Com muita expectativa mais de 5 mil pessoas inauguram a reunião anual da SBPC
O auditório de mais de 800 lugares do Teatro Universitário da Universidade Federal do Acre (Ufac) ficou lotado para a cerimônia de abertura da 66ª Reunião Anual da SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, na noite desta terça-feira (22/07). Estudantes, professores, autoridades e muitos acreanos prestigiaram a abertura do evento, que teve na mesa principal o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Clelio Campolina, a presidente da SBPC, Helena Nader, e o reitor da Ufac, Minoru Kinpara, além da vice-reitora Guida Aquino.
As personalidades que integraram a mesa de abertura foram recebidas calorosamente pelo público que, como é tradicional nas reuniões anuais da SBPC, constitui-se principalmente de estudantes e professores universitários. Esse público, que além de ocupar todos os assentos, espalhou-se pelos corredores do auditório, ouviu atentamente a todos os discursos que foram proferidos pelos integrantes da mesa. Não necessariamente na sequência que ocorreram, captamos alguns destaques dos discursos, que mais refletem o clima de expectativa sobre a realização da 66ª. Reunião Anual da SBPC no Acre.
Apesar das adversidades
“Enfrentamos inúmeras dificuldades até chegar a este dia. Tivemos que atender a mais de 8 mil famílias desabrigadas e o acesso por nossas estradas ficou totalmente impossibilitado pela enchente do rio Madeira, que nos atingiu há apenas 4 meses. E hoje aqui está o povo acreano e rio-branquense a recepcionar esta 66ª. Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)”. Com essa fala o prefeito de Rio Branco, Marcus Alexandre, deu início ao seu discurso na abertura do evento, como uma mostra inicial da grande mobilização que toma conta da cidade que recebe nesta semana o maior evento científico do País.
O reitor da Ufac, professor Minoru Kinpara, visivelmente emocionado, disse em seu discurso que “o Acre hoje está mais bonito, pois recebemos aqui todos os nossos estudantes e muitos que vêm de todo o País”. Kinpara, que durante meses trabalhou incessantemente pela realização do evento, ressaltou que a Ufac, como única universidade pública do estado, foi totalmente mobilizada para receber o evento. “Fizemos tudo o que foi possível. Em qualquer canto da cidade todas as pessoas perguntam sobre o evento da SBPC.” O reitor lembrou que a Amazônia não é só brasileira, portanto houve um empenho para trazer representantes de outros países amazônicos, sobretudo do Peru e da Bolívia, países fronteiriços do Acre, e dessa forma refletir o tema central da reunião, “Ciência e Tecnologia em uma Amazônia sem Fronteiras”.
“Para errar basta fazer como a seleção brasileira”
O ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Clelio Campolina, destacou em seu discurso na abertura que “a bioeconomia é hoje uma das fronteiras do conhecimento humano e, dessa forma, o patrimônio genético dessa região (Amazônica) deve ser visto com muita seriedade pelo Governo e pela sociedade.” Campolina ressaltou que “em algum momento estaremos (Governo) propondo um programa para que integre todos os países que da região amazônica”.
O general Joaquim Silva e Luna, que estava representando o ministro da Defesa, Celso Amorim, comentou em seu discurso na abertura do evento que “o Brasil não deve fazer na ciência e tecnologia como fez a seleção brasileira, ou seja, querer acertar fazendo sempre o mesmo”. O general Luna lembrou que o País é pacífico, no entanto, não deve ser ingênuo. “Temos hoje um programa de defesa em curso, que está centrado em três grandes áreas, a cibernética, a nuclear, e a aeroespacial”, referindo-se ao programa END (Estratégia Nacional de Defesa).”
“O que importa é termos vitórias na Ciência”
A presidente da SBPC, Helena Nader, fez um discurso voltado para recuperar fatos relevantes nas áreas de ciência, tecnologia, inovação e educação que ocorreram no País desde julho de 2013, quando aconteceu a reunião anual da SBPC em Recife. Ressaltou, entre outros pontos, que “o financiamento à ciência, tecnologia e inovação permanece como uma das grandes preocupações da comunidade científica e acadêmica. Na agenda deste ano, persiste a ameaça da extinção dos recursos dos royalties do petróleo. A atual redação da lei, que ainda não foi regulamentada, não destina recursos ao CT-Petro, tornando a sua receita nula, o que ocasionaria a extinção deste fundo setorial, com consequências nefastas para as atividades de C,T&I.”.
Nader também comentou a preocupação da comunidade científica quanto ao novo Programa Nacional de Plataformas Científicas (PNPC), lançado recentemente pelo governo federal. “Apesar de reconhecer o esforço do MCTI no sentido de alavancar o setor no país, a SBPC manifestou cautela quanto ao ambicioso programa. Entendemos que antes de iniciar uma nova jornada, é necessário garantir a continuidade dos projetos em andamento e aqueles já discutidos e apontados como fundamentais para o país”, afirmou a presidente da entidade.
A recepção calorosa do povo acreano à realização da 66ª. Reunião Anual também foi lembrada por Nader. Ela disse “que eventos como esse representam uma vitória para a ciência brasileira, e que são essas vitórias que mais importam para o País”.
O discurso na íntegra da presidente da SBPC está disponível em:
Cerimônia de abertura
O secretário geral da SBPC, Aldo Malavasi, iniciou a sessão de abertura com uma breve descrição sobre a trajetória da SBPC e a importância da escolha do Acre para a reunião deste ano. Em seu discurso, ele destacou a homenagem ao geneticista Darcy F”ontoura de Almeida, professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) falecido em março deste ano. A SBPC homenageou o cientista com uma placa, que foi entregue ao professor Alberto Passos Guimarães, colega de UFRJ e amigo de Darcy. “Amigo e presidente de honra da SBPC, Darcy também se dedicou à divulgação científica, sendo um dos fundadores do Jornal da Ciência e da Revista Ciência Hoje”, lembrou Malavasi.
De acordo com o secretário geral, até hoje (22), um dia antes do início das atividades, a Reunião Anual da SBPC, em Rio Branco havia recebido mais de 5.400 inscritos, desses mais de 2.900 são do Acre.
Participaram também da mesa de abertura o presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Jacob Palis; o secretário estadual de C&T do Acre, Marcelo Minghelli; a chefe da Casa Civil do Governo do Acre, Marta Regina Souza Pereira; o prefeito de Rio Branco, Marcus Alexandre Médici Aguiar; representando o ministério da Defesa, o general Joaquim Silva e Luna; o diretor de Cooperação Institucional do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico do CNPq, Paulo Beirão; o presidente do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), Sergio Gargioni; e a presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), Tamara Naiz.
2014: um ano especial para a Ufac
Em seu discurso de boas vindas, a vice-reitora da Ufac, professora Margarida de Aquino Cunha, conhecida por todos como Guida, afirmou que o ano de 2014 está sendo muito especial para a universidade. “Estamos celebrando meio século de história e a inauguração do nosso programa de doutorado. E estamos muito felizes com a realização da Reunião Anual da SBPC aqui”, disse.
Emocionada, Guida lembrou as dificuldades enfrentadas para a realização do evento e elogiou os esforços e dedicação de todas as equipes. “Enfrentamos os problemas decorrentes da enchente do Rio Madeira e a oposição de alguns grupos, mas isso não foi suficiente para recuarmos. Aprendemos muito com a organização deste evento e com certeza a Ufac não será a mesma depois dessa semana”, afirmou a vice-reitora.
A presidente da ANPG, Tamara Naiz, aluna da Universidade Federal de Goiás, falou que os estudantes brasileiros querem realizar muito pelo País. “Acreditamos que a diversidade de nossos recursos naturais é muito importante e que a ciência, tecnologia e inovação devem estar voltadas para isso. Lutamos pelo crescimento dos investimentos para essa área”, revelou. Ela lembrou que o combate à desigualdade e à pobreza também deve ser priorizado pela CT&I.
Em sua participação, o presidente da Confap, Sergio Gargioni, informou que sua entidade representa 25 fundações de amparo à pesquisa do Brasil. “Somos parte integrante e importante para a definição de políticas de CT&I do País. Acreditamos na pesquisa como fator de desenvolvimento e com um mínimo de burocracia”, disse.
Prêmio José Reis
O repórter do jornal O Estado de São Paulo, Herton Escobar, vencedor do 34º prêmio José Reis de Divulgação Científica e Tecnológica, na categoria “Jornalista em Ciência e Tecnologia” recebeu a premiação do ministro Clelio Campolina, durante a cerimônia de abertura.
Herton é especialista em Ciência e Meio Ambiente e atua no jornal o Estado de São Paulo desde janeiro de 2000. Possui mais de 1.700 reportagens publicadas em formato impresso e digital. Ele será um dos conferencista desta 66ª Reunião Anual da SBPC com o tema “Jornalismo e ciência: Unidos pela curiosidade, em busca da verdade”, no dia 24.
(Fabíola de Oliveira e Edna Ferreira/SBPC)