“As universidades brasileiras não têm autonomia para gerir seu próprio cotidiano”, afirma ex-reitor da UFBA

Em fala na Reunião Regional da SBPC no Piauí, Naomar de Almeida Filho refletiu sobre a necessidade de uma remodelação educacional, atrelada à sociedade

whatsapp-image-2023-03-14-at-09-06-31Autonomia de gestão às universidades e reformas educacionais que acompanhem as mudanças da sociedade, estes são os caminhos prioritários para a evolução da Educação no País. Quem afirma é o professor Naomar de Almeida Filho, ex-reitor da Universidade Federal da Bahia (UFSB) e da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB).

Convidado pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Almeida Filho integrou a programação da Reunião Regional da SBPC no Piauí, realizada nesta semana, em Teresina e em Campo Maior. O evento contou com a apresentação e mediação do presidente da SBPC, Renato Janine Ribeiro.

Em sua fala, Naomar destacou que o País ainda carrega elementos de seu passado colonial na estrutura da educação, como um elitismo e um conservadorismo, e cabe à Nação reconhecer tais elementos em prol de uma educação mais inclusiva e diversa.

O pesquisador também afirmou que a autonomia das instituições parte mais no campo das ideias, mas precisa chegar aos processos de funcionamento das entidades.

“As universidades brasileiras não têm autonomia para gerir seu próprio cotidiano. As federais, numa submissão extrema ao Estado, não têm autonomia nos meios, não rege patrimônio, não rege o [seu] pessoal, não rege insumos, processos, operações, e nem funcionamento. E a sua avaliação ainda é externa, e pouco transparente”, alertou.

Outro ponto criticado por Almeida Filho é o que chamou de submissão às corporações, onde as reformas curriculares são pensadas mais no mercado e menos na entidade como um todo.

“Eu nunca entendi por que é que a universidade, e principalmente a universidade pública, se submete às corporações, que são feitas para regular as práticas profissionais, não é? É um ‘curriculismo’, uma reificação de reformas. E toda vez que se fala em reforma, só se pensa em reforma de currículo, não se pensa que a instituição é um todo integrado. E aí temos sempre currículos que são grades fechadas, e não composições flexíveis.”

Para o especialista, é urgente que o fazer educacional passe pela sociedade, de modo a aproximar, consequentemente, pessoas, Ciência e Educação:

“A gente tem que abrir [as universidades. Eu sei que tem dificuldades – até porque toda a nossa história foi de muita resistência institucional – mas temos uma dificuldade imensa de conversar com a sociedade real sobre o que fazemos, pois os currículos, as decisões, as vagas, o que as universidades fazem, tudo ainda decidido internamente.”

Para o presidente da SBPC, Renato Janine Ribeiro, é necessário que a sociedade reflita cada vez mais sobre democracia e liberdade dentro das universidades, para entender quais espaços ela deve ocupar nesta relação. “No Brasil, como na América Latina, se emplacou essa ideia de que o elemento democrático na universidade está associado à eleição por ela do seu reitor. Mas a universidade escolher o seu reitor autonomamente, fechada sobre si, não quer dizer democracia, porque a democracia é o poder do povo, a universidade não é um demos, não é um povo fechado sobre si. Então, a reflexão é sobre quais são os elementos externos que poderiam participar [nos processos das universidades]. E aí nós temos uma discussão.”

A palestra do professor Naomar de Almeida Filho está disponível na íntegra no canal do YouTube da SBPC.

Rafael Revadam – Jornal da Ciência