O engenheiro Clélio Campolina Diniz ocupou o posto mais alto da Ciência e Tecnologia brasileira entre 17/03/2014 a 01/01/2015, no governo Dilma Rousseff. Ele é um dos ex-titulares da pasta consultados pelo Jornal da Ciência sobre o cenário atual do setor e estratégias de atuação.
Cada um deles respondeu, por telefone ou e-mail, a três questões: Como vê a Ciência e a Tecnologia no Brasil hoje? Que estratégia sugere para a comunidade científica para atuar nesse cenário? e Que estratégia sugere para o desenvolvimento futuro?
Os oito depoimentos estão publicados na nova edição impressa do Jornal da Ciência que circula essa semana. Até sexta-feira (19/7) o JC Online vai publicar no site os depoimentos completos, dois por dia. Leia a seguir a entrevista de Diniz:
JC – Como vê a Ciência e Tecnologia no Brasil hoje?
Clélio Campolina Diniz – O Brasil evoluiu muito nas últimas décadas em termos de avanço científico, da qualificação de pesquisadores, da rede de pesquisas em universidades e de alguns grandes sucessos, com o destaque para Embraer, agricultura com o papel da Embrapa, pesquisa em águas profundas, entre outras coisas. O que falta é exatamente uma aproximação entre a produção científica e sua aplicação científica, esse seria o grande salto. Quando eu era ministro fizemos o programa Plataformas do Conhecimento que era a ideia de um programa para 20 anos, tentando articular ciência, com o sistema científico e políticas públicas. É o que o mundo está fazendo, os americanos, alemães estão fazendo isso de forma acelerado. Infelizmente, as questões de CT&I são de médio e longo prazo. Essa parada é dramática porque o mundo está em uma corrida científica e tecnológica sem precedentes. Os cortes de investimentos e verbas, recursos para universidades e instituições de pesquisa e a própria crise industrial, desmobilizando os empresários que estavam fazendo um esforço de modernização tecnológica. Por exemplo, o Movimento Empresarial pela Inovação (MEI) é uma iniciativa muito positiva, mas precisa articular os empresários com a produção cientifica brasileira e as políticas de fomento (BNDES, Finep, etc.). Então eu vejo de forma extremamente preocupante essa freada dos investimentos, sejam os públicos, sejam os privados.
JC – Que estratégia sugere para a comunidade científica para atuar nesse cenário de restrições orçamentárias?
CCD – Eu sugiro primeiro tentar convencer o governo de que CT&I é investimento, não gasto. É um investimento no futuro, seja para o crescimento econômico, seja para o maior aproveitamento das potencialidades nacionais, seja para a solução de problemas sociais. Há vários campos de alta potencialidade como os biofármacos e outros. Também é necessário resistência, as universidades têm que resistir, tentar manter suas pesquisas. Os pesquisadores são muito engajados, eles vestem a camisa, mas isso tem uma temporalidade: sem suporte à pesquisa, sem suporte a laboratórios, recursos, fica difícil de ser mantido. Tem que agir agora, enquanto ainda há tempo porque houve um grande avanço da ciência brasileira, o país está hoje na 13ª posição em termos de artigos científicos publicados, temos ilhas de modernidade com potencial enorme, e é preciso convencer o empresariado brasileiro que o investimento em CT&I é a forma de assegurar o futuro deles.
JC – Que estratégia sugere para o desenvolvimento futuro?
CCD – Para o futuro acho que devemos convencer o governo a fazer programas em que CT&I tenha um destaque horizontal. O Brasil precisa começar a planejar um projeto de nação que combine crescimento econômico com justiça social, que passe pela expansão econômica, modernização tecnológica, processos de inovação. Então o Brasil está hoje com em torno de 1% do PIB como gasto em pesquisa e desenvolvimento, países como a Coreia já estão com 4,3% querendo caminhar para 5%, o Japão e a Alemanha estão com mais de 3%, os EUA com 2,9%, a China com 1,9% e em crescimento acelerado. O mundo todo está investindo muito em CT&I como forma de assegurar o crescimento, e o Brasil teria todas as condições de entrar para esse clube, mas se a gente mantivesse o investimento em CT&I e ampliasse a ponte dessa produção científica com o sistema produtivo, como já temos casos de absoluto sucesso como o ITA, CTA, a criação e desenvolvimento da Embraer, todo o desenvolvimento da agricultura brasileira baseada nas pesquisas das universidades, na Embrapa em aliança com o sistema empresarial, as cooperativas de produtores. O caso da Petrobras é singular, não pode misturar a divulgação de problemas de corrupção com a competência.
Os depoimentos dos ex-ministros estão reunidos neste link.
Janes Rocha – Jornal da Ciência