Marcha simboliza união entre conhecimento e solidariedade

Presidente da Andifes destaca a defesa da universidade como o lugar onde se faz ciência no Brasil

A Marcha Virtual pela Ciência simboliza a união estreita entre conhecimento e solidariedade, virtudes intelectuais e morais, necessários para combater a ignorância e defender a vida. E o lugar onde os saberes se unem e se completam hoje no Brasil é a universidade. Essa é a visão do filósofo João Carlos Salles, presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e reitor da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Em sua sétima edição, a Marcha será virtual devido à necessidade de isolamento social. O evento será realizado nesta quinta-feira, 7 de maio, com atividades transmitidas pelas redes sociais da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (@SBPCnet), no Facebook e no YouTube. O objetivo é chamar a atenção para a importância da ciência no enfrentamento da pandemia de covid-19 e de suas implicações sociais, econômicas e para a saúde das pessoas.

Em entrevista ao Jornal da Ciência, Salles lembrou que defender a pesquisa científica no Brasil significa também defender as universidades e os institutos públicos de ensino, que concentram mais de 95% da produção científica do Brasil.

“A ciência se realiza em um ambiente muito particular, sobretudo em nosso país. É verdade que ela pode se realizar em certos centros, em empresas até, mas ela se realiza na universidade, uma instituição que hoje sofre um grande ataque. Defender a ciência é defender as dimensões mais amplas dessa instituição na qual a ciência se realiza”, declarou.

O presidente da Andifes pretende levar para a Marcha Virtual a mensagem de que a universidade é o ambiente no qual ensino, pesquisa e extensão dialogam e mantém laços indissociáveis que propiciam o ambiente para a pesquisa científica. “Atacar esse ambiente é prejudicar na longa duração a ciência”.

Salles observa que o diagnóstico da situação sanitária criada com a covid-19 requer a contribuição de outras disciplinas e defende uma intersecção maior entre as ciências médicas, exatas e humanas. “A sociologia, para compreender como vivem nossas comunidades; a economia, para compreender a situação grave do desemprego e a filosofia para pensar a nossa finitude, o significado da morte e o fato fundamental de que a vida não se negocia, não pode ser precificada”.

Na visão do presidente da Andifes, ter uma atitude adequada diante da pandemia é contribuir para um diálogo mais generoso com as diversas dimensões do saber, sem perder de vista a solidariedade.

“A Marcha pela Ciência não é só defesa da pesquisa, do fomento. É a decisão política de lembrar que hoje precisamos nos mobilizar com gestos generosos de solidariedade.”

Sobre a condição de virtual de um movimento que desde sua primeira edição representou presença nas ruas e nos espaços públicos, convencimento das pessoas cara a cara – hoje impossibilitados pela necessidade de isolamento -, Salles frisa que não deixa de ser uma limitação. “A presença é necessária em manifestações, o encontro é necessário à vida acadêmica e institucional das universidades”, analisa.

Mas ele lembra que os meios tecnológicos podem surpreender e trazer benefícios, propagando pelo mundo a situação em que o País se encontra, a ausência de fomento e as restrições ao trabalho dos pesquisadores. Salles cita como exemplo os “avatares” do aplicativo francês Manif.app que a SBPC adaptou para o Brasil e permitirá que as pessoas mostrem seu apoio à Marcha online, obedecendo as recomendações da OMS de distanciamento social.

“Faremos algo novo, mas estamos aprendendo com esse algo novo a conviver mais e conviver virtualmente, sem esquecer a precedência do presencial, da necessidade de que possamos retornar a esses espaços onde a infraestrutura dos nossos laboratórios continuará exigindo fomento”, conclui.

Ao longo desta semana, a SBPC divulgará entrevistas, vídeos e depoimentos escritos de representantes das entidades científicas e acadêmicas, pesquisadores, estudantes e professores sobre temas de ciência, educação e saúde e convocando para a Marcha. Todos são convidados a participar dessa grande manifestação em defesa da vida, da ciência e do desenvolvimento sustentável do País!

Janes Rocha – Jornal da Ciência