Mestres e doutores querem ficar no País, mas não encontram espaço

Evento virtual “Fico ou não Fico. Eis a questão. Jovens Cientistas no Brasil de hoje”, promovido pela SBPC, apontou que, com mais de seis mil pesquisadores no exterior, Brasil perde mão de obra qualificada e compromete o futuro

dia do fico

O Brasil tem hoje um número estimado de mais de seis mil pesquisadores fora do país e muitos deles gostariam de voltar, porém não encontram incentivo, nem para tocar suas pesquisas, nem perspectivas de inserção no mercado de trabalho local.

A situação foi debatida durante o painel “Fico ou Não Fico? Eis a questão. Jovens Cientistas no Brasil de hoje”, realizado segunda-feira pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

O evento marcou a abertura pela SBPC das comemorações do bicentenário da Independência. Marcio de Miranda Santos, diretor-presidente do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), apresentou resultados de um estudo realizado pela instituição sobre uma amostra de 1.135.674 produções científicas de autores brasileiros encontradas na base Web of Science, referentes ao período de janeiro de 2015 a agosto de 2021. O objetivo é identificar a evasão de mestres e doutores brasileiros.

Ao final da análise foram encontrados cerca de 6,7 mil pesquisadores afiliados no exterior em trabalhos de coautoria que provavelmente saíram do Brasil nesse período e ainda estão fora, revelou Santos.

Ressaltando que os dados são preliminares e que a análise apresenta muitas limitações, Santos comentou: “Ainda que não tenha números precisos, a evolução de coautores que saem do Brasil e passam a assinar artigos com afiliação no exterior é maior que a evolução de coautores brasileiros no exterior e agora passam a coautorar artigos no Brasil”, disse o diretor presidente do CGEE. E concluiu: “Há uma tendência de evasão”.

Cinco jovens pesquisadores foram convidados a contar sua experiência no exterior, seus planos e dificuldades para dar seguimento às suas carreiras no Brasil – Helena Russo (UNESP/IQAr), Vinicius Kauê Ferreira (UERJ), Patricia Cortelo (UnB), Raul Lopes (Université Paris-Dauphine) e Jaqueline Godoy Mesquita (UnB), que também foi debatedora.

Para o presidente de honra da SBPC, Ildeu de Castro Moreira, os dados do CGEE comprovam uma situação “seríssima”, que afeta a ciência brasileira e pode piorar. “Temos que pensar uma política a partir do ano que vem, já que este ano estamos vivendo uma certa terra arrasada na ciência e na tecnologia”, comentou Moreira, reivindicando incentivos para manter os jovens no país, com abertura de vagas de emprego no setor público que em grande parte estão congeladas, e um projeto maior de absorção de pesquisadores.

O presidente da SBPC, Renato Janine Ribeiro, lembrou que uma das razões para a falta de perspectivas para os jovens cientistas e pesquisadores brasileiros é o baixo crescimento econômico e a visão do governo atual de que o país tem excesso de mestres e doutores.

“O ministro (Paulo) Guedes propunha, o que é um traço talvez da extrema direita, uma visão muito modesta, sem ambição, sem projeto para o Brasil. Nessa visão, (…) é melhor cortar o número de engenheiros, doutores e mestres do que aumentar a produção”, afirmou.

Assista ao painel na “Fico ou Não Fico? Eis a questão. Jovens cientistas no Brasil de hoje” na íntegra pelo canal da SBPC no YouTube.

Jornal da Ciência