Brasília instala terceiro Tesourômetro do País

Contador das perdas orçamentárias nas áreas de CT&I e Educação ficará em funcionamento até o dia 9 de outubro na capital federal. No lançamento, entidades cobraram publicamente a necessidade de recompor os recursos da área e derrubar a emenda do teto de gastos

As universidades brasileiras estão perdendo, por hora, R$ 500 mil de investimentos em ciência, tecnologia e inovação (CT&I) e educação por conta dos cortes orçamentários. Desde 2015, já são mais de R$ 11 bilhões que deixaram de ser investidos. E, infelizmente, a velocidade dessa perda está aumentando. Para expor à sociedade o tamanho do corte que atinge o sistema de pesquisa e desenvolvimento (P&D) brasileiro, entidades da comunidade acadêmica se uniram para lançar mais uma unidade do “Tesourômetro”, desta vez na capital federal.

O terceiro contador das perdas orçamentárias está instalado na pista da 608 norte, no Plano Piloto, e funcionará até o dia 9 de outubro. O Tesourômetro faz parte da campanha #ConhecimentoSemCortes, conduzido pela Associação dos Docentes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (AdUFRJ), Associação dos Professores da Universidade Federal de Minas Gerais (ApuBH), Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB) e Sindicato dos Trabalhadores em Educação da UFRJ (SINTUFRJ). As atividades de mobilização da sociedade para a crise orçamentária na área de CT&I e educação conta também com a parceira da SBPC.

No lançamento do novo Tesourômetro, realizado nessa quarta-feira, 9, no auditório da ADUnB, pesquisadores, estudantes e professores se uniram na necessidade de sensibilizar a sociedade sobre o custo para o País da regressão em P&D. “A ideia é materializar como é o impacto cotidiano das instituições, a fim de envolver a sociedade. Afinal, as universidades são um patrimônio da sociedade”, afirmou o presidente da ADUnB, Virgílio Arraes.

Márcia Barbosa, diretora da Academia Brasileira de Ciências (ABC), lembrou que não é possível avançar socialmente sem investir no desenvolvimento científico. “País rico é país com ciência e tecnologia, porque é impossível vencer a pobreza sem C&T.” Ela contou que sua avó, que era costureira, passou por muitas dificuldades, mas jamais vendeu sua máquina de costura, o ganha-pão. “Este governo está destruindo as nossas máquinas de costura. Está destruindo os nossos meios de buscar a ciência e a tecnologia”, protestou.

Prioridades e Mobilização

A luta pela sobrevivência das universidades em meio à crise financeira exige uma participação ativa da comunidade acadêmica. “Não é só uma defesa corporativa o que estamos fazendo; é uma defesa pela sociedade”, lembrou Ildeu Moreira, presidente da SBPC. “O quadro hoje exige que nós saiamos do muro. A comunidade científica não pode ficar calada ou teremos o ônus de não conseguir olhar na cara dos nossos estudantes, que estarão em universidades em frangalhos.”

A presidente da ANPG, Tamara Naiz, lamentou o futuro incerto da educação brasileira com o arrocho, que compromete o pagamento das bolsas de pesquisa. “As bolsas são mais que um direito. Elas são uma necessidade, ainda mais em um país que passa por tantos problemas”, afirmou. “O nosso futuro e do Brasil estão sendo desconstruídos.”

O professor do departamento de Economia da UFRJ, Carlos Frederico Leão Rocha, que coordenou a equipe de cálculos para o Tesourômetro, destacou que o problema das contas públicas brasileiras não é a falta de recursos, mas as prioridades do governo federal. “Fiz uma continha rápida e achei 240 voos ilegais do governo federal neste ano. Isso corresponde a cerca de 500 a 1000 bolsas de iniciação científica. Ou seja, é uma questão do que é prioridade.”

O vice-presidente da Federação de Sindicatos de Professores e Professoras de Instituições Federais de Ensino Superior e de Ensino Técnico e Tecnológico (Proifes), Flávio Silva, criticou esta falta de estratégica de futuro do governo federal. “O Brasil está indo na contramão. Enquanto o mundo investe em ciência, nós estamos deixando de investir”, afirmou. Na visão do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes), o início da crise orçamentária é a Emenda Constitucional 95, que criou o teto de gastos e era chamada de “PEC do Fim do Mundo” durante a tramitação no Congresso Nacional. “Precisamos destruir essa PEC do Fim do Mundo porque é ela que está por trás desses cortes orçamentários”, frisou o diretor Epitácio Macário.

Para o chefe de gabinete da Reitoria da UnB, Paulo César Marques da Silva, é muito triste que a comunidade acadêmica tenha que lutar pela subsistência ao invés de poder se dedicar ao avanço do País. “O tempo que nós podíamos estar usando nos laboratórios, nas pesquisas, temos que desprender essa energia nessa luta pela sobrevivência. Por isso, não basta que nós, da comunidade interna, façamos a mobilização. É preciso que a sociedade compreenda o drama que estamos vivendo.”

 Campanha

A campanha #ConhecimentoSemCortes continua nas universidades e entidades científicas e também na Internet. As informações sobre as perdas orçamentárias podem ser consultadas no site http://www.conhecimentosemcortes.org.br/. No portal da campanha também é possível assinar a petição online em defesa dos recursos para CT&I e educação e pelo fim da Emenda 95 do teto de gastos.

Mariana Mazza – especial para o Jornal da Ciência