“A ciência é capaz de transformar vidas, é capaz de desenvolver o País”; “Os cortes podem prejudicar o desenvolvimento do Brasil, podem prejudicar pesquisas em saúde”; “Investir em ciência e tecnologia, é investir no presente e, principalmente, na construção do futuro do nosso país”; “Precisamos urgentemente defender a ciência brasileira”; “Sem o auxílio financeiro público, nenhuma dessas pesquisas brasileiras existiriam”.
Essas são algumas das preocupações levantadas pelos participantes da campanha “Ciência, pra que ciência?“, que já chegou ao 100º vídeo publicado. Lançada pela SBPC com o objetivo de chamar a atenção para o desmantelamento do sistema nacional de C&T brasileiro, a campanha reúne depoimentos de cientistas, professores e estudantes mostrando como a ciência desenvolvida aqui no Brasil, com apoio das agências públicas, é importante para o desenvolvimento do País.
Entre os participantes apreensivos com a situação da ciência brasileira está Nísia Trindade Lima, presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que há mais de 30 anos tem trabalhado com ideias chave para pensar a sociedade brasileira. “Desde 2017, sou presidente da Fiocruz. Uma instituição de ciência, de saúde de educação, vinculada ao Ministério da Saúde, que vai completar 120 anos e, desde a sua origem se dedica a enfrentar grandes desafios sanitários e para a saúde dos brasileiros em campanhas como as de febre amarela, de varíola, no início do século e, recentemente, com várias ações de pesquisa, de desenvolvimento, de tecnologias, de produção, de vacinas, de medicamentos. Tendo um papel central em relação, por exemplo, na epidemia de zika e no estabelecimento da relação com a síndrome que infelizmente, afetou tantas das nossas crianças. Todo esse trabalho é fundamental para pensarmos um país soberano com mais justiça e equidade”, explica em seu depoimento.
O reitor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Marcelo Knobel, explica em seu depoimento o quanto que a ciência pode ser importante para beneficiar a população. “Sou físico, trabalho com magnetismo, materiais magnéticos, e quando comecei trabalhar com isso, não tinha nem ideia de que esses materiais que eu estudava poderiam ser aplicados na medicina. Hoje, os materiais nanoestruturados com que eu trabalho podem ser aplicados, funcionalizados para se ligarem a tumores específicos e, por exemplo, matar células cancerígenas. Imagina o desenvolvimento que isso pode trazer para a saúde de toda a população? Este é só um exemplo de milhares e milhares que existem por aí. A ciência é capaz de transformar vidas, é capaz de desenvolver o País. Vamos apoiar a ciência cada vez mais”, diz.
Larissa do Rego Barros Matos, que desenvolve seu projeto de pós-doc no Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, reforça o coro de que os cortes vão prejudicar a população brasileira. “A minha pesquisa consiste em investigar as bactérias do nosso corpo, a microbiota, e a sua correlação com a nossa genética e o ambiente em que a gente vive. É importante estudar as microbiotas porque há evidências de que essas bactérias contribuem para o surgimento de algumas doenças, como Parkinson, Alzheimer e autismo. O meu projeto é todo custeado pelo CNPq, que vai desde a compra dos materiais e equipamentos até o pagamento da minha bolsa, o que permite que eu tenha dedicação exclusiva a esse projeto. Os cortes do CNPq vão impedir que a minha pesquisa seja desenvolvida e impedirá que a gente tenha futuramente equipamentos de diagnóstico que contribuam para o diagnóstico personalizado dessas doenças”, afirma.
Lucas Ferreira Correa, mestrando do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo, que veio de Santana, no Amapá, para estudar em São Paulo, conta no vídeo que os cortes põem em risco a continuação de seu mestrado e a continuidade de sua pesquisa. “Estar aqui na USP é uma realização para mim, para minha família e para a minha cidade”, ressalta. E completa, “sem o auxílio, eu não tenho como viver em São Paulo”. Segundo ele, muito mais que sua sobrevivência, os cortes colocam em risco os sonhos de muitas crianças e adolescentes que estão em Santana e em tantas outras cidades pequenas no Brasil e que não terão incentivo algum para chegar a uma faculdade. “Isso aumenta muito a desigualdade e enfraquece o futuro da pesquisa do Brasil”, lamenta.
Já Rogério Almeida Gouvêa, doutorando da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, comenta que com os cortes em ciência e educação, o Brasil pode perder sua capacidade de inovação e desenvolvimento tecnológico ao explicar sua pesquisa. “Minha pesquisa é sobre células solares de última geração. Trabalho fazendo simulação computacional do material dessas células porque existe um esforço grande para aumentar eficiência desses dispositivos e viabilizar uma fonte de energia limpa e renovável a partir da nossa fonte mais abundante que é a energia solar. Essa área de pesquisa é bem específica e poucas pessoas trabalham com ela no País. Ela não tem como se perpetuar fora do meio acadêmico. Não existe nada na iniciativa privada. Essa é uma área que se continuar os cortes de recursos ela vai minguar e desaparecer, comprometendo a nossa capacidade de inovação e desenvolvimento tecnológico”, afirma.
O professor aposentado Nestor Santos Correia, da Universidade Estadual de Santa Cruz, diz, em um dos vídeos da campanha, sobre como as bolsas do CNPq e da Capes possibilitaram sua formação como pesquisador – do mestrado ao pós-doutorado na Universidade de Uppsala, na Suécia. E graças a essa sólida formação, ele contribuiu para a formação de centenas de pesquisadores aqui no Brasil. “É muito importante o investimento público em ciência. Não podemos parar com isso. Isso me deu não só a possibilidade de me formar, como de trabalhar em oito universidades públicas, no Brasil e na Suécia. Formei muitos alunos, de mestrado, doutorado, graduação. E trabalhei em popularização da ciência, no Caminhão Com Ciência, na Uesc, onde continuo trabalhando. E ainda faço pesquisa na universidade de Uppsala. Tudo de graça, não tenho mais salário. Sou aposentado”, declarou.
Os vídeos estão sendo publicados diariamente nas redes sociais da SBPC e disponibilizados também em uma playlist da TV SBPC, no YouTube.
Participe das ações da SBPC em defesa a ciência brasileira
A campanha “Ciência, pra que Ciência?” soma forças às intensas manifestações que a SBPC, com apoio de outras entidades científicas do País, vem realizando em defesa dos recursos para a viabilização da Ciência no Brasil, como o abaixo-assinado online #SomosTodosCNPq. A petição foi entregue ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia em agosto. Ela continua disponível neste link para quem ainda quiser assinar. Falta muito pouco para chegar a 1 milhão de assinaturas – ajude a chegarmos a esta importante marca!
A SBPC convida todos os estudantes e pesquisadores, desde a iniciação científica até a pós-graduação, bolsistas e ex-bolsistas, profissionais de todas as áreas e todos os amigos da ciência a participar da campanha “Ciência, pra que ciência?” e compartilhar suas histórias, que serão amplamente divulgadas nas redes sociais da entidade. Basta gravar um breve vídeo, com duração de 30 segundos a um minuto, acessar este link, preencher um breve formulário e seguir as instruções para carregá-lo. O depoimento pode ser gravado em celular mesmo, em alta definição, com o aparelho na horizontal.
Envie seu vídeo para a campanha “Ciência, pra que Ciência?” aqui.
Jornal da Ciência