SBPC relembra legado de 10 cientistas durante sua Assembleia Ordinária

A cerimônia virtual, realizada no dia 10 de novembro, reverenciou cientistas brasileiros que atuaram na área de forma seminal para a ciência brasileira e que tiveram grande importância para a vida institucional da entidade

De agosto de 2019 a setembro deste ano o Brasil perdeu dez grandes cientistas brasileiros que atuaram de forma seminal para a ciência brasileira e tiveram grande importância para a vida institucional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Eles foram homenageados pela entidade no dia 10 de novembro, durante a Assembleia Ordinária de Sócios, que  aconteceu de forma virtual durante a 72ª Reunião Anual da SBPC.

A SBPC celebrou o legado da professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Maria Lucia Maciel. Ela foi membro da Diretoria da SBPC por dois mandatos (1989-91 e 2011-2013) e secretária regional da SBPC-RJ de 2004 a 2006. Graduou-se em Ciências Sociais/Sociologia na Universidade de Brasília, fez mestrado em Sociologia na Université Libre de Bruxelles (1981),  doutorado em Sociologia na Université de Paris VII (1986)e pós-doutorado no Istituto de Studi sulla Ricerca Scientifica – ISRDS, CNR, na Itália. Atuou principalmente nos temas de ciência e tecnologia para o desenvolvimento; conhecimento e inovação; produção e circulação de ciência, divulgação científica, ciência aberta e inovação aberta. Foi coordenadora do Laboratório Interdisciplinar sobre Informação e Conhecimento (LIINC), editora do periódico Liinc em Revista e diretora do Instituto Ciência Hoje.

O biólogo e professor titular aposentado do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP), Antônio Brito da Cunha, foi o segundo homenageado na Assembleia. Cunha dedicou sua carreira à pesquisa no campo da biologia evolutiva, tendo desenvolvido projetos nas áreas da variabilidade cromossômica, fatores ambientais, citologia e diferenciação celular em sciarídeos (moscas-dos-cogumelos), em condições normais e em infecções com vírus. Graduou-se em História Natural em 1943 e obteve o título de doutor em Ciências pela USP em 1948. Na mesma universidade, foi professor do Instituto de Biologia e chefe do Departamento de Biologia. Nos Estados Unidos, fez estágio de pós-doutorado na Universidade de Columbia (1951) e foi professor visitante (1970-1971) na Universidade do Texas. Cunha era sócio da SBPC desde sua formação, em 1948, e também participou do início do funcionamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), como assessor para Ciências Biológicas, entre 1962 e 1964.

A entidade lembrou também do cientista Giovanni Gazzinelli, que foi membro do Conselho da SBPC em dois mandatos (1977-1981 e 1983-1987). Graduado em medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com especialização em bioquímica pela Universidade de Utah, nos Estados Unidos, obteve os doutorados em medicina e bioquímica e imunologia também pela UFMG. Sua principal linha de pesquisa era bioquímica e imunologia de parasitos. O acadêmico atuou por mais de 30 anos como professor titular do Departamento de Bioquímica da UFMG e como pesquisador titular na Fiocruz.  Foi agraciado com diversos prêmios e medalhas, como a Comenda e a Grã Cruz da Ordem Nacional de Mérito Científico, da Presidência da República (1998), bem como a Medalha Carlos Chagas (1991) e a Medalha da Inconfidência (1994), concedidas pelo Governo do Estado de Minas Gerais.

O quarto homenageado no evento virtual foi o professor aposentado do Departamento de Patologia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Luiz Alves Ferreira, sócio da entidade desde 1984. Sempre atuante na SBPC, ele foi secretário regional no Maranhão em várias gestões (1998-2002, de 2011 a 2015 e 2017 a 2019), tesoureiro da SBPC-MA de 2004 a 2006 e secretário regional adjunto da SBPC-MA de 2006 a 2008. O professor Luizão, como era conhecido, nasceu no quilombo Saco da Almas, hoje Vila das Almas, pertencente ao município de Brejo (MA). Se formou em medicina pela UFMA, com mestrado em patologia pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (SP). Foi membro fundador do Centro de Cultura Negra (CCN) e da Academia Maranhense de Ciências.

Ângelo Barbosa Machado também foi lembrado pela entidade. Professor emérito da UFMG, Machado era sócio da entidade desde 1952. Sempre atuante, participou da SBPC em várias gestões, sendo secretário Regional em MG por quatro mandatos (1969 a 1977), conselheiro por mais quatro mandatos (1977 a 1981, de 1983 a 1987, de 1989 a 1993, de 1995 a 1999) e membro da diretoria (1979 a 1981; e 1981 a 1983).  Dono de uma trajetória única, Machado formou-se médico, mas jamais exerceu a profissão, dedicando-se desde cedo à paixão pela entomologia. Ele se formou em Medicina pela UFMG em 1958. Em 1963, ainda na UFMG, obteve o título de doutor em Medicina e no período de 1965 a 1967 fez pós-doutorado na Northwestern University (Chicago). O professor foi membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Mineira de Letras e presidente do Conselho Curador da Fundação Biodiversitas, ONG especializada na conservação de espécies ameaçadas de extinção. Entre suas descobertas relevantes no campo da medicina, Machado mudou, nos anos 1960, o conceito então existente sobre as lesões do sistema nervoso autônomo na doença de Chagas. Na área da entomologia, dedicou-se ao estudo das libélulas, tendo descrito 98 espécies e 11 gêneros novos desses insetos. Ele foi homenageado com seu nome em 56 espécies de animais. As libélulas, por sinal, eram uma das paixões do professor. Ele reuniu uma coleção com 35.250 exemplares de 1.052 espécies ao longo de seis décadas.

Machado publicou  ainda 37 livros infanto-juvenis e três para adultos. Também escreveu seis peças infantis e outras duas comédias. Por seu trabalho, recebeu entre outros os Prêmios Jabuti de literatura infantil (1993) e SESC-SATED de melhor texto de teatro infantil (1996).

A SBPC reverenciou também o professor titular do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Luiz Rodolpho Raja Gabaglia Travassos. Ele foi membro do Conselho da SBPC de 1967 a 1971, e chegou a ser editor sênior da revista Ciência e Cultura de 1990 a 2001. Travassos era graduado em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1962), doutor Ciências pela UFRJ (1967) e pós-doutor na Columbia University (EUA, 1972-1974) e posteriormente Research Associate, Memorial Sloan-Kettering Cancer Center (EUA, 1978-1980). O pesquisador atuava na área de Imunologia de células eucarióticas, com ênfase em Imuno e Bioquimioterapia do câncer e imunobiologia de fungos. Teve uma vida acadêmica fértil, iniciando suas publicações já na graduação e deixando importantes contribuições científicas para a área da Biologia Celular, além de ter atuado para a formação de diversas gerações de pesquisadores, que atuam em diferentes instituições do Brasil e de outros países.

O pesquisador e professor Elisaldo Luiz de Araújo Carlini foi outro consagrado na sessão. Ele teve uma atuação marcante na SBPC, tendo se associado em 1961, ainda como graduando em Medicina. Carlini foi um dos homenageados na 70ª edição da Reunião Anual da SBPC, realizada em 2018, em Maceió, Alagoas. Professor emérito da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Carlini é internacionalmente reconhecido pela sua contribuição à Farmacologia, com pesquisas sobre o uso medicinal da maconha e foi o primeiro representante da SBPC no Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (Conad). Graduado em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo (1957) e mestre em Psicofarmacologia pela Yale University (1962), Carlini fundou o Departamento de Psicobiologia da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) e o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid). Condecorado duas vezes pela Presidência da República por seu trabalho como pesquisador, foi presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e membro do Conselho Econômico Social das Nações Unidas (ECOSOC/ONU). Nos anos 1970, desenvolveu pesquisas pioneiras que caracterizaram a ação anticonvulsivante da maconha, que apenas nos últimos anos começou a ser amplamente reconhecida no Brasil. Suas descobertas permitiram a formulação de medicamentos eficazes para tratar doenças como epilepsia e esclerose múltipla, hoje utilizados em diversos países. Dedicou mais de seis décadas de sua vida à ciência e contabilizou mais de 12 mil citações de seus trabalhos em artigos científicos de todo o mundo.

O penúltimo homenageado do evento foi o astrofísico João Evangelista Steiner. Professor titular do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, Steiner era sócio da SBPC desde 1974 e teve grande atuação na diretoria da entidade, tendo sido primeiro-tesoureiro da SBPC (1989-1991) e secretário-geral (1991-1993). Nascido em 1950 em São Martinho, interior de Santa Catarina, Steiner graduou-se em Física na Universidade de São Paulo (USP), em 1973, onde obteve mestrado em Astronomia, em 1975, e doutorado na mesma área, em 1979. Logo em seguida, realizou sua pesquisa de pós-doutorado no Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics, nos Estados Unidos. Membro da Academia Brasileira de Ciências e da TWAS (Academia Mundial de Ciências para o Avanço dos Países em Desenvolvimento), foi condecorado em 2001 com a Ordem do Rio Branco – Grau de Comendador, concedida pelo Ministério das Relações Exteriores, e em 2010 com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico, pelo Ministério da Ciência e Tecnologia.

A sessão de homenagens foi encerrada com a lembrança ao cientista político Wanderley Guilherme dos Santos. Professor aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Santos graduou-se em filosofia pela UFRJ em 1958 e fez doutorado em ciência política em Stanford (EUA). Trabalhou por mais de 20 anos na UFRJ, onde deu aula de democracia e teoria política. Foi presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa e é considerado, por muitos, o fundador da ciência política no Brasil, ao criar, em 1969, o Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ) – atual Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP-UERJ). Ele dedicou a vida aos estudos sobre os regimes militares na América Latina e à formação de movimentos sociais.

Veja abaixo a lista dos homenageados:

Maria Lúcia Maciel – Faleceu em outubro de 2019;

Antônio Brito da Cunha – Faleceu no dia 2 de dezembro de 2019, aos 94 anos, em Brasília;

Giovanni Gazzinelli – Morreu no dia 14 de janeiro de 2019, aos 92 anos;

Luiz Alves Ferreira – Faleceu em 16 de março de 2020;

Ângelo Barbosa Machado – Faleceu no dia 6 de abril deste ano;

Roberto Salmeron – Morreu no dia 17 de junho de 2020;

Luiz Rodolfo Travassos – Faleceu no dia 30 de julho de 2020;

Elisaldo Luiz de Araújo Carlini – Faleceu no dia 16 de setembro de 2020;

João Evangelista Steiner – Faleceu no dia 10 de setembro de 2020;

Wanderley Guilherme dos Santos – Faleceu aos 84 anos no dia 25 de outubro de 2019;

Veja aqui a homenagem.

Jornal da Ciência