A crise do coronavírus demanda ciência em vários níveis, diz Sidarta Ribeiro

Diretor da SBPC fala sobre a importância da participação de todos na Marcha Virtual pela Ciência, no dia 7 de maio  

Na visão do diretor da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, (SBPC), Sidarta Ribeiro, a crise vivida hoje com a pandemia do novo coronavírus não é apenas sanitária. É também política, econômica, psíquica e emocional da sociedade. Essa é a mensagem que ele pretende levar para a Marcha Virtual pela Ciência.

A Marcha será realizada em 7 de maio, com atividades transmitidas pelas redes sociais da SBPC (@SBPCnet) no Facebook e no YouTube. A manifestação visa reforçar a luta que já dura anos por recursos adequados para o desenvolvimento da ciência e da tecnologia, e para a saúde e educação no País, e reiterar os termos do PACTO PELA VIDA E PELO BRASIL, publicado em 7 de abril. O documento, elaborado pela CNBB, OAB, Comissão Arns, ABC, ABI e SBPC e que ganhou apoio de mais de uma centena instituições e associações, pede a união de toda a sociedade, solidariedade e conduta ética e transparente do governo, tomando por base as orientações da ciência e dos organismos nacionais e internacionais de saúde pública no enfrentamento da pandemia de coronavírus.

Neurocientista, professor titular e vice-diretor do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Sidarta Ribeiro diz que a manifestação é um chamamento para as pessoas que não são cientistas, que compreendam a centralidade da ciência para a solução da crise.

“Para sairmos disso, precisamos de muita ciência em vários níveis: a virologia, a saúde coletiva, a epidemiologia, a economia, a psicologia, a psiquiatria”, analisou. Crítico dos cortes orçamentários sofridos pela Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) nos últimos anos, Ribeiro acha que este é o melhor momento para o governo resgatar as verbas para a área e também para a saúde e educação.

“Nossa luta de décadas pelo aumento dos investimentos de qualidade na ciência, para formação de pessoal altamente capacitado, tem a ver com evitar que a gente chegue numa situação como essa, uma pandemia que não tem fim no horizonte”. A situação do Brasil, na opinião dele, é mais vulnerável devido ao desmonte da ciência nos últimos anos.

“Estamos em um momento de reeducação planetária, todos se tocando de que várias coisas que fazíamos antes não são sustentáveis, não funcionam mais”, afirmou Ribeiro. Para ele, a humanidade está pagando um preço alto pelo despreparo de líderes como o presidente dos EUA, Donald Trump, e do Brasil, Jair Bolsonaro, que subestimam uma doença que está matando milhares de pessoas pelo mundo.

“Quem dera tivéssemos um monte de Angela Merkel (primeira ministra da Alemanha, que tem formação em Química). Não é à toa que a Alemanha está entre os países de maior contenção (da covid-19), embora ainda, como ela disse recentemente, caminhando sobre gelo fino. Nenhum país está a salvo”, afirmou.

Ribeiro acredita que a matriz macroeconômica também está em xeque. “O modelo de vender tudo para capitalistas que moram bem longe já deu errado. Agora não tem dinheiro, ninguém pode comprar nada, estamos em uma crise tão profunda do capitalismo que é uma grande oportunidade para reinventar esse modelo”, declarou.

Ao longo desta semana, a SBPC divulgará entrevistas, vídeos e depoimentos escritos de representantes das entidades científicas e acadêmicas, pesquisadores, estudantes e professores sobre temas de ciência, educação e saúde e convocando para a Marcha. Todos são convidados a participar dessa grande manifestação em defesa da vida, da ciência e do desenvolvimento sustentável do País!

Veja aqui como você pode participar da Marcha Virtual pela Ciência.

Janes Rocha – Jornal da Ciência