Interação entre academia e comunidade é destaque

São Raimundo Nonato, uma pequena cidade de 32 mil habitantes no interior do Piauí, recebeu na última semana, de 20 a 23 de abril, a Reunião Regional da SBPC, um evento de divulgação científica, realizado pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, aberto e gratuito para toda a comunidade. Com uma programação intensa de palestras, minicursos e experimentos científicos, o evento teve como objetivo ressaltar o imenso patrimônio histórico da cidade, que abriga no Parque Nacional Serra da Capivara a maior concentração de sítios pré-históricos no continente americano e a maior quantidade de pinturas rupestres do mundo.
O evento teve como objetivo ressaltar o imenso patrimônio histórico da cidade, que abriga no Parque Nacional Serra da Capivara a maior concentração de sítios pré-históricos no continente americano e a maior quantidade de pinturas rupestres do mundo
São Raimundo Nonato, uma pequena cidade de 32 mil habitantes no interior do Piauí, recebeu na última semana, de 20 a 23 de abril, a Reunião Regional da SBPC, um evento de divulgação científica, realizado pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, aberto e gratuito para toda a comunidade. Com uma programação intensa de palestras, minicursos e experimentos científicos, o evento teve como objetivo ressaltar o imenso patrimônio histórico da cidade, que abriga no Parque Nacional Serra da Capivara a maior concentração de sítios pré-históricos no continente americano e a maior quantidade de pinturas rupestres do mundo.
Para Helena Nader, presidente da SBPC, a RR atingiu os objetivos. O primeiro é o de levar a fronteira da ciência para a comunidade de São Raimundo Nonato, oferecendo incentivo aos cursos de licenciatura fundamentais para a região, que são ofertados na cidade pela Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), Universidade do Estado do Piauí (Uespi) e faculdades privadas. Os cursos são, principalmente nas áreas de ciências naturais e ciências biológicas, relacionados com o conhecimento sobre o Parque Nacional da Serra da Capivara.
Em um breve balanço sobre a reunião, Nader comentou: “Levamos temas correntes como o uso do álcool, que pode levar a situações de crise em populações. O professor Umberto Cordani, da USP, apresentou, da geologia até a biologia, a evolução do universo, e seu estudo que foi publicado na revista Nature, tudo de uma forma que estava ao alcance do nível científico de todos, com exemplos bastante lúdicos, inclusive.”
“Tivemos discussões sobre a zika e a dengue, e doenças como hanseníase, Chagas e leishmaniose. Nesse último debate, pessoas do Maranhão que estavam na plateia trouxeram o problema no local que os agentes de saúde enfrentam. E, por conta disso, conseguiram uma colaboração com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e a SBPC.”
Houve também a SBPC Jovem e Mirim, que trouxe crianças, adolescentes e familiares para ver um pouco de ciência, participar dos experimentos científicos, de forma bem “mãos na massa”. Esse público saiu daqui com algo a mais.”
“Tivemos professores que, ao final, nos pediram cópias do material para difundir entre outros professores. A Unifesp reuniu um material, trabalho que envolveu professores e pesquisadores de lá e da Universidade Federal de Juiz de Fora. Deixamos tudo o que foi projetado, inclusive todos os cartazes para a escola, o que acaba se tornando um legado, pois é a possibilidade do trabalho continuar sem estarmos presentes.”
“Haviam cerca de 1700 inscritos para essa sessão, além dos 1280 inscritos para as outras atividades, em um total de 3 mil pessoas. Mas o público foi muito maior que isso: acho que nos quatro dias, tivemos mais de 5 mil pessoas participando do evento, o que representa quase um quinto da população da cidade!”
“Me emocionou também o fato que, apesar da situação política do País, que não permitiu a vinda das autoridades de Brasília, os ministros do MEC, MCTI e MMA enviaram cartas para que fossem lidas na abertura do encontro. Isso mostra o reconhecimento dos Ministérios com a relevância da Reunião Regional. Mostra ainda que o Parque Nacional da Serra da Capivara transcende um Ministério. E a sociedade tem que se envolver com esse projeto.”
“Nós vamos fundar um Grupo de Trabalho com a Fundação do Homem Americano, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (Fapepi), a Uespi e outras instituições, para elaborar um projeto a ser discutido com os mais diversos atores, desde Ministério dos Transportes (para o aeroporto), até o MMA, MinC, MEC, Ministério das Indústrias e o MRE.”
Esse é um patrimônio que precisa ser cuidado, que não pode ficar na dependência do dinheiro do bolso e do empenho da arqueóloga Niède Guidon. Queremos que o trabalho dela se perpetue. Vamos tentar chegar o mais rápido possível a uma proposta a ser discutida. Inclusive com o Legislativo, do local ao federal. Este parque vai além do ambiente político atual, e é preciso mostrar que é possível viver de forma harmoniosa e dando forma diversa à cidade, que tem estudantes brilhantes. Nós temos que fazer nossa parte,” ressaltou a presidente da SBPC.
Legado de benefícios
O tema da Reunião foi “O homem e o meio ambiente: da pré-história aos dias atuais”. A cerimônia de abertura, que homenageou a antropóloga Niède Guidon, criadora do Parque Nacional, foi na Fundação Museu do Homem Americano (Fundham) e já ali, no auditório lotado, se observava o sucesso do evento. O restante da programação se desenvolveu na Universidade Estadual do Piauí (Uespi) e teve quase 1300 inscritos para as conferências e mesas redondas, e mais de 380 participantes dos minicursos ministrados entre os dias 21 e 22 de abril. A grande maioria dos inscritos, cerca de 780 pessoas, eram da própria São Raimundo. Além da comunidade local, participantes de outros 14 estados viajaram até a cidade para a Reunião. Somando aos estudantes inscritos para a sessão SBPC Jovem, cerca de 1700, a RR teve mais de 3 mil participantes. Mas a participação foi muito além dos inscritos.
Para o reitor da Uespi, Nouga Cardoso Batista, a realização da RR no campus da cidade é um incentivo para que haja uma maior interação entre a universidade e a comunidade local. “Durante o evento, tive a oportunidade de conversar com alunos da Universidade, professores, da comunidade de São Raimundo Nonato e entorno e percebi entusiasmo daquelas pessoas que, ao entrar em contato com o conhecimento, começam a desenvolver sonhos, individuais e coletivos, vislumbrando uma perspectiva de desenvolvimento científico regional, nas mais diferentes áreas”, disse. 
Por outro lado, o contato com esse deslumbramento das pessoas da cidade provoca a comunidade acadêmica para que realizem o impacto que podem ter na sociedade. “Os professores, a comunidade acadêmica começa a perceber que eles têm em si um valor humano, de conhecimento científico que pode, com simplicidade, fazer com que a comunidade se aproprie desse conhecimento”, afirma o reitor da Uespi.
Outro aspecto também relevante da Reunião Regional da SBPC que Nouga destaca é o que fica em termos de patrimônio. “Existia uma reivindicação antiga da comunidade acadêmica de dar mais visibilidade para o que é a Universidade em São Raimundo. Do ponto de vista não só da produção de conhecimento, mas do que é Uespi, seus valores humanos, quem são as pessoas”, conta. Segundo ele, o encontro, além de ter trazido melhorias na infraestrutura física do campus, também abriu os olhares das autoridades públicas de preocuparem-se mais com a universidade e incentivar mais suas atividades, permitindo que ela possa acolher mais e melhor a comunidade.
Rute Maria Gonçalves de Andrade, coordenadora da comissão organizadora local da Reunião da SBPC, destacou a participação das crianças na sessão do evento SBPC Jovem, que trouxe exposições e experimentos científicos interativos para crianças, adolescentes e familiares. “O que mais me emocionou e me fez perceber que o evento deu certo foi ver o mar de crianças que chegou aqui no sábado, a pé, mesmo com o calor. Pela manhã, tinham muitas famílias. Tivemos, durante os dias do evento, 1700 crianças agendadas para participar do evento. Porém vieram muito mais. Parte porque o evento foi divulgado na rádio”, conta a organizadora.
Andrade atribui o sucesso ao fato de que o evento foi aberto e gratuito. “As pessoas da cidade não acreditavam que podiam participar sem pagar nada. O encontro afetou positivamente todas as pessoas da cidade, que se deu conta do quanto a população é carente disso”. 
Rute, que é também conselheira da Fundham, comenta que a RR foi pensada para que, a partir dela, houvesse uma integração maior entre as universidades, o Parque e a cidade. “Aqui nada é conectado com o Parque. Ouvimos estudantes reclamando que têm aulas de botânica, de ecologia, e nunca tiveram aula no Parque. Parece que o Parque não faz parte da cidade e a cidade não faz parte do Parque”, comenta ela, observando que a cidade sequer possui um serviço de ônibus públicos que possa levar as pessoas ao parque nos fins de semana. 
“Acredito que, a partir daqui, as pessoas podem começar a se articular, fazer eventos juntos e conseguir recursos. Dá pra fazer muita coisa boa. Eu acredito que para a cidade, essa Reunião Regional foi um divisor de águas. Plantou-se uma semente, e não tem como não dar frutos”, conclui. 
O secretário regional da SBPC no Piauí, Willame Carvalho e Silva também ressaltou a interação positiva entre comunidade científica e comunidade local, que, segundo ele, é a característica das Reuniões Regionais da SBPC. “O grande objetivo é despertar na comunidade, no público em geral e nos governos a necessidade de preservação do Parque Nacional. Isso se dá com a conscientização de todos para a importância desse parque, de sua conservação e de financiamento. E a SBPC sempre traz essa marca”, disse.
Daniela Klebis – Jornal da Ciência