Segundo informações da própria Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM), o governo estadual “já tem planejamento pronto para início da vacinação contra a covid-19”. No entanto, a maior parte da população amazonense não teve acesso a esse material até a manhã de segunda-feira, 18 de janeiro, quando a FVS-AM publicou o plano em seu site: http://www.fvs.am.gov.br/media/publicacao/plano_operacional_de_imuniza%C3%A7%C3%A3o_covid-19_EKRUygU.pdf.
Infelizmente, ao se analisar o plano não é possível verificar qual é o cronograma de aquisição de doses e como serão garantidas. Na seção “Vacinas Candidatas”, apenas estão registradas “15 candidatas nacionais”, sem mencionar quais serão adquiridas para o Estado. No entanto, o que mais chama atenção é a seção “Cronograma de Distribuição”, onde se lê:
Estima-se que a distribuição de doses da vacina acontecerá de forma escalonada e programada de acordo com o calendário a ser definido pelo Ministério da Saúde com o objetivo de garantir a melhor logística e armazenamento deste imunobiológico na cadeia de frio. Considerando a complexidade do território amazonense, diversos tipos de modais de transporte serão necessários (aéreo, terrestre e fluvial) além da combinação entre os diferentes tipos. O objetivo deste plano operacional é que após o recebimento das doses no PNI Estadual, em 24h os municípios do entrono de Manaus, que tem acesso terrestre, começarão a receber as vacinas. Em 72h desde o recebimento das doses, todos os municípios com acesso terrestre já terão recebido o quantitativo necessário para a 1ª fase de vacinação. Os municípios de acesso exclusivamente aéreo também receberão suas respectivas doses em no máximo 72h. Os municípios que têm acesso fluvial, ou com modal misto, em até 5 dias já terão recebido as vacinas.
Ao contrário do que se espera, o Plano do Estado do Amazonas não apresenta qualquer cronograma com datas específicas e quantitativos de doses, muito menos a relação desses quantitativos e datas com as etapas da vacinação. A seção deixa a impressão de que o Estado está totalmente a mercê de eventualidades e não garante que o esquema da vacinação será garantido, uma vez que não se sabe quando e como serão adquiridas as vacinas para garantir as segundas doses do grupo que tomou a primeira.
Em ofício encaminhado ao Governo do Estado do Amazonas, a Universidade do Estado do Amazonas (UEA) enfatiza que “definir uma campanha de vacinação efetiva contra a covid-19 para o Estado do Amazonas, significa planejar TODAS as etapas ou fases necessárias para se atingir a meta final de 75 a 80% da população imunizada”. No mesmo ofício, a UEA apresenta uma sugestão de novos quantitativos para o Plano de imunização, enfatizando que:
Compreendemos a limitação da produção de vacinas no Brasil, bem como a necessidade de se priorizar os grupos de risco e reduzir rapidamente a letalidade da doença, mas ressaltamos que estes grupos representam não mais que 25% da população do estado. Portanto, limitar o plano de imunização às categorias de risco significa correr o alto risco de perdermos a eficiência da vacina (por não conseguirmos estimular a imunidade coletiva), desperdiçarmos recursos financeiros, esforço humano e, principalmente, nossa ÚNICA alternativa existente de combater a pandemia de covid-19.
Nesse momento, torna-se cada vez mais inegável que a vacina é a única estratégia para debelar a crise da covid-19.
Em outra frente, embora a Secretaria Municipal de Saúde de Manaus (SEMSA) e a SES-AM tenham melhorado muito em termos de transparência e oportunizado informações em seus sites sobre a pandemia de covid-19, não foi possível verificar nenhuma seção específica que trate da vacinação nos portais dessas duas Secretarias (site da SES-AM: http://www.saude.am.gov.br/painel/fvscovid.php; site da SEMSA: https://covid19.manaus.am.gov.br/). Infelizmente, essa falta de transparência associada à falta de informações específicas sobre os locais de vacinação, tanto no Plano quanto em canais oficiais de comunicação, tem gerado ainda mais desinformação. Ontem mesmo, circulou em vários grupos e mídias sociais um calendário de vacinação (com local e datas) que depois mostrou-se falso (https://semsa.manaus.am.gov.br/noticia/nota-de-esclarecimento/).
Diante da falta de informação, setores da sociedade civil organizada têm se movimentado pela campanha em favor da vacinação. Uma das campanhas, organizada pelo coletivo Amazonas pela Vida e apoiada pela SBPC-AM, solicita de vereadores, deputados estaduais e deputados federais, transparência sobre o plano de vacinação em seis pontos:
- Cronograma de aquisição/produção de vacinas para o estado;
- Data de início e cronograma de imunização com detalhamento dos grupos prioritários;
- Unidades de Saúde que ficarão disponíveis para a população como Unidades de Vacinação;
- Medidas de segurança para não aglomerar a população durante as campanhas de Imunização;
- Detalhamento de disponibilização das doses ao público;
- Publicação oficial do plano detalhado apresentado de forma transparente para a população.
Esperamos que nossos gestores respondam o quanto antes esses pontos e nos colocamos à disposição para qualquer colaboração no sentido de controlar esse quadro trágico que se instaurou em nosso Estado.
Sanderson Castro Soares de Oliveira
Secretário regional da SBPC no Amazonas (SBPC-AM)