Na avaliação de sua diretoria, a 64ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada durante esta semana em São Luís, foi um sucesso. Em entrevista coletiva concedida hoje (27/07) pela manhã, a presidente da entidade, Helena Nader, deu alguns números do evento. De acordo com os dados oficiais, houve 11.912 inscritos, de 700 cidades de todos os estados. O público que participou das conferências, mesas redondas e outras atividades do encontro foi bem maior, no entanto. A estimativa é que cerca de 25 mil pessoas tenham circulado por dia pelo câmpus da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), onde ocorreu a reunião.
Com o tema central Ciência, Cultura e Saberes Tradicionais para enfrentar a pobreza, a 64ª Reunião Anual da SBPC recebeu 4.009 trabalhos de pesquisadores de todo o país. Além disso, durante a semana foram realizadas 55 mesas redondas, 48 conferências, 46 minicursos, três sessões especiais, cinco assembleias, três encontros, um treinamento e uma reunião de trabalho. Houve ainda quatro homenagens póstumas, aos cientistas recentemente falecidos Aziz Ab’Saber, Gilberto Velho, Luiz Edmundo de Magalhães e Antonio Flávio Pierucci.
Para a presidente da SBPC, mais do que os números é importante ressaltar o interesse demonstrado pelos participantes nos temas debatidos, nos vários eventos realizados durante a reunião. “Em todos em que estive, percebi que as pessoas estavam atentas e participativas”, disse. “As salas estavam cheias de pessoas interessadas nos temas discutidos. Também me chamou a atenção a grande participação de jovens graduandos.” Helena elogiou ainda a infraestrutura do evento. “Tivemos à disposição um prédio novo, com audiovisual funcionando perfeitamente e monitores excelentes”, declarou.
Também durante a entrevista coletiva, a secretária-geral da SBPC, Rute Maria Gonçalves de Andrade, lembrou outro aspecto da infraestrutura que mereceu elogios. “Temos que destacar o trabalho que foi feito nesta reunião para as pessoas com necessidades especiais”, disse. “Já na ficha de inscrição havia a pergunta sobre a eventual necessidade especial que a pessoa tinha.” Na prática, a acessibilidade foi facilitada pela remoção das barreiras arquitetônicas, para permitir a mobilidade das pessoas com dificuldades de locomoção. Além disso, em todas as conferências e mesas redondas havia tradutores da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), para as pessoas com problemas de audição. Experiência que deverá se repetir em todas as reuniões anuais da SBPC daqui para frente.
Esclarecimentos – A presidente da SBPC aproveitou a entrevista coletiva para esclarecer e reiterar a posição da entidade quanto à questão das cotas nas universidades públicas e ao programa Ciência sem Fronteiras. No primeiro caso, Helena deixou claro que a SBPC não é contra as cotas. “Nós sempre fomos favoráveis a programas de ação afirmativa”, declarou. “As instituições públicas de ensino superior do país já vêm adotando essas ações por meio de diferentes modelos adequados à realidade de cada uma delas.”
Na verdade, o que preocupa a SBPC é o Projeto de Lei nº 180/2008, que está para ser votado no Senado Federal, e que fere autonomia universitária, pois reserva metade das vagas nas instituições de ensino superior públicas para estudantes oriundos do ensino médio em escolas públicas. “Além disso, em seu artigo 2º, proíbe a realização de exames vestibulares ou o uso do Enem, obrigando que o processo seletivo adote exclusivamente a média das notas obtidas pelos candidatos nas disciplinas cursadas no ensino médio”, disse Helena. “Dessa maneira, o ingresso no ensino superior deixa de ser responsabilidade da universidade e passa a ser subordinado aos critérios de cada escola. A universidade deixa de opinar sobre o perfil do seu estudante.”
Em relação ao programa Ciência sem Fronteiras, Helena enfatizou que a SBPC é totalmente a favor dele, por entender que vai melhorar a formação de um grande número de bons pesquisadores brasileiros. “O que pensamos é que, por ser um programa ainda muito recente, são necessários ajustes que possam garantir seu constante aperfeiçoamento”, explicou. “Outra questão que nos preocupa é saber se, quando voltarem, esses pesquisadores encontrarão no Brasil condições para que possam colocar em prática o que aprenderam no exterior, contribuindo para o aumento da produção científica do país e a melhoria da ciência brasileira.”
(Evanildo da Silveira para o Jornal da Ciência)