A Missão Aster, uma sonda desenvolvida por pesquisadores brasileiros, desperta o interesse da comunidade científica internacional. O físico Roald Sagdeev, com 80 anos de idade – líder da pesquisa espacial na ex-União Soviética e na Federação Russa – poderá integrar a equipe de consultores do projeto brasileiro. É o que informa Haroldo Fraga de Campos Velho, pesquisador sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), um dos responsáveis pela Missão Áster.
Trata-se da primeira missão do Brasil na exploração espacial. O projeto prevê a exploração do asteroide 2001-SN263. O asteroide é formado por um objeto central, de 2,8 km de diâmetros, e outros dois menores, de 1,1 km e 0,4 km de diâmetro. Ele dá uma volta em torno do Sol a cada 2,8 anos, em um movimento que vai de uma região além da órbita de Marte (a meio caminho de Júpiter) às proximidades da Terra.
O plano do governo é lançar a sonda brasileira em 2017 que deve pousar em 2019 no asteroide. A expectativa é de que a missão Aster receba investimentos de empresas públicas e privadas. Sagdeev esteve no Brasil, pela primeira vez, em novembro de 2012 para discutir, exatamente, a Missão Aster. Ele visitou a Agência Espacial Brasileira (AEB), em Brasília, e o INPE, em São José dos Campos.
O físico russo, segundo Haroldo, conforme é conhecido, aceitou o convite para integrar o time de consultores da Aster. Os projetos espaciais costumam ser acompanhadas por um comitê de especialistas, que avalia sua execução, elabora relatórios e propõe melhorias para aperfeiçoar seu andamento.
Apoio internacional – O projeto brasileiro poderá ter o apoio da Academia de Ciências e do Instituto de Pesquisas Espaciais (IKI, sigla em russo) da Rússia. Sagdeev dirigiu o IKI durante uma de suas fases consideradas de “ouro”.
Com vasta experiência espacial, ele liderou os mais importantes projetos de pesquisas espaciais soviéticos nos anos 70 e 80 e foi consultor científico do último presidente da União Soviética, Michail Gorbachev. Hoje leciona Física de Plasma na Universidade de Mayriland, nos Estados Unidos, e segue acompanhando de perto o programa espacial russo.
Para José Monserrat Filho, chefe da Assessoria de Cooperação Internacional da AEB, que conversou com Sagdeev, em Brasília, o físico russo é um dos “ícones” da Era Espacial pela sua importante contribuição à ciência espacial. “O presidente da AEB, José Raimundo Braga Coelho, fez questão de recebê-lo”, contou. “Foi uma honra para todos nós da AEB. A carreira de um grande cientista é sempre uma lição de vida. É também um modo eficaz de divulgar o interesse pela ciência e pelo espaço no Brasil.”
Compromissos – Sagdeev comprometeu-se em escrever um “white paper”, com sugestões sobre o uso da plataforma a ser utilizada na missão Aster. Entre os possíveis usos imaginados por Sagdeev, informou Haroldo, destaca-se a realização de uma missão para fixar um satélite de observação da atividade solar. “Essas informações são muito úteis para o estudo do ‘Clima Espacial’ (Space Weather)”, acrescentou ele.
Essa é uma iniciativa positiva, conforme entende Haroldo.
“Prever a demanda adicional para a plataforma usada em uma missão científico-tecnológica é de grande interesse para assegurar a continuidade do projeto, o que mantém as equipes mobilizadas e estabelece ação clara de política industrial para o setor aero-espacial”, declarou.
O pesquisador do INPE explicou ainda que a atividade solar compreende vários fenômenos, entre eles o de ejeção de massa coronal (CME = Coronal Mass Ejection), na qual uma imensa massa de gás (em estado de plasma) é lançada ao espaço. O choque de uma CME contra o planeta Terra pode causar problemas “em nossa” infraestrutura, como satélites, sistemas de comunicação e sistemas elétricos. “Há risco de um impacto de nível planetário com danos capazes de somar de US$ 1 trilhão a US$ 2 trilhões”, explicou Haroldo.
Monserrat, por sua vez, destacou a importância das atividades espaciais brasileiras, lembrando que o Brasil é um país “de evidente vocação espacial”, diante da longa extensão territorial de 8,5 milhões de km², além dos 4,5 milhões km² de território marítimo. “São, ao todo, cerca de 13 milhões de km² com riquezas naturais que precisam ser monitorados, estudados e aproveitados de forma sustentável”, diz.
Viviane Monteiro, do Jornal da Ciência
Publicada em 20.12.2012.