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Governo discute resultados e metas para C,T&I em seminário na ABC; Presidente da SBPC prestigia evento

A situação do Brasil no campo da ciência, tecnologia e inovação não difere muito da de seus vizinhos latino-americanos, mas, apesar disso, o País já é visto como referência, tanto que foi escolhido por nações do continente para sediar o primeiro Fórum Mundial da Ciência fora do eixo dos países desenvolvidos. Essa foi uma das conclusões apresentadas no encontro Avanços e Perspectivas da Ciência no Brasil, América Latina e Caribe, no dia 7 de novembro. A presidente da SBPC, Helena Nader, prestigou o evento na sede da Academia Brasileira de Ciências (ABC), no Rio de Janeiro.

O evento, ao longo da semana, realizou debates entre pesquisadores do continente pertencentes a todas as áreas científicas e reuniu representantes de órgãos do Governo para apresentar resultados e metas para C,T&I no País. O secretário executivo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Luiz Antonio Elias, destacou que o fato do Fórum Mundial de 2013 ser sediado no País representa que as outras nações “perceberam a capacidade de se gerar ciência aqui”.

A pesquisadora da Universidad Nacional Autónoma de México (Unam) Silvia Peimbert, que assumirá em breve o cargo de presidente da União Internacional de Astronomia, apresentou o cenário da ciência na América Latina com foco no Brasil e México. Ela conta que mesmo países como Argentina e Chile, que têm os maiores índices de desenvolvimento humano, ainda apresentam baixos resultados no programa internacional de avaliação de estudantes PISA. Ela lembra que, segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a América do Sul investe em média 2,4% de seus gastos em P&D, enquanto esse número é de 35,5% na América do Norte e 28,2% na Europa.

Silvia relatou a experiência bem-sucedida do México ao criar o Sistema Nacional de Investigadores (SNI), que dá bolsas aos pesquisadores na tentativa de evitar a fuga de cérebros. No ano 2000, eram pouco mais de 7.400 bolsistas e em 2011 o número saltou para 18.500. O México não tem um Ministério de Ciência e Tecnologia ainda, de modo que as ações na área se concentram no Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (ConaCyT) do país. Ela lembra o impacto que a pesquisa brasileira tem no continente, ressaltando que das 189 revistas científicas do continente, 96 delas são do Brasil.

Pós-graduação – Jorge Guimarães, presidente da Capes mostrou alguns dados a respeito da pós-graduação no Brasil, que hoje conta com 5.080 programas, a grande maioria de mestrado. E lembrou que o País produz 2,7% dos artigos científicos mundiais. “Temos que compatibilizar dinheiro com ciência. Somos o sexto PIB do mundo, mas o 13º em produção científica”, ressalta, recordando os dois primeiros lugares do ranking: Estados Unidos (com 28,1% da produção científica mundial) e China (11,6%).

Manoel Barral Netto, diretor de cooperação institucional do CNPq, apresentou dados semelhantes e, segundo resultados apurados pelos indicadores do portal SCImago, o Brasil é o primeiro produtor de artigos em Medicina Tropical e Parasitologia e o segundo em Odontologia. “Somos os primeiros em Medicina Tropical e Parasitologia, pois, por questões geográficas, os países ricos não têm esses problemas”, observa, destacando o resultado em Odontologia.

Barral Netto e Guimarães sublinharam o aumento da produção em ciências humanas, sociais e agrárias, e a diminuição nas áreas de engenharia e ciências da Terra. Com isso, o diretor do CNPq justificou o fato de 40% das bolsas de graduação do Ciência sem Fronteiras concentrarem as engenharias. No caso da pós-graduação, a área com mais bolsistas é a de Ciências da Saúde, com 20%. A respeito do questionamento sobre mais bolsas para Espanha e Portugal que para os Estados Unidos na última chamada, Guimarães afirma que o idioma tem sido uma barreira, mas que o programa pretende “limitar” essa “fuga” dos estudantes para os países ibéricos.

Barral Netto ressalta que o Brasil ainda é pouco atrativo para pesquisadores estrangeiros, em comparação com países como Espanha, Austrália e Estados Unidos. Guimarães lembrou que, atualmente, o país que mais envia estudantes ao Brasil é a Colômbia, seguida por Peru, Moçambique e Argentina. “Com exceção de Argentina, Chile e Cuba, o resto é muito pobre”, revela.

Espaço – O presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), José Raimundo Braga, apresentou projetos da AEB e lembrou que os países têm diferentes motivações para criar um programa espacial. No caso do Brasil, sua enorme extensão, grande população e PIB elevado justificariam o investimento, de acordo com Braga.

“Nossos motivos são distintos, não participamos da corrida armamentista, nunca tivemos guerras. Temos nosso próprio tempo”, afirma, em comparação a potências na área, como Estados Unidos e Rússia.

Ele sublinhou algumas deficiências da agência, que carece fortalecer sua estrutura, investir em recursos humanos (“só temos funcionários de outros órgãos, nenhum nosso”), além de consolidar a indústria espacial brasileira, entre outras medidas. E falou do novo calendário para os satélites brasileiros, como o CBERS-3, cujo lançamento foi reagendado para janeiro de 2013.

Ações regionais – Ruy Marques, presidente da Faperj, e José Policarpo de Abreu, diretor científico da Fapemig, foram escalados para dar a visão regional da ciência no Brasil. Marques lamentou a decisão da Câmara de aprovar o projeto dos royalties do petrélo sem previsão de recursos para a Educação e que redistribui as divisas para beneficiar estados e municípios não produtores. “Se caminhar como está previsto, dificilmente poderemos continuar com os números atuais. O estado do Rio se calcou muito na dependência dos royalties, mas a função da Faperj é justamente torná-lo menos dependente e diversificar as ações”, destaca.

Hoje, a Faperj conta com um orçamento de R$ 370 milhões (há uma década, era de R$ 45 milhões), sendo R$ 57 milhões de parcerias, e tem mais de 150 programas, distribuídos pelos 92 municípios do estado. A Fapemig tem um investimento parecido, de R$ 316 milhões, dos quais R$ 56 milhões vêm de parcerias, como empresas.

Durante o evento, foi entregue ao físico e engenheiro Rogério Cerqueira Leite o Building Scientific Institution Prize, outorgado pelo escritório latino-americano da Academia de Ciências do Mundo, antiga Academia de Ciências para os Países em Desenvolvimento (TWAS, em inglês), por seu trabalho na concretização de instituições como a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Carlos Aragão, diretor-geral do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), lembrou seu papel na criação do primeiro laboratório de luz síncrotron do País e do Hemisfério Sul. “Briguei um bocado para construir lugares como a Unicamp. Não sei se mereço [o prêmio], mas talvez mereça”, brincou Cerqueira Leite.

(Clarissa Vasconcellos – Jornal da Ciência)