A crise econômica provocada pela pandemia do novo coronavírus em todo mundo tende a piorar a situação dos trabalhadores com a perda de vagas, aumento da informalidade, perda de renda e garantias mínimas. A superação desse desafio, tendo como pano de fundo o avanço tecnológico e a indústria 4.0, foi o tema do painel virtual “Trabalho e desemprego no mundo atual”, realizado sexta-feira (9/10) no encerramento do segundo ciclo da 72ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
Coordenado por José Reginaldo Inácio, vice-presidente da Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST), o evento teve como expositores Ricardo Antunes, professor titular de Sociologia no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp); Osvaldo Lahoz Maia, gerente de Inovação de Tecnologia no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) de São Paulo; Adilson Araújo, presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e Adriana Marcolino, diretora da Escola Dieese de Ciências do Trabalho.
José Reginaldo Inácio começou o debate propondo que a valorização do trabalho está associada à valorização da ciência. “A SBPC contribui muito valiosamente para que a gente possa avançar em discussões de valorização da ciência e, ao valorizar a ciência, automaticamente, estamos pensando na valorização do trabalho, da dignidade e, sobretudo, do diálogo social na relação capital-trabalho, hoje tão prejudicado”, afirmou Inácio.
Osvaldo Lahoz Maia falou das oportunidades de trabalho e emprego que, para ele, não podem ser dissociadas das macrotendências mundiais, entre elas, maior demanda por alimentos e por energia e o envelhecimento da população. Segundo esse especialista, as oportunidades estão sendo ditadas pela 4ª Revolução Industrial, que exigirá habilidades socioemocionais, tecnológicas e cognitivas mais sofisticadas.
Tanto o gerente do Senai quanto o presidente da CTB, Adilson Araújo, defenderam o resgate da indústria como fonte de trabalho qualificado e melhor remunerado. “É lá (na indústria) que temos os melhores salários, as melhores oportunidades”, disse Maia, acrescentando a importância da educação para a formação dos trabalhadores. “A única mudança é pela educação e pela formação melhor dos nossos jovens”, declarou.
Ricardo Antunes ponderou que a Indústria 4.0 tem se voltado unicamente para “enriquecimento das corporações” e que o avanço tecnológico expresso na economia de plataformas não tem contribuído para a dignidade e melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores. “Se queremos uma sociedade com a dignidade do trabalho, não é possível ter trabalho de entregador sem direitos. Temos que criar uma legislação social protetora contra a corrosão do trabalho.”
Adriana Marcolino opinou que a superação do cenário de precarização e forte desigualdade passa pela organização de todos os trabalhadores, incluindo os mais atingidos por formas precárias de contratação – mulheres, jovens, negros e pessoas com deficiência. “É um desafio que o movimento sindical tem discutido muito, como ampliar a organização sindical para além dos trabalhadores com carteira assinada”, disse Marcolino.
Para Adilson Araújo, a recuperação das condições de trabalho, no caso brasileiro, passa por um projeto nacional de desenvolvimento, com a retomada das obras de infraestrutura, aumento do crédito para as micro e pequenas empresas – responsáveis por 70% dos empregos no País -, a restauração de uma agenda voltada ao progresso social e um aumento dos investimentos em ciência e tecnologia. “Não teremos alternativa que não seja destinar atenção especial a um projeto nacional de desenvolvimento que valorize o trabalho e o trabalhador”, concluiu Araújo.
Assista ao painel “Trabalho e desemprego no mundo atual” na íntegra pelo canal da SBPC no Youtube
Jornal da Ciência