O mundo celebra o centenário de Paulo Freire

A nova edição especial do Jornal da Ciência é dedicada à educação e ao legado deste que foi um dos educadores mais famosos e respeitados mundialmente. Acesse gratuitamente!
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Paulo Freire recebe em 1991 o título de doutor honoris causa da Universidade Complutense de Madri. (Foto:Acervo Memorial Virtual Paulo Freire)

Dezenas de eventos virtuais por todo o Brasil e vários países vêm marcando, desde o ano passado, os cem anos de nascimento de Paulo Reglus Neves Freire. Conhecido apenas como Paulo Freire, ele é o um dos educadores mais famosos e respeitados mundialmente. Nascido no Recife (PE), em 19 de setembro de 1921, desenvolveu um trabalho considerado clássico na sua área, mas seu legado transborda as fronteiras da educação, entrando por vários outros campos do conhecimento

“Ele deixou marcas profundas em muitas pessoas e profissionais de diferentes áreas. Não apenas pelas suas ideias, mas, sobretudo, pelo seu compromisso ético-político”, comentou, por escrito, Moacir Gadotti, professor titular da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), diretor do Instituto Paulo Freire e uma das pessoas que foram mais próximas a Freire. “Ele não deixou discípulos como seguidores de ideias. Deixou mais do que isso. Deixou um espírito”, define Gadotti.

Um dos quatro filhos do casal Joaquim Temístocles Freire e Edeltrudes Neves Freire, Paulo Freire começou a ler orientado pela mãe. Concluiu a escola primária no município de Jaboatão dos Guararapes, o ginasial e o secundário no Colégio Oswaldo Cruz, no Recife. Cursou o “pré-jurídico”, uma modalidade oferecida na época pela escola secundária, preparando-se para ingressar, aos 22 anos, na Faculdade de Direito do Recife. Não porque quisesse ser advogado, mas porque era a única opção na área de ciências humanas, segundo ele mesmo contou em uma entrevista à revista Nova Escola, em 1994.

Casou-se, em 1944, com a professora primária Elza Maria Costa Oliveira (falecida em 1986), com quem teve cinco filhos: Maria Madalena, Maria Cristina, Maria de Fátima, Joaquim e Lutgardes. O golpe civil-militar de 1964 encontrou Paulo Freire em Brasília, envolvido com o Programa Nacional de Alfabetização, um grande esforço nacional convocado pelo presidente João Goulart, em 1961, com o objetivo de alfabetizar 1.834.200 adultos, atendendo assim 8,9% da população analfabeta (da faixa de 15 a 45 anos), que em setembro de 1963 era de 20,442 milhões pessoas (CPDOC/FGV). Professores, estudantes, sociedades de bairros, entidades religiosas e outras organizações da sociedade civil foram chamados a participar do programa do qual Freire era conselheiro e ativista.

Com o golpe, Freire foi destituído do programa, aposentado compulsoriamente de seu posto de professor da Universidade do Recife (hoje Universidade Federal de Pernambuco, UFPE) e passou a ser perseguido politicamente, o que o obrigou a exilar-se.

Foi primeiro para a Bolívia, depois para o Chile, onde ficou até 1969. Convidado para lecionar na Universidade de Harvard, ele morou e trabalhou em Cambridge, Massachussets, até 1970. Naquele ano mudou-se para Genebra para ser consultor especial do Departamento de educação do Conselho Mundial de Igrejas e dar aulas na Faculdade de Educação da Universidade de Genebra.

O Conselho lhe deu a oportunidade de espalhar suas ideias e seu método educativo pelo mundo: África, Ásia Oceania e América Latina. Voltou do exílio em 1979 com a anistia, para dar aula na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Em 1989 assumiu a Secretaria Municipal de Educação (SME) da Prefeitura de São Paulo, a convite da prefeita Luiza Erundina (1989-1993). Deixou o posto em 1991 por não se entender muito bem com a política, segundo Gadotti.

Freire publicou 14 livros como autor único e mais dez em parceria com outros educadores. Quase todos estão editados em inglês, francês e espanhol, muitos em italiano e alemão. “Pedagogia do oprimido”, sua obra mais conhecida, já foi traduzido em 17 idiomas. Devido à censura do regime militar, a primeira versão em livro do manuscrito de 1968 saiu em 1970 em inglês e espanhol, mas só ficou disponível no Brasil quatro anos depois.

Em 1993, um grupo de educadores, sindicalistas, dirigentes de associações e organizações de diversas áreas apresentaram oficialmente o nome dele ao Comitê que outorga o Prêmio Nobel da Paz, na Suécia.

Em julho daquele ano, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) aprovou uma moção, durante a sua 45ª Reunião Anual, realizada no Recife, na UFPE, apoiando a indicação. A moção afirmava que a iniciativa de premiação ao educador seria o reconhecimento oficial ao seu projeto pedagógico que ganhou o mundo.

A nova edição do Jornal da Ciência é dedicada à educação em homenagem ao centenário de nascimento de Paulo Freire. Sobre ele, traz um pouco mais da história, depoimentos de educadores e familiares. Sobre educação, são várias abordagens que mostram os enormes desafios criados pelos cortes orçamentários, a política de cotas e a pandemia do coronavírus.

Baixe a nova edição do JC e boa leitura!

Janes Rocha – Jornal da Ciência