Cientistas pedem a Marcos Pontes mais recursos e menos burocracia

"Esperamos que ele tenha diálogo com a comunidade científica", afirma o presidente da SBPC, Ildeu de Castro Moreira

Menos burocracia e mais recursos financeiros — são esses os pedidos dos cientistas que trabalham no país a Marcos Pontes, o futuro ministro de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. Ele foi confirmado nesta quarta-feira (31) para o cargo pelo presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL).

O nome foi recebido com naturalidade pelas comunidades científicas ouvidas pelo UOL. Muitos destacam a formação sólida e a popularidade do astronauta como pontos favoráveis.

“Nós discutimos muito mais as políticas do que os nomes”, diz Ildeu de Castro Moreira, presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência).

Para Natalia Pasternak Taschner, presidente do Instituto Questão de Ciência, o ministro terá pela frente também a missão de dar mais agilidade ao setor.

“Um desses problemas é a burocracia. Não temos, por exemplo, lei de doação para universidade e para institutos de pesquisa de forma regulamentada, nem a melhor regulamentação de importação de insumos para pesquisa. A ciência brasileira precisa ser desburocratizada”, diz Natalia.

Para o presidente da SAB (Sociedade Astronômica Brasileira), Reinaldo de Carvalho, a escolha é positiva.

“É importante que a indicação para o ministério seja feita com base em critérios essencialmente técnicos”, afirma. “Ele tem sólida formação no ITA e experiência de caráter científico junto à Nasa, elementos fundamentais para quem vai liderar uma pasta de valor estratégico para o governo que se inicia”, diz Carvalho.

O apelo de Pontes junto à população também é visto como um ativo positivo.

“A população e o poder público não têm uma avaliação da real importância da ciência para o desenvolvimento do país, e ele tem uma popularidade que pode ser aproveitada para fazer essa aproximação, inclusive priorizando a ciência básica”, diz. “Ciência aplicada e tecnologia já estão mais próximas da população, mas a ciência básica não e nós precisamos priorizar o investimento nessa área”.

Falta dinheiro

O futuro ministro terá vários desafios pela frente, a começar pelos recursos para a área.

Durante a campanha, Pontes disse à ABC (Academia Brasileira de Ciências) que Bolsonaro pretendia ampliar o investimento em ciência e tecnologia (“C&T”, no jargão da área) para até 3% do PIB, contra cerca de 1,2% atual.  A comunidade científica pede ao menos 2%.

“Temos uma audiência pública no dia 7 no Congresso para discutir o orçamento de 2019 para a área de C&T”, diz Moreira, da SBPC.

Diálogo

“Esperamos que ele tenha diálogo com a comunidade científica”, afirma o presidente da SBPC.

Outro problema é a falta de interação com os demais ministérios. “Não há como defender a ciência e a biodiversidade sem interagir com o Ministério do Meio Ambiente, ou como falar em políticas públicas baseadas em evidências na área da saúde sem interagir com o Ministério da Saúde. Não dá para dissociar meio ambiente ou saúde de ciência. As pastas precisam se consultar, conversar entre elas e consultar a comunidade científica”, argumenta.

Para Natália, Pontes também terá o desafio de atuar caso ideias mencionadas na campanha, como o ensino do criacionismo, avancem no Planalto.

Carvalho, da Sociedade Astronômica Brasileira, menciona como desafios a falta de políticas de Estado para a ciência.

“Todas as áreas são igualmente importantes. Nós só esperamos que a nossa área seja contemplada de maneira coerente e objetiva, e olhando para o futuro do país. É importante lembrar que a astronomia moderna possui grande sinergia com o desenvolvimento de tecnologia de ponta e, portanto, deveria ser uma área estratégica para o governo”, disse ao UOL .

A expectativa é de que o novo ministro também contribua para a maior participação do Brasil nos grandes projetos de observação astronômica mundiais e para o retorno ao ESO (Observatório Europeu do Sul), do qual o país foi suspenso em março.

“Acreditamos que o novo ministro, por sua formação, terá a percepção correta do que essa adesão representa não só para a astronomia, mas para a ciência brasileira. Tornar-se membro do ESO significa ser coproprietário da maior organização de astronomia do planeta, ter acesso à tecnologia de ponta desenvolvida nos telescópios e instrumentos de observação e participar de projetos de alto impacto científico e educacional como protagonistas”, disse.

Jornal Floripa