“A ciência é o caminho para conseguir um desenvolvimento sustentável de longo prazo e também minimizar as disparidades sociais no Brasil.” Na opinião do ministro da Ciência e Tecnologia, Marco Antonio Raupp, é necessário que haja mais parcerias entre entidades públicas e privadas para esse processo. A afirmação aconteceu durante a conferência de abertura da 65ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência (SBPC), com a palestra “Conquistas recentes e novos desafios”, no Teatro da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), no Recife, nesta segunda-feira (22).
Durante a palestra, Raupp também defendeu a expansão dos sistemas de pesquisa de dentro das universidades para os setores industriais e de serviços. “Precisamos que as empresas invistam mais em atividades de pesquisa e desenvolvimento”, afirmou. “Apoiar a ciência deve ser uma política de estado, em todas as esferas, com a cooperação entre o ministério e os governos. Temos que incentivar também que as empresas invistam, pois elas têm interesse em inovação, esse é o caminho para a competitividade”, disse.
Mesmo assim, Raupp acredita que o Brasil vive um momento positivo para o desenvolvimento de ciência e inovação, com a criação de parcerias de empresas e centros de pesquisas. “Nós estamos tendo investimentos significativos e planos que levam a ciência para além dos muros tradicionais que ela ocupava nas universidades. Nós temos um programa, “Inova empresa”, que conta com investimento de R$ 32,9 bilhões em dois anos, o que é algo significativo, sem precedentes”, disse.
Oceanografia e áreas estratégicas
Ao apresentar o crescimento dos investimentos do MCTI na área de pesquisa, o ministro ressaltou a criação do Instituto Nacional de Pesquisas Oceanográficas e Hidroviárias, que deve ser anunciado oficialmente nesta quarta-feira (23). “Já temos um navio de pesquisa de US$ 80 milhões em fase de compra, que deve estar aqui em setembro ou outubro do ano que vem”, disse Raupp.
A expectativa é que as universidades e centros de pesquisas das áreas façam parte do conselho administrativo do instituto. “Era uma necessidade que vem de longe. Nós queremos aglutinar e integrar esses esforços. Esse instituto vai ser estabelecido de forma que essas organizações influenciem na forma de trabalho, de pesquisa.”
A cooperação internacional também foi apontada como essencial para o avanço, buscando parcerias entre centros tecnológicos para avançar em áreas como tecnologia aeroespacial, nanotecnologia e nuclear. Raupp disse que recentemente foi à Argentina para discutir a cooperação internacional com o país. “Tinham 50 projetos, minha decisão foi fazer 12 para valer, mais intensivamente. É preciso focar mais, ser mais efetivo para ter mais impacto no desenvolvimento”, explica o ministro.
O ministro ainda destacou o investimento de R$ 850 milhões no reator multipropósito brasileiro, feito em parceria com a Argentina. “É um reator cuja grande finalidade é aumentar nossa capacidade de produzir radioisótopos para aplicação médica. Todos são produzidos em uma farmácia nuclear existente no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) em São Paulo. Isso vai nos dar capacidade de abastecer hospitais brasileiros e vender para outros países. Outro elemento importante é a criação de uma agência reguladora na área nuclear, já temos um projeto pré-aprovado”, afirma.
O ministro também citou a criação por portaria interministerial da Empresa Brasileira de Inovação Industrial (Embrapii) como um dos caminhos para ter a ciência como norte no desenvolvimento do país. “Ela vai participar, ser parceira nos riscos dos programas de inovação das empresas. A ideia é que ela faça para a tecnologia industrial o que a Embrapa fez para tecnologia agropecuária. A Embrapii é criada em um momento diferente. Ela não vai ter infraestrutura sob o comando direto dela, mas vai contratar, qualificar, credenciar laboratórios de universidades e institutos de pesquisa para promover a parceria deles com empresas”, explicou.
Investimento humano
Mesmo com tantos investimentos, Raupp chamou a atenção que não adianta pensar apenas em laboratórios e grandes centros. Para ele, não há ciência, sem investimento humano. “Precisamos sempre pensar em recursos humanos, não adianta se não tivermos cientistas. Para estabelecer ciência, tecnologia e inovação como paradigma de desenvolvimento, é preciso aumentar e qualificar a nossa rede. Nós queremos a melhor ciência comparada internacionalmente.”
Raupp citou ainda alguns números que, segundo ele, irão aumentar com certeza, entre eles, o do Programa Ciências sem Fronteiras, que já conta com 101.000 bolsas de estudos no exterior e os investimentos das bolsas CNPq, que teve um reajuste médio de 25% em julho 2013 nas bolsas de mestrado, doutorado e pós-doc.
Gabinete
O ministrou avisou que durante a 65ª Reunião da SBPC seu gabinete foi transferido para o evento. “É a oportunidade de estarmos mais perto da comunidade científica. Estamos com quase todos os secretários aqui, eles vão participar de palestras, mas também vão estar disponíveis para escutar ideias, propostas e também opiniões sobre o que está sendo apresentado por nós aqui na reunião”, disse.