A segunda edição do Prêmio “Carolina Bori Ciência & Mulher” é dedicada às Meninas na Ciência, jovens estudantes do Ensino Médio e Graduação, cujas pesquisas de iniciação científica demonstraram criatividade, boa aplicação do método científico e potencial de contribuição com a ciência no futuro. Realizada pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a premiação recebeu 286 indicações de candidatas, de todo o País. Um desafio gigantesco para a comissão de juradas, que teve que escolher duas vencedoras e dedicar quatro menções honrosas entre tantas garotas cheias de talento.
Após um longo processo de seleção, a SBPC anunciou, no dia 15 de janeiro, as campeãs e homenageadas. Aqui, contamos um pouco sobre as duas primeiras colocadas – Juliana Davoglio Estradioto, vencedora no nível Ensino Médio, e Raquel Soares Bandeira, vencedora da Graduação. Elas estarão presentes na cerimônia de premiação, que será realizada virtualmente na próxima quinta-feira, 11 de fevereiro, Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. O evento será aberto a todos, com transmissão pelo canal da SBPC no YouTube, a partir das 10h30.
Uso sustentável de recursos naturais
Aos 20 anos, Juliana Davoglio Estradioto foi a vencedora no nível de Ensino Médio da 2ª edição do Prêmio Carolina Bori Ciência & Mulher. Engajada com o uso sustentável de recursos, ela desenvolveu uma membrana biodegradável a partir da casca de noz macadâmia, aproveitamento de resíduos para biossíntese de celulose bacteriana.
Natural de Osório, região litorânea do Rio Grande do Sul, Estradioto já tem um vasto currículo acadêmico e coleciona mais de 10 prêmios científicos nacionais e internacionais, e outras cerca de 30 menções e votos de congratulações. Iniciou sua trajetória científica depois de ingressar no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) para cursar o Ensino Médico Técnico em Administração. Lá, participou de um trabalho sobre a agricultura da Região, onde há uma vasta produção de maracujá. “Durante as visitas, percebi que os resíduos gerados não tinham destinação correta”, declara. Então, desenvolveu um projeto para amenizar o problema e produziu um filme plástico biodegradável (FPB) que substitui embalagens plásticas das mudas de plantas.
O segundo projeto foi com a casca de macadâmia. Ela teve a ideia de utilizar a casca como um alimento para microrganismos depois de ver uma jaqueta produzida por microrganismos. “O material produzido é uma alternativa para os plásticos como também na área de medicina e saúde, por exemplo, em peles artificiais”, explica.
O projeto rendeu premiação na 17ª edição da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), garantindo lugar na Feira Internacional de Ciências e Engenharia da Intel (Intel Isef), que aconteceu em maio de 2019 nos Estados Unidos, com 1.800 estudantes de 80 países. Selecionada em primeiro lugar na categoria de ciência de materiais, ganhou o direito de dar seu nome a um asteroide. Atualmente, Juliana Estradioto é estudante de Engenharia Química e Biológica e Estudos de Comunicação em Northwestern University, nos Estados Unidos.
Na infância, Estradioto lembra que adorava subir em árvores e a observar insetos, mas este espírito investigativo foi diminuindo à medida que crescia. Ela conta que recuperou a curiosidade que tinha quando criança depois que entendeu o significado de ser cientista. “Vejo o cientista como uma pessoa curiosa. Ciência para mim é nunca estar satisfeito com uma resposta. É estar sempre se questionando o tempo todo. E minha grande razão para me dedicar à ciência hoje é porque vejo nela a oportunidade de resolver problemas reais que acometem as pessoas e promover inovações interdisciplinares que podem melhorar a vida humana.”
Diante do sucesso, Estradioto afirma que faz questão de incentivar outros estudantes a embarcarem na ciência – sobretudo, meninas. Por isso, atua em diversos projetos para fomentar a produção científica. “Quero combinar ciência, educação e comunicação para promover oportunidades educacionais para outros jovens. Sou muito grata por ter tido pessoas acreditando em mim quando eu mesma não acreditava.”
Combate à leishmaniose
Raquel Soares Bandeira, estudante do nono período do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), é a vencedora no nível Graduação da 2ª edição do Prêmio Carolina Bori Ciência & Mulher. Aos 23 anos, ela se destacou pelo trabalho “Eficácia terapêutica de uma naftoquinona incorporada em micelas contra a leishmaniose tegumentar em camundongos”.
Bandeira começou a participar de projetos de pesquisa científica em 2018, durante o 5° período da graduação, no Setor de Patologia Clínica do Colégio Técnico da UFMG e no Laboratório de Infectologia e Medicina Tropical da Faculdade de Medicina da Universidade como bolsista de Iniciação Científica (PIBITI/CNPq). Com o sonho de ser cientista desde criança, Bandeira observa que o desejo se tornou mais forte quando ingressou na universidade. “Nessa época comecei a amar as disciplinas de imunologia e parasitologia e buscar por projetos de iniciação científica na área das ciências da saúde”, lembra.
Bandeira conta que se interessou por estudar as leishmanioses pela falta de medicamentos adequados para o tratamento da doença em humanos. “Os fármacos de uso corrente para o tratamento da doença apresentam problemas relacionados à toxicidade, à eficácia e à própria forma de administração, gerando baixa adesão dos pacientes. Além disso, cepas de parasitos resistentes têm sido identificadas. Assim, o desenvolvimento de novos medicamentos eficazes e seguros se faz necessário”, afirma.
Além do recente prêmio oferecido pela SBPC, Bandeira é vencedora do Grande Prêmio de Iniciação Tecnológica e Inovação dois anos consecutivos na “XXVIII Semana de Iniciação Científica” (2019) e “XXIX Semana de Iniciação Científica – Projetos Tecnológicos” (2020), promovidas pela Pró-Reitoria de Pesquisa da UFMG. Também recebeu o primeiro lugar em apresentação de pôster na categoria graduandos no “5º Encontro Anual Internacional do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde: Doenças Infecciosas e Medicina tropical”, promovido pela UFMG em 2019.
A graduanda acredita que os prêmios são incentivos para querer seguir na área, mesmo diante de desigualdades e do pouco incentivo à pesquisa no Brasil. “Essas premiações são importantes para valorizar e reconhecer o esforço e a competência das pesquisadoras brasileiras, além do significado da representatividade feminina nessa área.”
Para o futuro, ela pretende fazer mestrado em Infectologia e Medicina Tropical e depois atuar na Atenção Primária à Saúde como enfermeira.
Vivian Costa – SBPC