A presidente de honra da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, (SBPC), Helena Nader, foi a homenageada na cerimônia de encerramento da XXXIII Reunião anual da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (FeSBE) com a medalha “Science Service Award 2018”. Na ocasião, o presidente da FesBE, Hernandes Carvalho, destacou o papel significativo de Nader em prol da ciência nacional.
Muito emocionada, Nader agradeceu a todos os membros da diretoria e a cada uma das 22 sociedades afiliadas à FeSBE. Em sua conferência, na qual questionou por quê investir em ciência, tecnologia e inovação em um país que despreza sua história, Nader mostrou dados que, de acordo com sua percepção, trazem muitas alegrias e outros que, por outro lado, envergonham a qualquer um e podem levar a perda de gerações.
Para ela, um dos atuais problemas, no ensino médio, é a falta de uma base comum curricular, que acaba por levar a um alto índice de abandono dos jovens. E o que se observa são crianças fora da escolar sem perspectivas.
Em relação ao ensino superior, Nader também destacou a crise que, para ela, é causada também pelo o número excessivo de universidade privadas que visam o lucro e não a qualidade do ensino. Segundo seus dados, 75% das matrículas no ensino superior estão em instituições particulares, apesar do aumento substancial de vagas nas universidades públicas. Ela acredita que o ensino deve estar sob o controle do Estado, mesmo que existam cursos privados.
Apesar da expansão do ensino superior, no Brasil o número de matrículas ainda está muito aquém de outras nações da América Latina. Ela ainda apontou o pouco investimento que o País faz na formação superior se comparadoa outras nações. “É muito pouco e ainda mais em um país que precisa”. Isso também tem se refletido no número de publicações científicas. “Infelizmente, estamos caindo no ranking internacional de produtividade. Agora, o País está na 14aposição, de acordo com dados do SCimago”, apontou.
Mas não apenas dados negativos foram apresentados e Nader falou do orgulho de observar os dados da expansão da pós-graduação, principalmente, no Norte e Nordeste do País. “Não adianta o Sul e Sudeste ficarem muito bem. Nós somos uma federação e observar esse crescimento é muito bom”, afirmou.
Nader ainda mostrou dados sobre internacionalização da pesquisa. De 20 mil instituições de 77 países, 21 universidades brasileiras estão nesse ranking, sendo 13 federais, quatro estaduais e quatro confessionais.
Por fim, ela ressaltou a importância de acreditar que dias melhores virão, mesmo em um momento tão delicado como o atual. Segundo ela, os jovens devem continuar sonhando. Outros momentos difíceis já foram vivenciados, como a ditadura militar e, no caso da ciência, a falta de financiamento, mas apesar disso, houve avanços. “Não deixe que a negatividade abale a vida de vocês, pois sem os jovens não teremos realmente futuro e sem educação e saúde não conseguiremos reverter o atual quadro de pobreza e a pouca perspectivas para nossos jovens no País”, concluiu.
A cerimônia de encerramento da FeSBE ainda premiou as pesquisadoras Lirlândia Pereira de Souza e Michele Sugimoto, ambas da Universidade Federal de Minas Gerais, como “Best 2017 publication by a member of the affiliated societies”. No valor de R$ 15 mil reais, o prêmio foi em reconhecimento ao trabalho publicado no periódico científico Blood, em 2017.
Sugimoto afirmou ter vivenciado esse processo de falta de recursos e incentivos apresentado pela professora Helena Nader e que só foi possível alcançar este prêmio em virte de uma intensa colaboração com laboratórios nacionais e internacionais. “Ficamos, eu e a professora Lirlância, muito honradas com este prêmio, pois vivemos exatamente esse contexto apresentado pela professora Nader. Por isso, nosso muito obrigada.”
Ascom – FeSBE