Mais de 70 representantes de núcleos de pesquisa e extensão de diversas áreas do conhecimento se reuniram nessa segunda-feira (28) na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para discutir atuação em auxílio à comunidade e às centenas de vítimas da tragédia causada pelo rompimento de uma barragem da Vale em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, bem como propostas para a atividade mineradora e seus impactos sociais e ambientais. Entre os participantes estavam pesquisadores da Fiocruz, da PUC Minas e da Universidade Federal de Juiz de Fora, além da UFMG.
De acordo com a assessoria de comunicação da federal mineira, como resultado da reunião, foram definidas ações de curto, médio e longo prazos. De imediato, a universidade mobilizou setores para colaborar com o socorro às vítimas nos dois hospitais (Clínicas e Risoleta Neves) e na Escola de Veterinária, com professores, alunos e residentes de prontidão para se deslocar até a área, medicamentos preparados, além de especialistas em clínica e cirurgia.
Como medidas de médio e longo prazo serão criados grupos de trabalho por temas, envolvendo as pró-reitorias acadêmicas (Graduação, Pós-graduação, Pesquisa e Extensão) e a abertura de um edital de apoio financeiro a projetos destinados à população e ao meio ambiente.
No âmbito técnico, especialistas da área de Engenharia de Minas organizaram um workshop que acontecerá na próxima terça-feira (5/2), para discutir novas formas de mineração, utilizando a tecnologia e a inovação. O evento será às 14hs no Auditório 2 da Faculdade de Ciências Econômicas (FACE/UFMG) e terá como convidados os professores do Departamento de Engenharia de Minas Roberto Gallery, Evandro Gama e Beck Nader, sob a coordenação de Bernardo Campolina, da FACE. Segundo o comunicado do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da UFMG, o objetivo é identificar as diversas tecnologias disponíveis para a mineração, avanços científicos e tecnológicos no setor. Três temas serão abordados: extração, barragens e seu monitoramento e alternativas para lidar com rejeitos.
O workshop tem apoio da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), assim como outras iniciativas da comunidade científica no sentido de encontrar soluções para enfrentar esta situação e similares, garantiu o presidente Ildeu Moreira. “A SBPC participou da reunião da UFMG, estamos conversando com outras entidades, como as associações ligadas às áreas de geologia e engenharia; ontem falei com o presidente da Academia Brasileira de Ciências, com o diretor da Coppe e o reitor da UFRJ, entre outros, para vermos as ações que podemos fazer em conjunto”, acrescentou Moreira.
A SBPC está entre as diversas entidades científicas que se colocaram à disposição da UFMG para auxiliar na interação com a comunidade científica e acadêmica em busca de uma solução mais estrutural para os problemas causados pela atividade mineradora. “Vamos atuar para articular os vários setores com opinião abalizada sobre o desastre e contribuir com especialistas e estudos para encontrar novas tecnologias”, comentou o conselheiro Eduardo Mortimer, que representou a SBPC na reunião da UFMG.
Em uma segunda frente de atuação, disse Moreira, a comunidade científica deverá agir institucionalmente, com “pressão política para que autoridades cumpram seu papel de maneira adequada, em particular na fiscalização”. “Já se atuou assim no caso de Mariana, quando setores sociais diversos pressionaram para que a legislação fosse cumprida, as multas (aplicadas à Samarco) fossem pagas, e a população atingida fosse indenizada em função do prejuízo imenso causado, embora as vidas não possam ser recuperadas”, afirmou. Infelizmente por omissões variadas de governos e de setores da justiça, isto não foi adequadamente cumprido.
A pressão pode ser feita por meio de manifestos e ações junto aos congressistas, às assembleias legislativas e às instâncias governamentais. “O papel das entidades científicas é também, além de discutir soluções e alternativas, pressionar governos e o legislativo, bem como participar de atos e manifestações. Mas isso só ganha força se muitos outros setores se juntarem a nós”, declarou Ildeu Moreira, acrescentando que, embora o debate sobre novos métodos e tecnologias de mineração seja importante, é necessária a decisão política de fiscalizar e de forçar as empresas a investir em novos processos técnicos e na segurança para evitar tragédias anunciadas como a de Brumadinho.
Mortimer lembrou que já existem técnicas de contenção de resíduos a seco e de reaproveitamento dos resíduos de mineração para a fabricação de tijolos para a construção. “O Brasil tem expertise, mas não adianta estudo acadêmico se não for colocado na prática. Essas empresas (de mineração) ganham bilhões em lucros, mas nem sempre estão dispostas a investir na preservação da vida das pessoas e do meio ambiente”, completou Moreira. Para o presidente da SBPC, compete também ao governo, em especial aos Ministérios da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações e de Minas e Energia, mobilizar universidades, instituições de pesquisa, as áreas de engenharia e geologia e outros especialistas para discutir e encontrar soluções.
A reitora Sandra Regina Goulart Almeida afirmou esperar que as autoridades apurem as responsabilidades, se houve alguma falha de fiscalização ou da empresa e que a UFMG, como instituição de pesquisa, pode auxiliar esse processo com todo o conhecimento que tem acumulado. “Temos que trabalhar para apurar as causas da tragédia para que Brumadinho não aconteça nunca mais”.
Janes Rocha, Jornal da Ciência