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Especialistas sugerem políticas públicas em RH para áreas de saúde, mar, física e engenharia

País precisa investir tanto na quantidade quanto na qualidade de profissionais nas áreas de saúde, além de novos laboratórios e escolas de medicina, segundo o professor titular de Nefrologia do Departamento de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Nestor Schor, durante o 1º Encontro Preparatório para o Fórum Mundial de Saúde, em São Paulo.

A preocupação com a falta de recursos humanos qualificados nessas áreas centralizou as palestras de especialistas que discutiram sobre o tema central “Desafios da Ciência no Século XXI”, realizadas sexta-feira (31), na sede da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), onde ocorreu o primeiro encontro preparatório para a sexta edição do Fórum Mundial de Ciência, que acontece no Rio de Janeiro, em novembro de 2013.

Conforme o professor titular de Nefrologia do Departamento de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Nestor Schor, o País precisa investir tanto na quantidade quanto na qualidade de profissionais nas áreas de saúde, além de novos laboratórios e escolas de medicina. A ideia é enfrentar as doenças do século, como diarreia, infecções respiratórias, obesidade e as derivadas de drogas e de falta de água, como a dengue e malária – hoje entre as grandes responsáveis por mortes em países em desenvolvimento, principalmente. “Precisamos olhar para o problema na distribuição nacional”, disse ele, ao proferir palestra sobre o “Os desafios das ciências da saúde”.

Com base em dados dos Estados Unidos, o pesquisador citou a estimativa compreendida entre 1996 e 2020 segundo a qual prevê aumento de seis mil especialistas em nefrologia, em 1996, para 30 mil em 2020. Os mesmos dados estimam aumento de enfermeiros de 50 mil para 230 mil no mesmo período – considerando o incremento de pacientes de 80 para 600 mil.

“Esse é um exercício de como prepararmos profissionais de diferentes aspectos da área da saúde”, disse Schor, para emendar: “Hoje os dados são escassos e pontuais. É preciso que o incremento de recursos humanos seja plenamente estratégico”.

Segundo Schor, a demanda por médicos varia de 0,93 especialistas por um milhão de pacientes, em alguns estados brasileiros, a 5,54 especialistas por um milhão, no caso do Distrito Federal, até 2020.

“Isso vale para fisioterapeutas, enfermeiros e todos profissionais da área de saúde”, alertou Schor, destacando, por exemplo, que a obesidade hoje mata mais do que a fome no mundo. Ele destacou dados de 2008 os quais revelam que um pouco menos de 1/3 da população mundial sofrem de obesidade, dos quais 40 milhões são crianças.

Pós-graduação – No caso de especialistas pós-graduados, Schor declarou que o número de mestres e doutores é crescente. Citou a distribuição de 88 mil bolsas em 2012. O professor criticou, porém, o fato de o valor das bolsas ter caído 55% em 18 anos.

Em sua palestra, ele criticou também a falta de um sistema de egresso para avaliar o impacto dos pós-graduados nas políticas públicas. Nesse caso, sugeriu que o CNPq e a Capes criem um programa de avaliação do trabalho desses profissionais, para saber onde eles estão, o que produzem e quais pesquisas estão fazendo. “Isso pode ser usado para criação de laboratório e de políticas públicas”, recomendou.

Desafios das engenharias – Em outra palestra sobre “Desafios da engenharia”, o engenheiro João Fernando Gomes de Oliveira, ex-presidente do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), destacou a falta de engenheiros especializados para atender às demandas da indústria nas áreas de tecnologia e inovação. Apenas a Petrobras, ele exemplificou, precisa de 20 mil engenheiros.

Em razão da baixa competitividade da indústria nacional, derivada do alto custo  produtivo (pelo excesso de pagamento de impostos, principalmente), ele reforçou que setores como os de eletroeletrônicos deixaram de produzir internamente para serem grandes importadores chineses. Nesse caso, ele defendeu a criação de um modelo nacional integrado entre governo das três esferas, engenheiros, indústria e grupos de cientistas que possa investir em inovação e não deixar a indústria nacional morrer. “Para ter inovação é preciso que tenha empresa no mercado. Se a empresa morrer não adianta querer investir em inovação”, declarou. 

Desafios da física – Assim como em outras áreas de conhecimento, há falta de profissionais qualificados também na área física, sobretudo na área de licenciatura, segundo Nathan Jacob Berkovits, professor da Unesp. Ele recomendou destravar as medidas de contratação de professores estrangeiros com qualificação.

“Existe gente qualificada no exterior que não consegue vir para o Brasil pelas exigências, como as de domínio da língua portuguesa que hoje elimina 95% dos interessados”, declarou.  Segundo ele, há falta de interesse de alunos brasileiros pelos cursos de física, seja pela dificuldade de entender essa área de conhecimento, seja pelos baixos salários pagos aos professores.

Sobre os desafios para este século, ele citou, por exemplo, que a física hoje não sabe 90% de como funciona o universo.

Desafios das ciências do mar – José Henrique Muelbert, professor da Universidade do Rio Grande do Sul, também destacou o déficit de profissionais nas áreas de ciências do mar. Sem citar números, ele declarou que a demanda de serviços para este século nessa área é considerável. Nesse caso, ele vê necessidade de criar mecanismos de monitoramento de ecossistemas de forma sustentável, a fim de analisar o impacto dos oceanos, o desenvolvimento de medidas para estudar oceanos profundos, abaixo de 2 mil metros, por exemplo, e criar novas fronteiras de conhecimentos.

Também coordenador do painel para a implementação do Sistema Global de Observação dos Oceanos (Goos, na sigla em inglês), uma rede mundial de monitoramento de oceanos apoiada por vários organismos internacionais, Muelbert observa o aumento da pressão dos oceanos, o que interfere na população das espécies, estimulado pela ação humana. 

(Viviane Monteiro – Jornal da Ciência)