Editorial: Vacinas contra covid-19 evidenciam o valor da CT&I
Graças ao trabalho acumulado ao longo de décadas, realizado por pesquisadores de vários países, e dos investimentos pesados em CT&I, o tratamento realmente eficaz contra o novo coronavírus, a vacina, está chegando, aos trancos e barrancos, aos braços da população brasileira – a despeito de ações ou omissões graves do governo federal.
Esta edição do Jornal da Ciência é dedicada aos avanços tecnológicos que levaram ao imunizante no mundo e no Brasil. Várias estratégias, clássicas ou mais modernas, estão sendo aplicadas contra a covid-19. As mais modernas, e nunca utilizadas antes, são as vacinas de mRNA da Pfizer/BioNtech ou da Moderna, mas mesmo essas são resultado de anos de estudo e investimento.
As plataformas tecnológicas nas quais o mRNA foi utilizado garantiram alta eficácia contra o vírus. A forma de utilizar mRNA para a entrega do antígeno que irá estimular o sistema imunológico abriu novos caminhos terapêuticos para a covid-19 e muitas outras doenças.
Mas há um problema social grave: a desigualdade no acesso às vacinas. Na maior campanha de vacinação da história, mais de 600 milhões de pessoas receberam, até maio, pelo menos a primeira dose de um dos 14 imunizantes aprovados e ofertados, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
No entanto, as nações ricas, que abrigam apenas 15% da população global, dispõem de 45% das doses de imunizantes. Em uma entrevista exclusiva, a médica curitibana Mariângela Simão, diretora-assistente de Acesso a Medicamentos, Vacinas e Produtos Farmacêuticos da OMS, fala dos esforços que a organização está levando adiante na tentativa de diminuir essa desigualdade e de ampliar o acesso, principalmente em países mais pobres.
Por enquanto, as novas tecnologias ainda chegam ao Brasil importadas, mas os cientistas brasileiros estão trabalhando arduamente para entregar imunizantes nacionais contra o novo coronavírus. Apesar dos orçamentos minguados e da infraestrutura insuficiente, há hoje 17 projetos em andamento no País, usando diferentes estratégias vacinais. Alguns deles poderão gerar os produtos esperados já em 2022.
A médio e longo prazos, o desafio da comunidade científica é superar os gargalos que tornam a produção dependente de matéria prima importada e transformar as descobertas feitas no laboratório em produto final, como mostra a reportagem sobre o vale da morte das vacinas brasileiras.
Há aqui um desafio no qual a SBPC está profundamente engajada: a batalha que tem sido travada para garantir recursos adequados e defender os interesses da CT&I brasileira.
Nessa luta, muitas estratégias são usadas, como as pressões junto ao governo, as ações no Congresso Nacional, o encaminhamento de propostas, as articulações para aprovação de projetos de lei do interesse da educação e da ciência, ou rejeição daqueles que prejudicam o setor. Essencial é também a mobilização da sociedade civil em defesa da ciência, realizada com a divulgação de informações nas redes sociais e com reuniões virtuais, abaixo-assinados e mensagens públicas reiterando a posição em favor da ciência, tecnologia e inovação.
Uma das nossas fontes de inspiração é o educador Anísio Teixeira, a quem dedicamos uma reportagem lembrando os 50 anos de sua morte. Ele foi presidente da SBPC por duas gestões, de 1955 a 1957 e de 1958 a 1959. Grande idealizador e defensor da escola pública brasileira, Anísio Teixeira foi um homem de ideias e ação, e um dos criadores de instituições fundamentais para o País, como a Capes e a UnB.
Que esta edição lhes traga boas reflexões e inspire ações coletivas!
Baixe a nova edição do JC e boa leitura!
Ildeu de Castro Moreira | Presidente da SBPC
Fernanda da Fonseca Sobral | Vice-presidente da SBPC