No dia 11 de setembro último, o Ministério da Educação fez questão de, com muito alarde e em tom de comemoração, anunciar que estava retomando cerca de três mil bolsas de pesquisas que haviam sido cortadas pelo governo federal. Em meio a um cenário violentíssimo de cerco e ataques à produção de conhecimento – 84 mil auxílios para pesquisa foram ou serão cortados nos próximos meses e instituições como Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) viram seus orçamentos serem reduzidos drasticamente -, a notícia soou, num primeiro momento, como um respiro, ainda que bem suave.
Durou pouco, foi apenas sonho de uma noite de inverno, e a verdade rapidamente veio à tona. As 3.182 bolsas que a Capes estava liberando não eram benefícios novos. Havia no anúncio do ministro um malabarismo de discurso. O pesquisador Eduardo Sterzi, doutor em Teoria e História Literária pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenador de um programa de pós-graduação na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), cravou, na página dele no Facebook: “Alô, jornalistas: não caiam nessa história da Capes de que estão sendo liberadas 3182 bolsas NOVAS. Falo como coordenador de um programa com nota máxima que, se a notícia for verdadeira, terá todas as suas bolsas preservadas. Não há nada de novo nessas bolsas. São bolsas com que os programas de pós já contam há anos. Na verdade, a notícia deveria ser que, das mais de 11 mil bolsas bloqueadas, APENAS 3182 foram liberadas – e que o critério para liberá-las, a partir das notas alcançadas pelos programas na avaliação quadrienal, pode significar o fim de programas em consolidação, ao mesmo tempo em que amplia o fosso que separa programas mais recentes de programas já consolidados, programas de universidades menores de programas de universidades maiores”.
A situação é, portanto, dramática. Diante de um projeto de ataques orquestrados e de desmanche sem precedentes do universo da ciência e tecnologia, que praticamente inviabiliza qualquer perspectiva de soberania ou de ideia de projeto nacional, a reportagem da revista Giz conversou com exclusividade com o físico Ildeu de Castro Moreira, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e reconhecido divulgador de ciência, Moreira se diz indignado com o tratamento dado à área pelo atual governo e garante que a comunidade científica do país está firme e atuante, contando com o apoio da população brasileira para defender a ciência, o livre pensar e garantir que o país continue avançando e produzindo conhecimento.
Leia a entrevista: Revista Giz