“Com investimento na universidade, a gente pode fazer muita coisa”, afirma Ariane Leite do Nascimento

Graduanda em Ciências Biológicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), pesquisadora é uma das vencedoras da 4ª edição do Prêmio Carolina Bori na categoria “Meninas na Ciência”, na área de Biológicas e Saúde com projeto de divulgação científica

4º Premio Carolina Bori - ArianeRealizado pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), nesta 4ª edição, a entidade premia as estudantes do ensino médio e graduação cujas pesquisas de iniciação científica demonstraram criatividade, boa aplicação do método científico e potencial de contribuição com a ciência no futuro.

Paulistana, 22 anos, Nascimento é graduanda em Ciências Biológicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Ela conta que seu interesse pela ciência nasceu do “encantamento pela natureza”. “Eu lembro desde muito pequena querer fazer biologia. A palavra biologia e a consciência de que existe a ciência veio mais tarde”, explicou. E continuou: “Minha família viaja muito e desde criança, viajando pelo Brasil, eu fui entrando em contato com diversos projetos ambientais como o Tamar, o Baleia Jubarte, que juntou com minha preocupação com os animais. Acho que eu nasci com isso e fui entendendo que poderia trabalhar com isso.”

Iniciado durante a pandemia de covid-19 em 2020, o “Botânica Sempre Viva e Em Aula” produziu materiais didáticos virtuais sobre Botânica voltados para o Ensino Médio com a colaboração de professoras e professores da graduação em Biologia da UFBA e de escolas em diferentes municípios da Bahia. O “Em Aula” é uma vertente de um projeto maior e anterior, o “Botânica Sempre Viva”, direcionado à divulgação de curiosidades botânicas no geral e também da diversidade florística do Parque Nacional de Mucugê (Chapada Diamantina), local de disciplina em campo.

O foco do “Botânica Sempre Viva”, explica Nascimento, é mitigar os efeitos da chamada “cegueira-botânica”, termo que define a dificuldade na percepção sobre a importância das plantas para o ecossistema e para a humanidade. “Vimos que uma das raízes para a cegueira-botânica está na educação, devido à forma com que a disciplina é ensinada desde o fundamental: superficial, excessivamente teórica, com um vocabulário extremamente novo para os alunos, causando desinteresse tanto por parte dos estudantes quanto dos professores.”

Sob orientação da professora Maria Luiza Silveira de Carvalho, o “Em Aula” foi idealizado de forma coletiva e virtual, ficando a cargo de Ariane Nascimento a parte gráfica e artística, a elaboração do site, os posts e divulgação nas redes sociais do conteúdo educativo.

A premiada conta que identificou obstáculos e desafios comuns aos estudantes, mas também encarou episódios de machismo explícito por parte de dois professores na graduação. “Me lembro de perceber um machismo mesmo, e todas as outras meninas da classe sentiram dessa forma também, da gente não ser ouvida ou ele não valorizar as respostas que a gente dava para as perguntas, não atendia todas as nossas perguntas, atendia mais às dos meninos. A gente falava as coisas e eles não levavam muito a sério, então a gente acaba ficando com uma dúvida sobre a nossa própria capacidade quando um professor, no lugar que ele está, não considera o que a gente fala”, explicou.

Sobre seus planos futuros, Ariane Nascimento diz que quer seguir carreira científica na pesquisa. “Por mais que o meu Norte seja a educação ambiental, me vejo fazendo pesquisa com o pessoal da área. É algo que me impulsiona, estar pesquisando coisas novas ou reformulando conceitos que a gente já tem agora”, declarou.

Ela definiu o Prêmio Carolina Bori como “importante incentivo” e “inspirador” para ela e outras meninas, e situou a premiação no contexto do ambiente de ensino e pesquisa no Brasil, frisando o valor do trabalho dos orientadores e o apoio da universidade e da Pró-Reitoria de Extensão (Proext) que financiou o projeto “Botânica Sempre Viva”.

”Quero deixar claro o quanto é possível a gente realizar coisas nesses espaços por mais que a gente tenha passado por um governo que claramente desvalorizava a ciência. De agora em diante, a gente vai ser mais ouvida e com investimento na universidade, a gente pode fazer muita, muita, muita coisa mesmo”, declarou.

A premiação

Nesta edição, a SBPC recebeu indicações de 446 candidatas de 223 instituições de todas as regiões do País. Foram 126 indicadas para a categoria Ensino Médio e 320 para a Graduação, categoria subdivida entre três grandes áreas do conhecimento: Biológicas e Saúde (126), Engenharias, Exatas e Ciências da Terra (103) e Humanidades (91).

Uma comissão julgadora escolheu nove vencedoras, sendo três do Ensino Médio e seis da Graduação. Também foram concedidas nove menções honrosas, sendo três do Ensino Médio e seis da Graduação.

A cerimônia de premiação, que contará com a participação das vencedoras, será realizada no dia 10 de fevereiro, no Auditório do CEUMA (Rua Maria Antônia, 294 – 3º andar – São Paulo/SP). A data do evento foi escolhida em celebração ao Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, instituído pela Unesco. O evento será aberto a todos e contará com transmissão pelo canal da SBPC no YouTube, a partir das 15h.

Janes Rocha – Jornal da Ciência