Boas práticas no desenvolvimento da pesquisa melhora a qualidade e a aumenta a credibilidade da ciência, afirmam pesquisadores

Convidados discutem rigor científico, transparência, reprodutibilidade e método in vitro na 2ª edição do Bate-Papo com Ciência da SBPC, realizada nessa quinta-feira (9)

 

09-12-2o-bate-papoAs boas práticas na pesquisa científica são fundamentais para a integridade e para o desenvolvimento da ciência. Elas garantem não apenas a qualidade, mas também a conformidade com os princípios éticos e a proteção contra fraudes. A discussão sobre a integridade e o rigor na pesquisa vem ganhando atenção crescente entre as entidades científicas, e foi o tema escolhido para a 2.ª edição do “Bate-Papo com Ciência”, promovido pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). O evento foi realizado nessa quinta-feira (9), das 14h às 15h30, com transmissão pelo canal da SBPC no YouTube.

Coordenado por José Mauro Granjeiro, professor associado da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal Fluminense (UFF) e especialista sênior em Metrologia e Qualidade do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), o encontro teve como convidado o pesquisador João Barroso, da European Commission, Joint Research Centre do European Union Reference Laboratory for Alternatives to Animal Testing (EURL ECVAM).

Com o título “Boas práticas no desenvolvimento, validação e utilização de Novas Abordagens Metodológicas (NAMs)”, o evento discutiu a necessidade da transparência dos dados da pesquisa para que os leitores possam ter acesso às evidências científicas. Segundo os pesquisadores, isso é essencial não apenas para a divulgação, mas para a própria validação científica. “A ciência só existe se for possível reproduzi-la”, apontou Granjeiro. Para ele, a reprodutibilidade é um dos pilares fundamentais da pesquisa científica, garantindo que seus resultados são confiáveis e transparentes.

No entanto, isso nem sempre acontece. De acordo com Barroso, uma pesquisa publicada na revista Nature em 2016 revelou que 70% dos pesquisadores tentou e não conseguiu reproduzir a experiência de outro cientista. “E mais grave: mais da metade não conseguiu reproduzir seus próprios experimentos”, declarou.

Boas práticas de método in vitro

Para aumentar a confiança na validade científica de novos métodos in vitro (ensaio realizado fora de um organismo vivo que envolve células, tecidos ou órgãos isolados) a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) — disponibilizou o documento Boas Práticas de Método In Vitro (Good In Vitro Method Practices — GIVIMP). A publicação visa promover a confiança em processos in vitro para testes em animais, assim como os métodos de teste e as condições sob as quais os dados são gerados, que devem aderir a padrões definidos para garantir que os resultados sejam rigorosos e reproduzíveis.

“A aplicação da GIVIMP durante o desenvolvimento do método in vitro melhora a qualidade e a confiabilidade do processo e de seus dados resultantes, contribuindo para a credibilidade dos resultados científicos. Por isso é muito importante que esteja presente durante todo o ciclo de vida do método: desde o seu desenvolvimento inicial até a sua utilização ao nível regulatório”, explicou Barroso.

Sem essa certificação, corre-se o risco de que as avaliações sejam relegadas a uma “interpretação individual” e, portanto, mais subjetiva — o que aumenta a incerteza sobre a precisão dos dados. “Para haver confiança nesses métodos é fundamental reduzir as incertezas nas precisões fundamentadas in vitro aplicando todas as boas práticas científicas, técnicas, e de qualidade necessárias, desde o desenvolvimento até a implementação para uso regulatório”, afirmou Granjeiro.

Atualmente, especialmente em meio a uma pandemia de covid-19 e frente a tantas fake news, a confiança do público na área da saúde e na pesquisa científica é baseada na credibilidade e na transparência do processo científico. Assim, é essencial implementar um sistema seguro e confiável, que possa ser implantado em qualquer ambiente de pesquisa e garantir a rastreabilidade de suas atividades “centrais”. Tal sistema deve mitigar o risco de fraudes e má conduta e garantir que os dados não sejam alterados, manipulados ou falsificados. Isso pode ajudar a aumentar a confiança nos dados e nas evidências resultantes, tanto pela comunidade científica quanto pelo público em geral.

“Aplicar as boas práticas de método in vitro durante o desenvolvimento da pesquisa é essencial para melhorar a reprodutibilidade e confiabilidade dos métodos e dos resultados que se obtém”, finaliza Barroso.

Assista aqui ao 2.º Bate-Papo com Ciência: Boas práticas no desenvolvimento, validação e utilização de Novas Abordagens Metodológicas (NAMs)

Jornal da Ciência