Palestra do biofísico alemão Erwin Neher atraiu centenas de estudantes, acadêmicos e cientistas para exposição em São Paulo
Em passagem pelo Brasil, o biofísico alemão Erwin Neher afirmou ontem que a curiosidade, a persistência e a sorte são alguns determinantes pelas suas descobertas científicas que lhe renderam o Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia em 1991. A declaração foi durante sua palestra “Creating Knowledge: Research for Upcoming Generations (Criação de Conhecimento: pesquisa para as gerações futuras)”, proferida ontem (29) em São Paulo, no Teatro Shopping Frei Caneca, que reuniu centenas de estudantes, acadêmicos e cientistas, interessados em conhecer a trajetória de Neher na área científica.
Foi aberta ontem, no Shopping Frei Caneca, a exposição científica multimídia “Túnel da Ciência Max Planck“, de responsabilidade da Sociedade Max Planck, da qual Neher é pesquisador. Como parte da temporada “Alemanha+Brasil”, a mostra itinerante vai até 21 de fevereiro com apoio da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e de outros órgãos.
Ao discorrer sobre sua experiência e os desafios enfrentados na ciência, Neher declarou que em qualquer descoberta científica é preciso acreditar na importância do trabalho para solucionar os problemas da sociedade. Segundo o biofísico alemão, a “curiosidade e o interesse de saber mais” na área científica são relevantes para obter êxito no resultado final de suas descobertas.
“Não pode esperar ganhar o Prêmio Nobel imediatamente. Se acreditar em sua descoberta haverá reconhecimento. A sorte também tem seu papel”, disse ele atribuindo à sorte o fato de ter encontrado bons mestres como orientadores.
Na tentativa de estimular os jovens brasileiros, disse que “não há receita pronta” para as conquistas em descobertas científicas. Reforçando que o Prêmio Nobel é outorgado às descobertas das ciências da natureza, citou como exemplo o sucesso dos antibióticos, o que, segundo ele, beneficiará a sociedade para sempre. “A maior parte dos que recebem o Prêmio Nobel é movida pela curiosidade de que as descobertas podem resolver problemas da sociedade”, disse.
Eletrofisiologia
Formado em física pela Universidade Técnica de Munique, Neher foi apresentado à plateia pela presidente da SBPC, Helena Nader, moderadora do debate. Helena destacou a vasta experiência do físico alemão na área científica e sua trajetória acadêmica.
O biofísico alemão e seu parceiro Bert Sakmann fizeram relevantes descobertas sobre a função dos canais iônicos nas células e decifraram a comunicação celular. Eles desenvolveram, em 1976, a técnica denominada patch-clamp que revolucionou o estudo da eletrofisiologia (ciência que explica, diagnostica e trata as atividades elétricas do coração) por permitir o isolamento da corrente de um tipo específico de canal iônico em diversos tipos celulares e em uma grande variedade de espécies.
Neher considera que foi graças ao progresso científico que a sociedade atual melhorou o padrão de vida em relação a décadas passadas. Ressaltou, portanto, a importância do financiamento à ciência para melhorar as condições de vida da sociedade. “O cerne do progresso científico está nas descobertas”, afirmou.
Juventude
Informando sobre sua trajetória na área científica, Neher disse que, desde jovem, tinha interesse pela eletricidade do corpo humano. “Por volta de 17 anos, descobri, nas aulas de biofísica, que a eletricidade de nosso corpo era algo fascinante. Depois quis saber mais sobre a bioeletricidade”, lembrou.
Ao progredir nos estudos na Alemanha, o cientista adquiriu uma bolsa para estudar na Universidade do Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos, onde fez mestrado em biofísica. Ao voltar à Alemanha, fez doutorado e recebeu, em 1987, o Prêmio Wilhelm Leibniz da Deutsche Forschungsgemeinschaft, a mais alta honraria concedida à área científica na Alemanha.
Questionado pela plateia se era considerado um nerd em sala de aula, fez uma autoavaliação. “Não acho que eu era nerd. Mas também não tinha notas ruins, era um bom aluno. Praticava esporte, atletismo, mesmo não sendo bom no esporte. Mas havia um equilíbrio na minha vida acadêmica”, avaliou.
(Viviane Monteiro/ Jornal da Ciência)