Reunião Anual na UFMG encerra com Dia da Família na Ciência

Em um sábado cheio de experimentos e brincadeiras, visitantes ressaltaram que atividades despertam a curiosidade das crianças e mostram como a ciência que se faz no País é importante

A 69ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) encerrou sábado, 22 de julho, com o “Dia da Família na Ciência”. O evento atraiu mais de 2 mil pessoas em um dia dedicado à integração entre cultura, ciência e recreação para crianças, jovens e seus familiares. As atividades são parte da programação que aconteceu durante a semana nos auditórios e nos estandes montados para a ExpoT&C e SBPC Jovem no campus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte.

“A Reunião Anual na UFMG foi um sucesso por vários aspectos. Primeiro, tivemos muitas mesas-redondas com participação intensa e de alta qualidade, da comunidade local e do País inteiro. E na SBPC Jovem e ExpoT&C, nós tivemos um sábado com milhares de pessoas interagindo com as atividades do Dia da Família na Ciência. Isso mostra que nós temos um potencial muito grande de atingir os jovens e as crianças, como fizemos a semana inteira”, comemorou o presidente da SBPC, Ildeu de Castro Moreira.

O Dia da Família na Ciência já virou uma tradição das Reuniões Anuais da SBPC, e, conforme ressalta Moreira, é uma atividade bastante significativa. “Estamos todo o tempo fazendo com que a divulgação científica seja uma atividade permanente nas universidades, nas instituições de pesquisa, porque também faz parte da finalidade da SBPC fazer essa ponte com a sociedade e melhorar o que a gente chama de cultura científica”, comenta ele, acrescentando que, além das suas reuniões anuais e regionais, a SBPC constantemente apoia iniciativas semelhantes, nos museus de ciências e na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, por exemplo.

Boa notícia para Luiz César Mota, motorista, que levou filho e sobrinhos para ver as atrações da SBPC Jovem. “Com as coisas que estão acontecendo hoje no Brasil é ainda mais importante apresentar para eles que o conhecimento está disponível. Que o que a gente tem que fazer é levantar da cadeira e buscar”, recomendou. Ao cruzar com o presidente da SBPC pelos corredores do pavilhão, fez questão de elogiar a iniciativa e sugerir que a Sociedade invista em atividades permanentes voltadas para os jovens. “Isso aqui é maravilhoso.”

O filho de Luiz César, Arthur Mota, de oito anos, adorou a interação dos stands da feira. “É muito bom. Com o controle, o carrinho mexe. Tem muita tecnologia, né?”, comentou o garoto, fascinado com uma réplica de um veículo explorador espacial.

Ciência e entretenimento

Maria Cecília Ramos, mestranda em Nutrição e Saúde na UFMG, apresentou um pôster durante a Reunião e visitou a atividade no sábado para trazer a prima. “Achei riquíssima a programação científica, em alguns momentos tinha que escolher, porque mais de um debate me interessava ao mesmo tempo. Eu foquei nas atividades na área da saúde, mas assisti, por exemplo, palestras sobre cidades sustentáveis, desafios na pesquisa. Achei o evento muito interessante e muito bem organizado”, disse Ramos.

A prima, Júlia Aparecida Silva, veio pela primeira vez no evento no sábado. Aluna do oitavo ano do Ensino Fundamental, ela disse que gostou da maneira diferente de ter conhecimento, especialmente os desafios de lógica nos jogos expostos. “É uma forma de entretenimento que a gente não está acostumado a ter. A gente começa a ter uma noção do que a gente pode estudar futuramente também”, declarou.

O professor do Departamento de Química da UFMG, Fabiano Pereira levou junto da esposa Lany, o filho Rafael de 10 anos para conhecer as atividades. O garoto disse que gosta de ciência e que pretende estudar robótica quando crescer, influenciado pela maravilhas que viu. “A gente gosta de levar ele em museus interativos, que nem o da PUC de Porto Alegre, e achamos muito parecido no estilo, de poder tocar nas coisas. Isto é muito legal, esse estímulo da criança poder participar mais, não ser uma coisa só de olhar”, avaliou Lany Pereira.

Da escola para a vida

Juliana Damasceno visitou a feira com o marido e seus dois filhos, de 8 e 6 anos. “O evento traz da sala de aula as lições de ciências e permite que a criança experimente. Às vezes, é muito difícil fazer isso em sala de aula. E isso desperta a curiosidade. Eu acho que deveria ter mais eventos como esse para ampliar o conhecimento e estimular a criatividade”, destacou.

Correndo ansioso para conseguir participar de todas as atividades, Cauã Reis Rodrigues Vieira, aluno do 5º ano do Fundamental, contou que estava se divertindo muito. Seu experimento favorito era sobre a gravidade. “O ar segura a bola e ela fica aprisionada. Se não fosse a gravidade, que é mais forte, a bola voaria para longe”, explica, mostrando que aprendeu bem a lição. “Eu gosto de estudar ciências na escola. Mas aqui é mais divertido, porque eles mostram como faz e a gente pode fazer também”.

“Aqui é muito legal”, vibrou a pequena Ana Luiza Coutinho Vieira, de seis anos. “Se tivesse um lugar desse para ir sempre, eu iria todos os dias”, afirmou, antes de sair correndo atrás do irmão que apontava outro “brinquedo”.

Luciane Marinho, professora em Brasília de crianças com superdotação, conhece bem as vantagens de os jovens colocarem a mão na massa. Esta foi a primeira vez que Marinho participou de uma Reunião Anual da SBPC como monitora e o movimento na feira a deixou impressionada. “É importantíssimo um evento como este até mesmo para a integração dos experimentos nas escolas. A gente, por exemplo, tem um manual do passo a passo para reproduzir o que estamos fazendo aqui nas salas de aula. E, para a criança, poder confeccionar os experimentos faz toda a diferença”, explicou a monitora, que fazia o apoio didático com a equipe da Agência Espacial Brasileira (AEB).

Montando um carrinho de papel-cartão com propulsão de bexiga, Djulia Luca de Mendonça, de 8 anos, disse que quando voltar das férias, vai contar na escola sobre o que aprendeu no Dia da Família da Ciência. “Eu fiz esse carrinho com minhas próprias mãos. Um carrinho que não precisa de metal, nem de motor. É sustentável”, disse ela.

A SBPC Jovem também é um treino pedagógico para quem pretende seguir instruindo os pequenos. A pernambucana Rute Vital, estudante de História, fez as malas para trabalhar no stand da Associação Brasileira de Centros e Museus de Ciência (ABCMC) e adorou a experiência. “Trabalhar com criança é sempre fantástico porque tudo impressiona, mesmo as coisas mais simples as deixa encantadas”, resumiu a jovem monitora.

Ao infinito e além

Não é segredo para nenhum pai o fascínio que o espaço exerce nas crianças. Por isso mesmo, não é surpresa que o stand da AEB tenha sido um dos mais queridos pelos pequenos que visitaram a SBPC Jovem. Junto com a experiência sensorial pela Antártica do Museu Itinerante Ponto UFMG, o lançamento de foguetes de garrafa PET da AEB foi o evento favorito de pais e filhos nesse sábado.

A hora do lançamento dos foguetes construídos pelas próprias crianças horas antes foi um show à parte. O pequeno Teodoro Sabbagh, de 6 anos, virou estrela ao ser escolhido para puxar a corda que disparava o aparato espacial. Depois do momento de glória, correu para o pai perguntando: “O que aconteceria se eu puxasse a cordinha muito rápido?”

A cena é um exemplo perfeito da motivação de um evento como o “Dia da Família na Ciência”: estimular a curiosidade das crianças porque é aí que habita o espírito científico. “Acho muito legal uma feira como esta. E é ainda mais importante em um momento de tamanho corte de verbas, não só porque mostra toda a produção brasileira nessa área, mas lembra que a ciência faz parte da vida da gente de muitas formas”, analisou Danilo Sabbagh, cientista social.

Para Teodoro, a jornada espacial apenas começou naquele sábado. “Quero ser engenheiro espacial para construir um elevador que vai até o espaço”, contou o futuro cientista.

Daniela Klebis, Mariana Mazza (Jornal da Ciência) e Thayse Menezes (graduanda em Comunicação na UFMG)