Instituto Serrapilheira lança seu primeiro edital na 69ª Reunião Anual da SBPC

Em uma das mais concorridas apresentações da Reunião Anual, equipe executiva do instituto apresentou os principais detalhes do edital, que distribuirá R$ 15 milhões para o apoio à pesquisa e divulgação científica

Em tempos de crise econômica, o surgimento de um novo instituto para fomentar a pesquisa científica brasileira é mais que bem-vindo. Não é à toa que a sala onde o Instituto Serrapilheira divulgou seu primeiro edital para o fomento de projetos de doutorado ficou completamente lotada. O lançamento oficial do edital, que distribuirá R$ 15 milhões a pesquisadores, aconteceu na 69ª Reunião Anual da SBPC e contou com a presença da presidente da Sociedade, Helena Nader.

O jovem instituto foi fundado com o propósito de incentivar pesquisas científicas mais livres, além de fomentar o intercâmbio com outros países e contribuir para a construção de uma cultura de ciência no Brasil. Sendo o primeiro instituto privado de fomento à ciência brasileira, nasceu com o aporte do documentarista João Moreira Salles e de sua mulher, Branca Vianna.

Novo modelo de concorrência

Este primeiro edital segue um modelo ainda pouco conhecido para os pesquisadores brasileiros. Primeiro porque usa o modelo de Seed Money, em que o volume de recursos para o projeto é liberado aos poucos. Depois, porque as propostas devem ser apresentadas anonimamente, como uma forma de privilegiar a vivência e a originalidade da ideia do candidato aos recursos e não às publicações.

Os candidatos poderão apresentar suas propostas a partir de agosto, com prazo final em 15 de setembro de 2017. Em uma primeira etapa, os interessados deverão apresentar as propostas em dois formatos: um curto, abreviado e anônimo, de cinco páginas; e um longo de até 15 páginas. Ambos devem ser elaborados na língua inglesa já que uma das peculiaridades do instituto é metade do conselho ser composto por especialistas de outros países. As mulheres também ocupam metade dos assentos no comando da associação.

Na primeira etapa, serão selecionados 70 projetos, que receberão um aporte de R$ 100 mil por um ano. No espírito do Seed Money, esses projetos serão reavaliados ao fim de 12 meses, e entre 10 e 20 propostas passarão à segunda fase, com aporte anual de R$ 1 milhão. A segunda fase pode durar até três anos.

Paradigmas modernos

Uma das grandes vantagens do modelo apresentado é a liberdade no uso dos recursos, como frisou o presidente do Instituto Serrapilheira, Hugo Aguilaniu. “O Serrapilheira é muito menor do que um CNPq, mas ele tem uma liberdade maior por ser privado. Nós temos a capacidade de tentar coisas, de experimentar. E os recursos que nós vamos dar também serão mais flexíveis. São recursos pequenos, mas são recursos livres. E isso é bastante importante”, explicou Aguilaniu.

Outro aspecto inovador do sistema proposto pelo Serrapilheira é focar nos jovens cientistas, não considerando a idade cronológica, mas sim a acadêmica. Os selecionados também deverão aportar parte dos recursos recebidos em medidas de inclusão da diversidade, conforme explicou a coordenadora de pesquisa científica, Cristina Caldas. “Ainda estamos discutindo como isso será feito, mas os que receberem os recursos de R$ 1 milhão terão esse compromisso de incluir grupos que ainda estão excluídos da ciência”.

O Instituto também pretende auxiliar os jovens pesquisadores na divulgação científica. “Ainda não há um programa totalmente definido, mas essa é uma área muito importante para o Serrapilheira que, a partir do edital, vai ganhar corpo”, explicou a coordenadora de divulgação científica do instituto, Natasha Felizi. O edital pode ser consultado no site do Instituto Serrapilheira: www.serrapilheira.org.br.

Mariana Mazza – para o Jornal da Ciência