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Melatonina, o hormônio do escuro

Palestra apresentou resultados de pesquisa que estuda o papel desse hormônio sobre a resposta inflamatória. Aplicações podem ajudar a compreender melhor doenças como o Alzheimer.

Palestra
apresentou resultados de pesquisa que estuda o papel desse hormônio sobre a
resposta inflamatória. Aplicações podem ajudar a compreender melhor doenças
como o Alzheimer.

Uma pesquisa de mais de dez anos, que está
sendo realizada no Laboratório de Cronofarmacologia da Universidade de
São Paulo, ajuda a entender a atuação da melatonina no corpo humano e
como ela pode auxiliar na organização do corpo afetado por doenças
crônicas. O estudo foi apresentado nesta quinta-feira (26), durante a
64ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso (SBPC), em
São Luís.


Esse hormônio, normalmente associado ao sono
por ser produzido na ausência de luz, é gerado naturalmente pelos seres
vivos e atualmente se encontra também em compostos alimentares
consumidos nos Estados Unidos e Europa (no Brasil, ainda não), além de
ser comumente receitado para pacientes idosos, quando a produção
natural de melatonina tende a cair.

Regina Pekelman Markus, doutora em
farmacologia, professora do Instituto de Biociência da Universidade de
São Paulo e diretora da SBPC, ressalta que é importante saber que a
melatonina não induz ao sono e sim permite que os chamados “portões”
desse estado sejam abertos, admitindo que os mecanismos do sono
aconteçam mais rapidamente. Ela apresentou os resultados de uma pesquisa
sob a melatonina que começou no fim dos anos 1990, mas que não está
centrada no aspecto do sono e sim no processo inflamatório.

Detalhes – O trabalho, que
rendeu publicações em diversas revistas, analisou o comportamento da
melatonina, que, quando liberada pela glândula pineal, impede a adesão
de leucócitos na condição de higidez (saudável). O estudo começou com a
análise de camundongos, que foram infectados com o bacilo da
tuberculose.

Foram comparadas as reações entre a cobaia
normal e outra cuja glândula pineal foi retirada, que recebiam
melatonina por meio da água que bebiam. Algum tempo depois, começaram
as análises sobre a melatonina em inflamações humanas, a partir do
leite retirado de uma mulher com mastite (inflamação no bico do seio).

No trabalho, foi descoberto que o próprio LPS,
padrão molecular que sai das paredes das bactérias, “avisa” a pineal
para parar de produzir melatonina e assim permite que a montagem da
resposta inflamatória seja feita com a adesão de leucócitos. “Mostramos
que o agente agressivo consegue ele mesmo baixar a melatonina e com
isso permitir que a resposta contra ele comece”, revela a pesquisadora
ao Jornal da Ciência.

Mudança conceitual – A
pesquisa descobriu que a melatonina também pode ser produzida
localmente, na própria zona onde ocorreu o ataque, e, nesse caso, o
hormônio teria um comportamento diferente do habitual, facilitando a
adesão dos leucócitos. Regina conta que se trata de uma importante
mudança conceitual.

“A glândula pineal era tratada como uma
glândula que produzia o hormônio do escuro e que respondia a estímulos
de luz. Nós estamos mostrando que ela responde a uma mensagem interna
do organismo e nesse local a melatonina terá uma potente ação
antiinflamatória”, ressalta. Essa mudança se dá porque o líquido em
volta das células da área afetada é baixo e a melatonina acaba tendo
concentrações mais altas, com outros efeitos.

Entre as aplicações, Regina cita o caso de
doenças que têm, entre seus sintomas, alterações na produção de
melatonina. “O paciente com Alzheimer não tem melatonina, por exemplo. A
descoberta abre uma nova perspectiva terapêutica, uma nova
conceituação, que vai permitir não só usar derivados da melatonina de
forma muito mais conceitual, como vai permitir abordar esse problema da
organização temporal do organismo em doenças crônicas. Isso é
importante porque existem algumas em que a melatonina é a primeira a
cair fora” revela.

(Clarissa Vasconcellos – Jornal da Ciência)