Se os percalços de 2019 nos levaram a questionar o que será do amanhã, temos também esperança de que existem saídas para o futuro. Elas devem ser buscadas e construídas coletivamente. Existe futuro porque temos um Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia consolidado, com instituições de pesquisa e agências de fomento que contribuíram fortemente para o avanço da Ciência, Tecnologia & Inovação (CT&I) no País, como se pode observar pela produção científica brasileira de alto nível, com impactos relevantes.
Nesta edição do Jornal da Ciência fazemos o necessário balanço de nossas potencialidades. Destacamos a resposta aos cortes orçamentários e a criação da Iniciativa para Ciência e Tecnologia no Parlamento (ICTP.br), movimento organizado pela comunidade acadêmica e científica para atuação permanente junto aos parlamentares no Congresso Nacional, em Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais, em prol do desenvolvimento científico e tecnológico. Representantes das entidades que compõem a ICTP.br colaboraram com esta publicação com suas visões sobre como pensar o futuro diante do cenário de escassez e retrocessos. E, principalmente, como podemos criar condições para seguir avançando.
Mostramos os avanços na área de nanotecnologia em entrevista exclusiva com um dos maiores expoentes da área, o professor Oswaldo Luiz Alves, da Unicamp. Respondemos ao recrudescimento do racismo com a edificante história dos estudantes pardos e negros que finalmente passaram a ser maioria nas universidades, graças a políticas públicas escoradas em estudos científicos. As ciências sociais estão ajudando o País a refletir sobre os efeitos do relaxamento da atual legislação sobre o controle do acesso a armas de fogo. Também colocamos em discussão o risco de retrocesso em batalhas na área da saúde pública que já tinham sido dadas como vencidas por instituições brasileiras de excelência, como a Fiocruz e o SUS.
Ou seja, a base científica e tecnológica conquistada ao longo de décadas nos faz pensar que temos futuro para a ciência brasileira, sim, mas a crise atual da CT&I pode inviabilizar essa esperança. Os recursos para CT&I foram reduzidos ou bloqueados – chegaremos a 2020 com o menor orçamento da última década. As missões das agências de fomento estão sendo questionadas, com a possibilidade de fusão da Capes e do CNPq, de desmantelamento da Finep e a extinção do FNDCT. Apesar disso, graças às manifestações conjuntas de nossa comunidade científica e à atuação de parlamentares, conseguiu-se que o orçamento do MCTIC voltado para a ciência fique imune a contingenciamentos posteriores.
Com muito esforço, estamos conseguindo fazer com que essa imensa engrenagem da ciência brasileira continue em movimento. Neste ano de grandes desafios e crescentes ataques ao conhecimento e às instituições científicas, nos manifestamos com veemência em defesa da autonomia de nossas universidades, da liberdade de ensinar e aprender, da qualidade e importância da ciência que é produzida aqui no Brasil, da valorização de todas as áreas do conhecimento. Batalhamos pela liberação total dos recursos que garantiriam o pagamento das bolsas dos nossos mais de 200 mil pesquisadores brasileiros. Nos dirigimos a deputados, senadores, ministros, governadores, STF e presidente da República por melhores políticas ambientais, educacionais, científicas e tecnológicas, pelo respeito à Constituição, pela democracia e pelo Estado de Direito.
O futuro não está dado. Sua construção depende de nós.
Boa leitura e que tenhamos um 2020 com mais conquistas!
Ildeu de Castro Moreira, presidente da SBPC
Fernanda Sobral, vice-presidente da SBPC
Jornal da Ciência