Bate-Papo: A democracia no Brasil e as visões dos brasileiros

Convidado do segundo “Bate-Papo” da 73ª Reunião Anual da SBPC, cientista político chama a atenção para como tem se alterado a visão dos brasileiros sobre a democracia, assim como para as mudanças conceituais e no perfil dos golpes contra a democracia

21.07 - Bate-papo A DEMOCRACIA NO BRASIL E AS VISÕES DOS BRASILEIROS

Leonardo Avritzer foi o convidado do “Bate-Papo: A democracia no Brasil e as visões dos brasileiros”, realizado na terça-feira (20/7) às 20 horas, na grade de programação da 73ª Reunião Anual (RA) da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). O cientista político é professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e coordenador do Instituto Democracia e da Democratização da Comunicação (IDDC), um dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT). Uma das novidades da 73ª RA, a segunda seção Bate-Papo teve como comentaristas o presidente da SBPC, o físico Ildeu de Castro Moreira, e o presidente eleito da entidade, o filósofo Renato Janine Ribeiro, que tomará posse nesta sexta-feira, 23.

Avritzer apresentou dados extraídos de pesquisas de opinião pública para seu estudo “Regressão democrática no Brasil”, elaborado para a 73ª RA. Segundo ele, a crise da democracia não é só no Brasil, mas internacional, afetando inclusive países com tradição democrática mais longa e estável, como os Estados Unidos e o Reino Unido.

“Meu ponto é que essa crise é diferente do que na verdade é um golpe de Estado”, afirmou. Ele chamou a atenção para uma mudança no perfil dos golpes contra a democracia que, até recentemente, partiam de três “ideias”: de que seriam súbitos; implicariam na redefinição completa da ordem político-legal e que não seriam reversíveis a curto prazo.

“O que os autores dizem é que a crise da democracia hoje é interna”, explicou. Avritzer deu como exemplo o ex-presidente Donald Trump (EUA) e os atuais Boris Johnson (Inglaterra), Rodrigo Duterte (Filipinas) e o brasileiro Jair Bolsonaro, todos eleitos democraticamente pelo voto, que vêm provocando uma “erosão interna” das instituições democráticas em seus países.

O cientista político fez um retrospecto dos momentos de erosão democrática no Brasil e apontou as mudanças na estrutura de confiança da sociedade brasileira, destacando aquelas representadas pelo movimento bolsonarista.

À pergunta de Ribeiro sobre a possibilidade da eleição do atual presidente para um segundo mandato, Avritzer respondeu que a persistência do sentimento antipolítica pode ainda favorecer a sua reeleição em 2022. Para ele, este fator é o único que persiste entre os demais que ajudaram a elegê-lo em 2018 – religião, fim da corrupção, facada, etc.

Moreira inquiriu sobre o sentido da palavra “democracia” para os brasileiros, já que o termo pode ter conotações variadas. O presidente da SBPC destacou a importância dos estudos de Avritzer e seu grupo sobre a variação histórica das visões e percepções dos brasileiros sobre o tema. Para ele a democracia não deve ser reduzida apenas aos processos eleitorais, mas permear as instituições e a forma de organização mais ampla da sociedade. Por fim, perguntou que estratégia se deve seguir para fortalecer a democracia no Brasil. Avritzer respondeu, em resumo, que apesar da baixa confiança nas instituições, algumas – como o Congresso Nacional – ainda estão agindo em favor da democracia, em que pese decisões que vão contra a vontade popular, como o aumento do valor do fundo partidário. Um dado relevante para o fortalecimento da democracia, na visão dele, é que neste ano os brasileiros estão indo às ruas se manifestar contra as políticas do governo.

Palestrante e comentaristas concordaram com a importância de se desenvolver uma educação, uma cultura e práticas sociais que a favoreçam e exerçam a democracia, um valor sempre muito caro para a SBPC.

Assista ao bate-papo na íntegra, pelo canal da SBPC no Youtube.

Jornal da Ciência