O presidente da SBPC, Ildeu de Castro Moreira, entregou nesta quarta-feira, 7 de março, ao ministro da Pasta de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Gilberto Kassab, três cadernos, num total de 1500 páginas, com mais de 32 mil assinaturas que a petição online “’Somos Todos Carlini” recebeu em uma semana. Juntamente ao abaixo-assinado, foi entregue também o manifesto em defesa do professor emérito da Unifesp, Elisaldo Carlini, e pela liberdade de pesquisa científica, subscrito por 56 sociedades científicas de todo o País. Kassab se comprometeu encaminhar os documentos ao ministro da Justiça, Torquato Jardim.
A entrega foi feita durante 5ª Reunião do Conselho Consultivo do MCTIC. Na ocasião, o presidente da SBPC e o presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Luiz Davidovich, falaram sobre a importância da manifestação e da importância do Ministério defender a liberdade de pesquisa. “É uma questão que está ameaçada por esse fato e por outros similares que vêm acontecendo no País”, ressaltou Moreira. Segundo conta ele, Kassab afirmou que não apenas encaminharia o documento ao ministro da justiça, como acrescentaria uma carta sua apontando para a relevância dessa manifestação.
Representantes de outras entidades presentes à reunião, como Andifes e Confap, também expressaram seu apoio à campanha e colocaram suas preocupações com a autonomia das universidades e dos pesquisadores.
Aos 87 anos de idade, 62 anos dedicados à pesquisa, e com mais de 12 mil citações de seus trabalhos em artigos científicos de todo o mundo, o professor Elisaldo Carlini foi chamado para depor na polícia, no dia 21 de fevereiro, para prestar depoimento sob a alegação de fazer apologia ao uso de drogas. O ato provocou indignação em toda a comunidade científica e acadêmica, que prontamente saiu em protesto e em defesa do pesquisador.
No dia 23 de fevereiro, a SBPC, juntamente com a ABC, divulgou um manifesto público repudiando com veemência o fato de o renomado professor ser alvo de um inquérito policial por organizar um simpósio sobre o uso terapêutico da maconha, em maio de 2017. Após a publicação, o documento recebeu o apoio de dezenas de sociedades científicas de todo o Brasil, e diversos professores, pesquisadores, personalidades políticas e estudantes enviaram solicitações para também assinar a manifestação. Diante dos pedidos, a SBPC lançou uma petição pública online, chamada “Somos Todos Carlini”. Em menos de dez dias a manifestação, que permanece ativa neste link, já recebeu mais 33 mil assinaturas.
O manifesto público ressalta que Carlini é um cientista premiado internacionalmente, por ter desenvolvido, ainda na década de 1970, pesquisas pioneiras que caracterizaram a ação anti-convulsivante da maconha. Suas descobertas permitiram a formulação de medicamentos utilizados em diversos países para tratar, eficazmente, doenças como epilepsia e esclerose múltipla. “Acusar o dr. Carlini de apologia às drogas equivale a criminalizar a inteligência e o conhecimento técnico-científico”, afirma o texto do manifesto.
Segundo o texto das entidades científicas, esta ação é “uma provocação cruel e vazia contra um cientista que dedicou toda sua vida à fronteira do conhecimento”.
O caso repercutiu internacionalmente, em especial na renomada revista Nature desta quinta-feira, 8. A reportagem destaca a imensa adesão ao abaixo-assinado criado pela SBPC e a preocupação da comunidade científica brasileira com potenciais restrições à liberdade acadêmica. O periódico britânico ressalta ainda a brilhante carreira de Calini, considerado um pioneiro no mundo inteiro nas pesquisas relacionadas à maconha.
Daniela Klebis – Jornal da Ciência