Uma reportagem, com o título “Governo vai criar instituto na Amazônia”, publicada domingo (16/12) no jornal “O Estado de S. Paulo”, causou preocupação na comunidade científica. Segundo o jornal, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) iria criar “um instituto para pesquisas geológicas e científicas na Amazônia”. A SBPC reagiu por entender que as pesquisas naquela região devem ter como pilar central o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). Em carta ao ministro Marco Antonio Raupp, titular do MCTI, a presidente da SBPC, Helena Nader, defendeu que o INPA, com sua experiência e bagagem científicas construídas ao longo de 60 anos de existência, deve ser o órgão central das pesquisas na região.
Hoje (20/12), em entrevista ao site da SBPC, Raupp negou a intenção do ministério de instalar um novo instituto de pesquisas na Amazônia. “O jornal errou”, disse. De acordo com ele, o que MCTI está fazendo é a articulação de “um plano de ciência, tecnologia e inovação” para a região, cujos objetivos “passam exatamente pela mobilização e valorização das instituições existentes lá, ligadas ou não ao MCTI”. “É lamentável que o jornal O Estado de S. Paulo tenha literalmente inventado essa história de um novo instituto de pesquisa na Amazônia”, disse.
Leia a seguir a entrevista completa do ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp:
O MCTI vai de fato criar “um instituto para pesquisas geológicas e científicas na Amazônia” como saiu publicado no jornal O Estado de S. Paulo?
O jornal errou. O que foi dito ao repórter é que o MCTI está articulando a formulação de um plano de ciência, tecnologia e inovação para a Amazônia. Em nenhum momento na entrevista foi citada qualquer intenção do MCTI em criar um novo instituto de pesquisa na Amazônia. Aliás, nossa proposta vai na direção inversa à da criação de qualquer instituição. O que queremos é incluir no plano todas as instituições de pesquisa já existentes na Amazônia.
Por que o MCTI quer criar um instituto em vez de fortalecer os já instalados na região, como o INPA, que existe há 60 anos?
O MCTI não quer criar um instituto de pesquisa. Com o plano, os institutos existentes terão seus papéis redimensionados e ampliados, e a atuação deles será valorizada.
O ministro poderia detalhar essa proposta? Quando ela começaria a ser colocada em prática?
Nosso pensamento é que a Amazônia deve ser objeto de um plano de desenvolvimento econômico, social e ambiental que contemple suas características e peculiaridades. Nesse sentido, a contribuição da ciência e da tecnologia é fundamental para conhecer, identificar e propor soluções para o ambiente amazônico. Fizemos uma reunião em Manaus, com entidades de C&T de todos os Estados da Amazônia Legal, no dia 29 de outubro, quando discutimos as bases do plano. Quem está fazendo o primeiro esboço é o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE). Ainda não temos datas ou cronogramas.
Seria um complexo científico de capital misto (público e privado)? Além da União, o plano teria a participação da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam)?
Ainda não temos definições dessa natureza. A ideia é que tenhamos o concurso de todas as instituições, públicas e privadas, da Amazônia que possam contribuir para a elaboração e a execução do Plano.
Qual será o papel do INPA nesta proposta, neste plano?
O INPA é uma peça fundamental para a Amazônia e terá atuação central no plano, uma vez que conta com recursos humanos e materiais da melhor qualidade. Lancei a ideia do plano exatamente em uma reunião que fizemos no INPA, no dia dois de outubro. Além do INPA, o Museu Emílio Goeldi e o Instituto Mamirauá também serão protagonistas no processo de definição e execução do plano.
A criação de novas instituições e centros de pesquisas na Amazônia não vai diminuir o papel do INPA?
A depender do MCTI, não serão criadas novas instituições de pesquisa na Amazônia.
Qual a verba a ser investida nesse plano? De onde viriam os recursos?
Como o plano ainda está em fase inicial de elaboração, não sabemos das necessidades de recursos, tampouco de suas origens.
Hoje as pesquisas realizadas pelos institutos têm cunho teórico e pouco a ver com o desenvolvimento cientifico de produtos para a região e dificuldade para desenvolver patentes. Por que o Ministério não busca destravar as pesquisas com foco no desenvolvimento econômico na floresta?
Quanto ao papel dos institutos de pesquisa, meu trabalho é para que eles se alinhem às políticas de C,T&I do governo federal. Diferentemente das universidades, onde as pesquisas estão direcionadas para os desafios do conhecimento humano, a atuação dos institutos de pesquisa do governo federal deve estar comprometida com o desenvolvimento regional e/ou nacional. Nesse sentido, um dos objetivos do plano é articular ações de C,T&I na Amazônia e exatamente dar maior foco econômico e social para as pesquisas científicas já realizadas e a serem realizadas na região.
Se o senhor quiser acrescentar algo, por favor, sinta-se à vontade.
É lamentável que o jornal O Estado de S. Paulo tenha literalmente inventado essa história de um novo instituto de pesquisa na Amazônia. O sentido e os objetivos do plano passam exatamente pela mobilização e valorização das instituições existentes na região, ligadas ou não ao MCTI.
Publicada em 20.12.2012.