A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) lamenta profundamente a morte de Oswaldo Luiz Alves, na tarde de sábado, 10 de julho, em Campinas (SP). Professor titular e decano do Departamento de Química Inorgânica do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde fundou o Laboratório de Química do Estado Sólido, em 1985, ele era sócio da SBPC desde 1986. Ele sempre colaborou intensamente com a SBPC e a diretoria da sociedade deixa aqui registrado o nosso profundo agradecimento a ele, que ficará permanentemente em nossa lembrança.
Nascido em São Paulo em 1947, Alves concluiu os cursos de bacharelado e licenciatura em Química na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) em 1973, e o doutorado, na mesma instituição, em 1977. Na França, concluiu em 1981 o pós-doutorado no Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS, na sigla em francês).
Ele foi um dos primeiros entre os pesquisadores brasileiros a desenvolver atividades na área de nanotecnologia, tendo coordenado o Laboratório de Síntese de Nanoestruturas e Interação com Biossistemas (NanoBioss/SisNano). Publicou mais de 200 artigos em periódicos científicos e teve depositadas 27 patentes de processos e aplicações, algumas internacionais, incluindo uma tecnologia voltada à remediação de efluentes de indústrias papeleiras e têxteis, que foi licenciada para o setor produtivo.
Segundo o presidente da SBPC, Ildeu de Castro Moreira, a morte de Alves é uma grande perda para a ciência brasileira e mundial. “Ele era um nome importante para a ciência brasileira, tendo sido um dos pioneiros da nanotecnologia no Brasil. Foi muito importante para a Química e a Física, na ciência dos materiais, tendo realizado um trabalho científico de grande relevância”, disse.Moreira afirma ainda que Oswaldo Alves deixa também como legado importantíssimo na formação/transformação de inúmeros jovens em pesquisadores qualificados e que ele teve participação ativa na luta pelo desenvolvimento da ciência brasileira, sempre disposto a atuar para a melhoria de sua qualidade e para sua disseminação.
Na SBPC ele participou de várias Reuniões Anuais, dentre elas a 71ª Reunião Anual em Campo Grande, onde proferiu a conferência “Nanotecnologia das coisas”. Nesta reunião ele coordenou também a mesa-redonda “O negro na ciência brasileira”, realizada na SBPC Afro e Indígena. Ali se discutiu a baixa presença de pessoas negras nas universidades do País, as consequências deste fato e as dificuldades para aumentar o número de pesquisadores negros. “Essa é uma questão candente na sociedade brasileira, essa falta de representatividade dos negros numa atividade que é tão importante para o desenvolvimento científico e tecnológico do País”, afirmou Oswaldo Luiz Alves, na ocasião. Segundo ele, a esperança é de que abrindo espaços para estes debates, seja possível reduzir as disparidades. “Não dá mais para deixar de falar disso, essa mesa-redonda é uma oportunidade bastante interessante e esperamos que as pessoas que vieram para cá sejam capazes de perceber que juntos podemos mudar esse panorama que de certa forma nos oprime há muitos e muitos anos”.
Ano passado, ele também foi o entrevistado convidado do Jornal da Ciência impresso (a entrevista está disponível com o título “A nanotecnologia que nos cerca“), onde falou sobre o estágio de desenvolvimento das pesquisas no País e os obstáculos que impedem uma maior disseminação. “Não temos dúvidas de que poderíamos estar mais longe, todavia, isto não aconteceu devido a uma situação bastante conhecida da comunidade científica brasileira: as descontinuidades do financiamento”, declarou, na ocasião.
Alves foi presidente da Sociedade Brasileira de Química (SBQ), vice-presidente para da Academia Brasileira de Ciências (ABC) – regional São Paulo, fellow da Royal Society of Chemistry e da Academia de Ciências do Mundo em Desenvolvimento (TWAS, na sigla em inglês). Desde 2019, ele fazia parte do Conselho Técnico-Científico do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer.
Por suas contribuições à comunidade química brasileira, recebeu vários prêmios e títulos, dentre os quais destacam-se: Comenda da Ordem Nacional do Mérito Científico (2002); Medalha Ministro Raymundo Moniz Aragão (2003), do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IQ-UFRJ); Medalha Simão Mathias (2004) e Prêmio de Inovação Tecnológica (2008), ambos da Sociedade Brasileira de Química (SBQ); e Cientista do Ano (2016), na modalidade de nanotecnologia, do Instituto Nanocell.
Diversas instituições, dentre elas a SBQ, ABC, Instituto Serrapilheira e a Unicamp publicaram notas de pesar em homenagem ao cientista.
SBPC