Por Janaína Simões
30/4/2012 – Cerca de 10 mil alunos e quatro mil professores da educação básica nacional já participaram do programa de formação científica promovido pela Rede Nacional de Educação em Ciências, formada por 30 grupos de 13 Estados diferentes. Por meio do programa, todos os anos, são oferecidos aos estudantes e docentes da rede pública de ensino os chamados Cursos de Férias. Eles passam uma semana fazendo um curso prático em um laboratório das universidades integrantes da Rede Nacional de Educação em Ciências, realizando experimentos para responder alguma pergunta científica elaborada no início do curso.
“O objetivo é fazer alunos e professores compreenderem como é o processo de construção do conhecimento científico”, explicou a professora associada do Instituto de Bioquímica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Andrea Thompson da Poian. Ela apresentou uma conferência na Reunião Regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) em 29 de abril, último dia do evento realizado no campus avançado da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), em Oriximiná (PA). O tema da apresentação de Andrea foi “Estratégias Motivacionais em Educação para a Ciência: A Rede Nacional de Educação em Ciências e suas Iniciativas em Oriximiná.”
“Os cursos não têm como missão principal a transmissão de conteúdo, mas a vivência da metodologia científica”, destacou. A Rede nasceu de um trabalho iniciado há 25 anos pelo professor Leopoldo de Meis, da UFRJ. Andrea lembrou que o Brasil ocupa hoje a 13ª posição no ranking de produção científica mundial. “Mas o bom desempenho da ciência brasileira contrasta com a formação da educação básica”, pontuou, dizendo que no PISA 2006 referente às ciências, o Brasil ocupou a 52ª posição entre 57 países. “Isso mostra que esse desempenho satisfatório da ciência brasileira não foi transferido para a educação básica no Brasil e isso permanece como um desafio para o País”, destacou.
Além disso, Andrea lembrou que a produção do conhecimento científico gerado nas universidades se dá por meio de uma metodologia específica e é um processo dinâmico, que gera grande número de dados e conhecimento diariamente. “Contrasta com a escola, onde há uma transmissão de conhecimento estático, em que alunos têm pouco ou nenhum contato com o processo de construção do conhecimento”, ressaltou. “Precisamos romper essa barreira entre os dois meios, hoje ainda muito isolados, e os Cursos de Férias se enquadram na tentativa de contribuir com esse processo”, acrescentou.
Nos Cursos de Férias, os alunos e professores passam uma semana em um laboratório para fazer experimentos e ter aulas práticas em torno de temas, sobre os quais os participantes do curso elaboram perguntas e desenham as experiências de laboratório que vão executar. “Os cursos despertam o interesse dos alunos pela ciência e os ajudam a descobrir suas vocações científicas”, apontou.
Programa paralelo
Há um programa paralelo ao projeto Cursos de Férias, o Jovens Talentosos, que oferece uma oportunidade de carreira científica para alunos de baixa renda que teriam poucas condições de cursar uma universidade pública. Os participantes do Jovens Talentosos são selecionados entre os alunos de ensino médio que participaram dos Cursos de Férias. O aluno passa um ano em laboratório junto com um estudante da pós-graduação, que o acompanha durante o curso e também na sua vida escolar regular.
Descoberta a vocação, o aluno pode ser encaminhado para a universidade, completar o curso e se formar. Mais de 100 alunos já participaram do Jovens Talentosos, e muitos trabalham em ciência atualmente. Wagner Seixas da Silva, morador de Vigário Geral, no Rio de Janeiro, foi um aluno que participou dos Cursos de Férias e hoje está orientando participantes do Jovens Talentos. Ele fez pós-doutorado na Universidade de Harvard. Hoje ele é professor do Instituto de Bioquímica Médica na UFRJ.
Nas iniciativas para formação de professores autônomos na aplicação da metodologia científica, um ponto não resolvido era a participação dos professores no curso. Ao final, eles sentem que não conseguem transferir a experiência dos cursos para sua prática profissional, disse Andrea. “Tentamos desenvolver maneiras de dar mais suporte a esses professores para que possam modificar sua prática”, disse.
O Instituto começou também a oferecer uma especialização lato sensu em 1993, hoje um curso de pós em Química Biológica – Educação Difusão e Gestão em Biociência, igualmente direcionado para professores de ensino fundamental e médio.
Participam desse programa os alunos de licenciaturas em final de curso, que realizam Cursos de Férias nas universidades. Quem se entusiasmou com atividade tem a oportunidade de atuar como monitor nos Cursos de Férias. Uma atividade nesses moldes foi realizada em Oriximiná, utilizando curso à distância e treinamento presencial. O tema abordou as plantas da Amazônia.
“Idealizamos outro tipo de curso, onde oferecíamos um pouco mais os conceitos e conteúdos que fazem parte do currículo escolar”, contou. Um exemplo apresentado por Andrea foi o curso de mestrado “Transformação de Energia em Sistemas Biológicos”. Além da parte de conteúdo e de estímulo aos participantes para elaborar perguntas sobre tema, eles também fizeram experimentação para responder as perguntas formuladas, discussão dos resultados obtidos, estruturação e apresentação de atividades que podem desenvolver em salas de aula a partir do conhecimento ali adquirido. O curso foi aplicado no polo Xerém em 2011 e uma segunda edição foi feita em Oriximiná.