Aprender além dos muros da escola

“A luta pelo direito à educação, hoje, passa não só pela garantia da permanência na escola, mas também pelo direito a uma educação integral”, destaca a professora Lúcia Helena Alvarez Leite, em debate sobre educação integral na 69ª Reunião Anual da SBPC, realizada na última semana no campus da UFMG, em Belo Horizonte

Conforme está descrito no portal do Teia (Territórios, Educação Integral e Cidadania), núcleo de estudos da Faculdade de Educação da UFMG, “na perspectiva de uma educação que seja integral, a educação é parte fundante de um projeto político de sociedade que tem como propósito a garantia de todo direito a aprender e a desenvolver-se como cidadão ativo. Dessa forma, a educação não pode estar apenas fechada nos muros da escola, sendo necessária uma articulação com outros espaços de formação – família, bairro, organizações sociais – criando, assim, redes de aprendizagem e territórios educativos”. O Teia é coordenado pela professora Lúcia Helena Alvarez Leite que compôs a mesa sobre educação integral na Reunião Anual da SBPC, no campus da UFMG, em Belo Horizonte.

De acordo com ela, a escola no Brasil ainda é uma redoma de vidro, sem contato com a sociedade. Isso reflete uma perspectiva colonial muito presente e que foi construída sob orientação eurocêntrica que excluía os povos indígenas e as nações africanas. Nesse paradigma, a escola tem o papel de civilizar e salvar indígenas e negros. “Nós defendemos uma escola ‘decolonial’, o que significa um projeto educacional comprometido com a liberdade”, afirmou.

Uma das características da escola colonial é ver a diversidade como causadora do fracasso escolar. O sucesso depende unicamente do esforço do indivíduo, assim como o fracasso é de responsabilidade dele. Esses dois parâmetros são medidos por avaliações externas, pela adequação ou não a currículos unificados. “A despeito de assumir um discurso universalista, de ser uma escola para todos, esse modelo é autoritário e excludente”, enfatizou Lúcia Leite. Uma escola integral recusa o universalismo e a subalternização, ao invés disso, abraça a diversidade.

Para a pesquisadora mineira é possível pensar a educação de outras formas. “Temos que pensar o indivíduo em sua integralidade, ir além das atividades puramente intelectuais”, disse. Por isso ela defende uma educação para além dos muros da escola, que inclua a comunidade vizinha, os territórios da cidade e os saberes populares.

Isso se traduz, por exemplo, em autonomia para construir os currículos escolares e as formas de avaliação, como defendeu a coordenadora do Centro de Referências em Educação Integral, Júlia Dietrich, também presente à mesa. O Centro é uma iniciativa da Associação Cidade Escola Aprendiz, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), que tem como objetivo promover a pesquisa, o desenvolvimento, o aprimoramento e a difusão gratuita de referências e estratégias que contribuam para a formulação de políticas públicas de educação integral no Brasil. “Nosso modelo escolar é fragmentado e pobre em interações. Temos que repensar os tempos, os agentes, os espaços e os saberes da escola”, disse. Para ela, o currículo deve ser um projeto político-pedagógico, daí a necessária participação dos estudantes e professores. “A realidade da escola tem que ser construída no cotidiano das pessoas que estão na escola, ou seja, localmente”, finaliza.

Patricia Mariuzzo, para o Jornal da Ciência