Entidades científicas e da área de saúde se manifestam sobre nova portaria do governo de Santa Catarina

Em ação coordenada pela SBPC-SC, entidades reforçam a necessidade de seguir no isolamento social e de o governo do Estado confiar na ciência

ENTIDADES CIENTÍFICAS DE SANTA CATARINA COBRAM COERÊNCIA DOS GOVERNANTES

No dia 6 de abril, uma força-tarefa de cientistas e profissionais da saúde, apoiada por mais de 70 entidades da área (municipais, estaduais e nacionais) e que conta com o suporte científico da própria Fiocruz do Rio de Janeiro, alertou para o caráter precoce e equivocado da Portaria 223 do Governo do Estado, que afrouxava as regras de isolamento social em SC.

No dia 7 de abril, a Secretaria Regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC-SC) manifestou nas redes sociais seu apoio à postura adotada pelo Prefeito de Florianópolis, em um vídeo no qual ele deixava claro que os casos contabilizados na cidade, no estado e no Brasil estão largamente subestimados, em virtude da falta de testes de diagnóstico. Gean Loureiro encerra sua fala alertando para a importância do isolamento social. Ainda no dia 7/4, fomos informados que o Governador do Estado decidira, através da Portaria 230, flexibilizar ainda mais as regras de isolamento social, permitindo agora, não apenas os serviços essenciais e não essenciais previamente aprovados (como construção civil, salões de beleza e barbearias), mas também o setor automotivo, incluindo aí vendas de automóveis, lavação e até lojas de acessórios.

Finalmente, na manhã de hoje, 8 de abril, assistimos à entrevista do Secretário da Saúde do município de Florianópolis, o Professor Paraná, concedida ao jornal Bom Dia Santa Catarina. Nela, podemos observar uma grande contradição por parte da Prefeitura, com o reconhecimento de que estamos em pleno processo de expansão da epidemia, de que não temos testes suficientes nem estatísticas confiáveis, de que ainda não estamos totalmente preparados para um pico de internações e que, portanto, o isolamento social ainda é essencial. Ao mesmo tempo, o gestor municipal, a exemplo do que fez o Governador Moisés na véspera, remete a responsabilidade desse isolamento para cada cidadão e cidadã, como se uma questão de saúde coletiva da mais alta gravidade pudesse ser solucionada por decisões de cada indivíduo, em um contexto em que o próprio governo dá os sinais de que sair de casa para atividades supérfluas, como fazer as unhas ou comprar acessórios para o carro, é aceitável. Mais do que isso, pode até ser benéfico para a economia, que vai se normalizando aos poucos.

Na própria fala do Governador, ao mesmo tempo em que anuncia a abertura de mais setores, medida que, para ter sentido, depende de que mais pessoas decidam sair de casa, ele alerta que a tendência é que a situação se agrave e que o isolamento social ainda é o método mais efetivo. Perguntamos: Como se pode afirmar que “a curva de crescimento de casos está mais atenuada” se não dispomos de testes para todas as pessoas com suspeita de contágio e se podemos afirmar, com segurança científica, que nossos dados estão subestimados? Como nossos governantes esperam que o cidadão comum decida, por conta própria, se vai ou não sair de casa diante de informações contraditórias e conflitantes? De quem será a responsabilidade se houver uma explosão no número de casos e de óbitos? Da população, que não soube entender que decisões da área econômica podem não fazer sentido do ponto de vista sanitário, mas que é assim que os chefes do governo resolvem a falsa dicotomia entre economia e saúde, dizendo que cabe ao cidadão decidir?

Vimos, portanto, por meio de mais esta nota, que está sendo amplamente divulgada e enviada aos órgãos de imprensa, cobrar COERÊNCIA E RESPONSABILIDADE de nossos governantes, diante de uma crise que, não somente é a mais grave que já enfrentamos, como também é a mais coletiva, significando que UNIDADE de ações e informações por parte dos governos municipais, estaduais e federal é absolutamente essencial. Pelo respeito à ciência. Pela manutenção do isolamento social.

Secretário Regional da SBPC em Santa Catarina (SBPC-SC), Coordenador da Força-tarefa de cientistas para o enfrentamento da pandemia Covid-19 no estado de SC

Professor André Ramos