No dia 8 de julho, dia nacional da ciência, ocorre a Marcha pela Ciência em defesa da CT&I e da educação.
Nesse dia, além dos 70 anos da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), comemora-se o Dia Nacional da Ciência e o Dia Nacional do Pesquisador. A organização do evento, que além da marcha conta com uma série de atividades, é da SBPC junto com o Instituto Moreira Salles, e tem o apoio de cientistas, professores, universitários e divulgadores científicos.
Em São Paulo, as atividades começam às 10h, no Instituto Moreira Salles (IMS), na Avenida Paulista 2424, onde ocorrerá a apresentação musical Ciência e Música, de Maurício Pereira e um flash mob do grupo Núcleo Arte Ciência no Palco. Às 12h começa a Marcha Pela Ciência, que parte às 12h do IMS até o cruzamento com a Avenida Brigadeiro Luís Antônio. A atividade contará com a participação de bonecos de Olinda, representando quatro grandes cientistas: o físico Albert Einstein, o geógrafo Aziz Nacib Ab`Saber, a psiquiatra Nise da Silveira e o físico José Leite Lopes.
Para além da comemoração, o evento, que é destinado tanto ao público geral como aos pesquisadores, quer chamar a atenção para a queda dramática de investimentos do governo em ciência, tecnologia, inovação e educação no Brasil. Neste momento, no Congresso Nacional e no governo, se iniciam as discussões sobre o Orçamento de 2019. É o instante propício de mobilizar toda a sociedade para impedir que mais cortes afetem negativamente esse setor estratégico para o desenvolvimento do País.
Além de São Paulo, Rio de Janeiro (RJ), Brasília (DF), Belém (PA), Belo Horizonte, Fortaleza (CE) e Salvador (BA) já têm atividades programadas para esta data ou dias próximos.
O presidente da SBPC, o físico Ildeu de Castro Moreira, deu a seguinte entrevista para explicar os objetivos da comemoração.
Que balanço o senhor faz da atuação da SBPC nestes 70 anos?
A SBPC nesses 70 anos foi uma entidade fundamental, correlacionada muito com o próprio desenvolvimento da ciência brasileira. Teve atuação desde o início na defesa da ciência…. Surgiu em São Paulo né? Contribuiu significamente com a criação do CNPQ e da Capes, agência de fomento a pesquisa no Brasil. E ao longo das décadas teve sempre ativa. Como na discussão sobre a criação do ministério de Ciência e Tecnologia, que foi gestado dentro da discussão da SBPC. Na década de 1970 teve um momento importante também de resistência democrática. A SBPC foi um ponto central de discussão democrática, de debates, a famosa reunião de 1977, a briga pela anistia, pela volta dos pesquisadores exilados. Foi um momento importante da luta pela democracia no Brasil. Na década seguinte, a SBPC atuou bastante na política científica na questão da constituinte. A Constituição tem um capítulo de ciência e tecnologia porque a comunidade científica se mobilizou para isso. De lá pra cá gente tem sempre brigado por políticas públicas, para coletar recursos, pela educação pública de qualidade.
A SBPC reúne 142 sociedades científicas das mais diversas áreas, e muitas delas surgiram inclusive dentro da própria SBPC: sociedades de química, de física, das áreas de biologia, das áreas de comunicação, educação… De todas as áreas. Então a SBPC é como se fosse um guarda-chuva de muitas outras sociedades científicas. E mais recentemente estamos numa briga porque os cortes estão muito altos. No dia 8 também vamos abordar isso: a situação grave da ciência brasileira. E estamos fazendo dia 12 uma ação no congresso nacional para poder tentar pressionar por mais recursos em ciência, tecnologia e inovação.
Esse evento agora de domingo vai ser semelhante as marchas pela ciência que já ocorreram?
Essas coisas a gente faz de acordo com as capacidades que a gente tem, a gente convida as instituições. Serão muitas atividades. A gente tenta fazer uma coisa mais lúdica né? Ainda mais que é um domingo. Nós estamos comemorando também, estamos comemorando o dia nacional da ciência, o dia nacional do pesquisador, os 70 anos da SBPC, então esse também é um dia de comemoração. Mas ao mesmo tempo vamos fazer o que a gente faz há 70 anos, brigar por melhores condições de trabalho, para que a ciência no Brasil seja valorizada, e para que tenha políticas públicas adequadas para a ciência, educação, etc. Depende muito também das posições locais.
Qual a mensagem que a SBPC quer passar para a sociedade com esse evento?
Primeira coisa: a ciência é importante, é bonita, é relevante para o indivíduo, para o país, para a sociedade como um todo. Segundo ponto: investimento em ciência e tecnologia é investimento, não é gasto. Os maiores países do mundo já perceberam isso e investem muito mais que o Brasil. Para sair de crise, de momentos como esse, temos que melhorar a educação, desenvolver ciência e tecnologia. Esse é um mantra nosso importante.
No dia 8 vamos também comemorar. Está havendo uma Copa aí, e estamos disputando com os maiores países do mundo a Copa do Mundo. Pode ganhar, pode não ganhar, mas temos condições de ganhar a copa. Estamos disputando de igual para igual. Na ciência não, nós estamos atrás. Por quê? Porque não temos condições adequadas para atrair os jovens, para dar condições de trabalho, para criar programas mobilizadores, e essa é uma Copa que a gente joga todo dia. Nossos jovens estão indo embora, não estão querendo buscar carreiras científicas. Isso é muito grave.