É importante preservar a biodiversidade não só da Amazônia, mas de outras áreas do planeta. A mensagem é dos participantes do debate “Amazônia, biodiversidade e desenvolvimento sustentável”, realizado nesta segunda-feira (25/11), no 6º Fórum Mundial de Ciência (FMC), no Rio de Janeiro. Coordenada pelo diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Adalberto Val, a mesa teve a participação de Wolfgang Junk, coordenador científico do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Áreas úmidas (INCT-INAU), Jhan Carlo Espinoza e Marlúcia Martins, pesquisadora do Museu Paraense Emílio Goeldi.
Para Wolfgang Junk as áreas úmidas merecem atenção e políticas específicas diante de sua importância para a biodiversidade e para diminuir os impactos das mudanças climáticas. “São áreas extensas e muito ricas de fauna e flora muito próprias que devem ser preservadas”, alertou. Ele admite, porém, que está sendo difícil definir uma política para essas áreas devido aos diferentes períodos de seca e inundação que alteram as margens dos rios e todo o entorno. Segundo Junk, há locais que passam até oito meses secos e depois ficam alagados.
Para Junk, a construção de hidroelétricas, sistema energético importante no Brasil, deve ser feito com muito critério. “As hidroelétricas não podem ser construídas em qualquer lugar, são necessários critérios de proteção. Energia é importante, mas com proteção ambiental”, opinou, acrescentando que o ecossistema da região está mudando e se tornando mais vulnerável.
Futuro do planeta
Em entrevista exclusiva para o Jornal da Ciência, a pesquisadora Marlúcia Martins disse que a Amazônia detém 20% da biodiversidade do planeta e salientou a importância das áreas de proteção ou unidades de conservação, que contribuem para a redução do desmatamento. Mas como proteger a biodiversidade e promover um desenvolvimento sustentável na região? Para Marlúcia, a resposta passa pelo uso sustentável de produtos da biodiversidade local, como o açaí e a castanha do Pará.
“Esses são apenas alguns que já são utilizados pela indústria de cosméticos, por exemplo. Mas não conhecemos todos os produtos e seus potenciais”, revelou. Ainda segundo ela, o futuro da Amazônia é o futuro do planeta. “Temos que mudar para garantir um futuro para nossas vidas e de todo o mundo”, disse.
Marlúcia comentou dados recentes sobre o aumento do desmatamento na Amazônia, que cresceu 28%. “É importante perceber que existe um aumento num estado, mas ocorre diminuição em outro. Quando há aumento em determinado estado há todo um processo de mobilização para essa área. Enquanto isso, você tem um aumento ocorrendo em outro lugar. A maioria desses desmatamentos é ilegal, então, é isso que os infratores fazem: correm de um lugar para o outro. E isso reflete nesses índices, porque se deixamos de reparar num fator de desmatamento, daí ele se incrementa”, explicou.
Para a pesquisadora do Museu Goeldi, esse aumento também se deve ao novo Código Florestal. “Muitos estão achando que agora podem desmatar. Infelizmente, é uma repercussão negativa desse processo”, alertou.
Ela destacou ainda o papel das unidades de conservação na retenção do desmatamento, salientando que só o fato de elas existirem, já é um avanço. “Quando essas áreas tiverem um alto nível de implementação, o Brasil terá realmente uma proteção efetiva. A rede de unidades de conservação que nós temos hoje na Amazônia é fundamental para garantir a biodiversidade desta região”. Ela alerta, no entanto, que as áreas sofrem constantes ameaças. “As unidades de conservação estão sendo atacadas por projetos de lei, por invasões, por conflitos”, revelou a pesquisadora, que considera um retrocesso abrir mão dessas áreas. “Nós avançamos com as unidades de preservação. Elas são fundamentais. É a estratégia do Brasil que hoje tem se mostrado mais eficiente diante de todas as outras. Precisamos ter outras, mas essa é uma estratégia forte que precisa ser mantida”, defendeu.
(Edna Ferreira / Jornal da Ciência)