Crise econômica e política marcam posições na abertura da Reunião Anual da SBPC

Até o momento, o evento teve quase 5500 pessoas inscritas, oriundas de todos os estados da Federação. A expectativa é que, até o próximo sábado, dia 22, mais de 10 mil pessoas passem pela UFMG para participar da Reunião Anual

Críticas severas à atual política de estrangulamento das verbas à CT&I e homenagens a personalidades da ciência brasileira marcaram a cerimônia de abertura de 69ª Reunião Anual da SBPC neste domingo, 16 de julho. Mais de 650 pessoas participaram da solenidade, que também foi transmitida ao vivo pela internet e acompanhada por centenas de internautas.

O evento, considerado o maior da América Latina em divulgação científica, acontece esta semana, até o dia 22 de julho, no campus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Em seu discurso na abertura, a presidente da SBPC, Helena Nader, falou sobre o ano difícil que o Brasil está passando – “um período dramático”, que penalizou severamente a ciência e a educação.

Após três mandatos marcados pela luta incansável em prol da ciência brasileira, Nader entregará o cargo para o físico Ildeu de Castro Moreira no dia 20, próxima quinta feira. Ele afirmou que, a despeito da mudança de diretoria, as reivindicações pela recomposição dos recursos para CT&I continuarão: “Estamos vivendo uma crise gravíssima na ciência, tecnologia e educação e em outras políticas sociais no país. A assembleia geral que vai acontecer durante a Reunião vai dar orientações de encaminhamento mais geral para a SBPC, mas certamente o ponto central vai ser esse trabalho de briga incessante pelo recursos adequados para a ciência, tecnologia e educação”, disse. “Precisamos muito mobilizar as pessoas da comunidade científica das universidades e institutos de pesquisas do país todo. É um problema muito grave e precisamos de todos juntos para enfrentá-lo”, completou o futuro presidente.

Depoimentos

Esse também foi o sentimento do reitor da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), Luís Passoni, “Ficou claro nas falas de várias pessoas a importância de lutarmos não somente pela ciência ou pela universidade, mas pelo País. Nesse sentido, é fundamental o engajamento de todos os cientistas nessa luta. A Reunião da SBPC, nesse momento, pode ser um chamamento para participação política”, afirmou.

Flávio Franco Santana de Jesus, diretor de relações internacionais da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), afirmou que a Associação espera elaborar um manifesto por eleições diretas no Brasil ao fim da Reunião: “acreditamos que País tem um governo ilegítimo, que adota medidas contra a educação e a universidade. Nesse sentido, a Reunião da SBPC é uma oportunidade de mobilizar os pesquisadores politicamente”, declarou.

Para a secretária-geral da SBPC, Claudia Masini D’Avila-Levy, a semana da Reunião Anual é um momento para definir a atuação da comunidade científica em busca de um Brasil melhor. “Esse cenário nacional que estamos vivendo é grave e exige um posicionamento forte das instituições. Eu acredito que essa é uma semana para se discutir ciência, mas, principalmente, falar em política para a ciência – que é política para os brasileiros, visando ao desenvolvimento do Brasil. Estamos cansados de tantos ataques, mas não vamos desistir”, afirmou.

O deputado e ex-ministro da pasta de CT&I, Celso Pansera, também destacou a importância do evento em meio ao turbilhão de crises pelas quais a área passa desde 2014 e reiterou o apoio à área. “Vamos continuar apoiando a ciência e a tecnologia no Brasil”, disse.

Já a vice-presidente da Sociedade Brasileira de Farmacologia e Terapêutica Experimental (SBFTE), Letícia Lotufo, observou que a Reunião Anual da SBPC é um símbolo de resistência. “Mesmo com toda adversidade, todo o desânimo que paira sobre a comunidade científica, com cortes na carne, nós vimos nessa cerimônia mensagens de força e esperança, que mostram que os cientistas, antes de mais nada, estão resistindo”.

Lucile Maria Floeter Winter, conselheira da SBPC, também destacou que esta reunião é extremamente importante nesse momento do País. “Além da qualidade das apresentações, essa semana mostra os resultados dos investimentos em ciência e educação de alta qualidade. A fala da Helena Nader é muito marcante: ciência e educação têm que ser vistas como investimentos”.

O assessor da reitoria do Instituto Federal de São Paulo, Newton Lima Neto, ex-deputado federal, que participou ativamente das discussões sobre o Marco Legal da Ciência e Tecnologia, destacou o papel da SBPC na luta pela ciência e tecnologia no Brasil. “A SBPC nunca se omitiu, pelo contrário, ela sempre enfrentou os momentos mais duros da história política e econômica nacional. Nesse momento, fazendo jus à sua tradição, não poderia ser diferente. Eu diria que uma das frentes mais fortes de luta é que a gente pare o retrocesso. Essa Reunião é uma oportunidade de recuperar as energias porque a SBPC é isso, um front de luta em favor da cidadania, da ciência, tecnologia e inovação como alicerces do país que queremos. A despeito de todo o momento dramático que a gente vive, é um momento também de esperança.”

Reunião Anual

A programação da 69ª Reunião Anual da SBPC traz mais de 240 atividades durante toda a semana, com a participação de pesquisadores renomados do Brasil e exterior, e gestores do sistema estadual e nacional de C&T. O evento marca as celebrações dos 90 anos da UFMG.

Até o momento, o evento teve quase 5500 pessoas inscritas, oriundas de todos os estados da Federação. A expectativa é que, até o próximo sábado, 22 de julho, mais de 10 mil pessoas passem pela UFMG para participar da Reunião Anual da SBPC.

Por Daniela Klebis e Patricia Mariuzzo (especial para o JC)