O envolvimento dos cientistas, pesquisadores e da população foram fundamentais para o trabalho de contenção do vazamento de óleo no litoral do Nordeste em 2019, concluíram especialistas que participaram do debate sobre o tema nesta terça-feira (1/12). O painel “Os impactos do derramamento de óleo na costa brasileira” foi parte da programação do quarto e último ciclo da versão virtual e estendida da 72ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
Mediado pelo professor e pesquisador Jailson Bittencourt de Andrade, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), o debate contou com a participação da Capitã de Fragata, Maria Cecília Trindade de Castro (Marinha do Brasil); do secretário do Meio Ambiente do governo de Pernambuco José Antônio Bertotti Júnior; Ricardo Coutinho, pesquisador do Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM) e a zoóloga Simone Almeida Gavilan, professora associada da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), coordenadora do Laboratório de Fisiologia de Vertebrados.
No fim de julho de 2019, um derramamento de petróleo cru atingiu mais de dois mil quilômetros do litoral das regiões Nordeste e Sudeste do Brasil. O óleo foi contido, as investigações sobre os responsáveis pelo crime ambiental estão à cargo da Polícia Federal, mas ainda não foram concluídas.
Maria Cecília Trindade de Castro, que é doutora em Ciências do Mar e chefia o Departamento de Meio Ambiente em águas jurisdicionais brasileiras do Ministério do Meio Ambiente, fez um relato do incidente e a ação da Marinha nos esforços de contenção do óleo. Sobre as investigações, ela afirmou que a Marinha está acompanhando e auxiliando. “Ainda não terminou e a gente está chegando a um grupo pequeno de suspeitos, provavelmente num futuro próximo teremos essa resposta”, disse Castro.
O secretário José Antônio Bertotti destacou o papel dos cientistas que auxiliaram em todos as etapas de contenção do óleo, além da população que se arriscou em manusear um produto altamente tóxico, na tentativa de minimizar os efeitos do incidente. Os prejuízos causados pelo desastre alcançam várias dimensões – sociais, econômicas, ambientais, de saúde – e a expectativa, segundo ele, é que os editais lançados pela Fundação de Apoio à Pesquisa do estado (Facepe) para estudos na área ajudem a compreender os danos e a mitiga-los.
Para Ricardo Coutinho, o legado do vazamento de 2019 é que tanto lideranças locais quanto organizações não governamentais (ONG) podem atuar em conformidade com as orientações para mitigar danos como esse. “A população foi essencial para que os impactos ambientais pudessem ser reduzidos”, reiterou o biólogo.
Simone Almeida Gavilan falou da importância da participação da população que, apesar da falta de equipamentos de segurança (EPI), teve uma participação essencial no resgate aos animais atingidos pelo óleo. “Gostaria de ressaltar a participação das pessoas nos primeiros atendimentos aos animais oleados”, disse, frisando que foi graças ao voluntarismo das comunidades atingidas que as informações chegaram mais rápido, possibilitando um atendimento mais ágil dos especialistas. “Até hoje mantemos uma rede de colaboradores que, ao menor sinal de óleo, ligam e nos avisam, foi realmente muito satisfatório e determinante para redução desses danos”, disse Gavilan.
Jailson Bittencourt finalizou o debate destacando a ampla participação do setor acadêmico no evento. “O envolvimento da SBPC, da Academia Brasileira de Ciências, de várias sociedades científicas e das universidades, especialmente os centros de pesquisa, todos se colocaram à inteira disposição para ajudar e isso foi uma excelente resposta durante o combate ao óleo”.
Em nível federal, segundo ele, o “envolvimento da Marinha foi total”. Já o envolvimento do setor empresarial foi tímido: “Percebemos que as empresas não queriam associar seus nomes a esse tipo de evento”, afirmou Bittencourt.
Assista ao debate na íntegra, no canal da SBPC no Youtube
Jornal da Ciência