados pela presidenta da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), Tamara Naiz, em um discurso inflamado. “Para nós da ANPG, esse governo é incompetente, ilegítimo e corrupto”, protestou Tamara Naiz, questionando a legitimidade das ações praticadas pela gestão atual.

Estrangulamento dos recursos

Ferrenha defensora da proteção dos recursos destinados à CT&I, a presidente da SBPC, Helena Nader, lamentou o estado de penúria em que se encontram as universidades por conta da falta de investimentos. “Nossa luta continua na reposição do orçamento pelo menos nos padrões de 2013”, afirmou Helena Nader, defendendo ainda uma mobilização para que a Emenda Constitucional 95 – que congelou os gastos públicos pelos próximos 20 anos – seja revogada.

Esta bandeira também foi defendida pelo reitor da UFMG, Jaime Artur Ramírez, que fez duras críticas ao modelo de gestão adotado pelo governo atual. Para Ramírez, é inaceitável que os recursos para CT&I e Educação sejam restringidos, colocando em risco o próprio desenvolvimento do país e ampliando a exclusão social. “O nosso país atravessa um momento crítico da nossa história que requer reflexão: Qual o país nós queremos para o futuro? Qual país deixaremos para as gerações futuras?”, questionou o reitor.

Em períodos de turbulências que afetam a qualidade e o desenvolvimento do ensino, natural a lembrança de Darcy Ribeiro, citado uma segunda vez por Ramírez:  “Só há duas opções nesta vida: se resignar ou se indignar. E eu não vou me resignar nunca”, disse o saudoso antropólogo. “E eu quero dizer que a UFMG sempre vai se indignar”, emendou o reitor, dando o tom da luta travada hoje pelas universidades no cenário político e econômico do País.

Presenças

Compuseram a mesa o reitor da UFMG, Jaime Ramírez, a presidente da SBPC, Helena Nader, a vice-reitora da UFMG, Sandra Goulart Almeida, o secretário-executivo do Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Elton Santa Fé Zacarias, representando o ministro Gilberto Kassab, o diretor geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha, Almirante de Esquadra Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Junior, a presidente do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), Maria Zaira Turchi, o secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do MCTIC, Jailson Bittencourt de Andrade, o presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Luiz Davidovich, o presidente do CNPq, Mário Borges Neto, e a presidente da Associação Nacional de Pós-graduandos (ANPG), Tamara Naiz.

Mariana Mazza, especial para o JC