A fusão dos ministérios do Meio Ambiente (MMA) e da Agricultura (MAPA) seria uma má notícia para ambas as pastas, segundo especialistas, com prejuízos comerciais para o agronegócio e o risco de perdas irreparáveis para a conservação e o uso sustentável do patrimônio natural do País.
“É lamentável que isso esteja indo adiante”, diz a advogada Brenda Brito, pesquisadora associada ao Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). “O Brasil tem o maior patrimônio ambiental do planeta. Só isso já justifica a existência do MMA. Em vez de enfraquecido, o ministério deveria ser fortalecido.”
“O MMA lida com um conjunto de temas muito mais transversal do que a agricultura”, diz o ecólogo Jean Paul Metzger, da Universidade de São Paulo (USP). “Essa transversalidade precisa ser preservada.”
A comparação com países do Hemisfério Norte, que eventualmente tenham uma estrutura ministerial desse tipo, não serve como justificativa, segundo ele, visto que nenhum deles possui um patrimônio ambiental comparável ao do Brasil. São realidades muitos diferentes, diz o pesquisador.
A queixa não é apenas dos ambientalistas. O atual ministro da Agricultura, Blairo Maggi, e outros representantes do setor rural também questionam a lógica da fusão.
“É uma ignorância completa. O Brasil tem muito a perder com isso”, diz o pesquisador Britaldo Soares, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que estuda o desmatamento do Cerrado e da Amazônia. Segundo ele, já existe há alguns anos uma tendência de retrocesso na política ambiental brasileira, que deverá se agravar com a fusão dos ministérios.
Mesmo que nenhuma lei seja mudada, diz ele, a sinalização que está sendo dada pelo futuro governo é que a proteção do meio ambiente não será prioridade. “O desmatamento é muito influenciado por sinais políticos de Brasília”, afirma Britaldo, que coordenado o Centro de Sensoriamento Remoto da UFMG. “Só o discurso já tem um impacto muito grande sobre o que acontece no campo.”
“De fato, não faz sentido, pois meio ambiente é algo muito mais amplo do que agricultura. Se a ideia é reduzir o número de ministérios, poder-se-ia pensar num Ministério do Desenvolvimento Sustentável, unindo meio ambiente com a responsabilidade de acompanhar de modo transversal no governo a implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, sugere Carlos Nobre, pesquisador aposentado do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas, que há décadas estuda o clima e o desenvolvimento da Amazônia.
Veja o texto na íntegra: Blog Herton Escobar/Estadão.com