Por um lado, apostar em ciência, tecnologia e inovação é o caminho para superar a crise sanitária, social e econômica atual. Por outro, a contínua restrição orçamentária é um desafio para o desenvolvimento científico nacional. Esse foi o principal ponto de discussão do painel “A CT&I no Brasil – Quadro Atual”, realizado nesta segunda-feira (19) na 73a Reunião Anual da SBPC. O evento foi transmitido ao vivo pelo canal da SBPC no Youtube.
O painel foi coordenado pelo presidente da entidade, Ildeu de Castro Moreira, e teve a participação de Tarcisio Pequeno, presidente da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap), Evaldo Ferreira Vilela, presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Pedro Wongtschowski, da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), Jorge Almeida Guimarães, presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), e do deputado Alessandro Molon.
A atual crise sanitária, social e econômica global foi uma preocupação manifestada pela maioria dos manifestantes. “Nós estamos atravessando um quadro de múltiplas crises que se somam, se sobrepõem e interagem: uma crise sanitária, que é a mais grave do último século, uma crise econômico-social, a mais grave das últimas décadas, e uma crise ambiental-climática, da qual não sabemos ainda as exatas proporções”, apontou o deputado Alessandro Molon.
Essa crise vem impactando significativamente o financiamento da ciência – justamente em seu momento mais crítico. “Em um momento em que os problemas são tão emergentes e urgentes, em que a miséria e a fome nos assolam de novo, fica difícil você disputar dinheiro para ciência e tecnologia”, declarou Tarcisio Pequeno, presidente da Funcap.
Diante de uma crise tão grave, qual seria o melhor caminho? “O mundo tem apostado na CT&I para a superação desse grave quadro que atravessamos”, afirma Molon. “Mas o Brasil parece seguir o caminho oposto. A ciência patina no País: o mundo avança e o Brasil fica paralisado.”
O caminho através da ciência
No entanto, os participantes concordam que a solução só é possível através do conhecimento científico. “A ciência é um instrumento poderoso de mudanças. Não há desenvolvimento sem ciência”, frisou Jorge Almeida Guimarães, presidente da Embrapii.
Evaldo Ferreira Vilela, presidente do CNPq, ressaltou a importância de não apenas valorizar a ciência em geral, mas também de reconhecer o valor da ciência nacional, apesar de todas as adversidades. “Nós conseguimos nesse meio tempo construir um ciência que podemos dizer que está entre as dez melhores do mundo”.
Segundo o deputado Alessandro Molon, o Brasil já teve 30% do produto interno bruto (PIB) que oriundo da indústria na década de 1980, e hoje esse percentual caiu para cerca de 10%. “O País experimentou uma reprimarização da sua economia, se desindustrializou. Para revertermos esse quadro não há outro caminho senão apostarmos em CT&I”.
Mania de inovação
A inovação tecnológica é fundamental para o desenvolvimento econômico – e o desenvolvimento científico é fundamental para a inovação tecnológica. Porém, para que a inovação aconteça, é imprescindível que ocorra uma parceria entre universidades, governo e empresas (a chamada “tripla hélice”). “Sem o modelo da tríplice hélice funcionando, o setor empresarial fica inibido de atuar em projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I). E nós precisamos do investimento das empresas”, Jorge Almeida Guimarães, presidente da Embrapii.
Além disso, de acordo com Pedro Wongtschowski, da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), para inovar é necessário a existência de empresas rentáveis, saudáveis, vigorosas e competitivas. “Toda luta que todos nós tivemos para criar um ambiente institucional regulatório no Brasil que favoreça a vida empresarial automaticamente implica no favorecimento da inovação e, portanto da ciência e da tecnologia do País”.
Segundo Evaldo Ferreira Vilela, presidente do CNPq, é preciso continuar insistindo no diálogo com os governos e na educação, pois a ciência é o melhor caminho para o desenvolvimento de um país. “Para que a gente possa ter realmente uma economia que atenda ao País, nós temos que ter uma mania de inovar, uma mania de pesquisa básica, uma mania de aplicação. Assim, podemos conseguir transbordar o conhecimento para soluções dos problemas sociais e econômicos”.
No final do painel, presidente do SBPC, Ildeu de Castro Moreira, encerrou declarando que é necessário ter coragem e criatividade nesse momento. “Estamos precisando de coragem para resistir a esse desmonte que estamos vivendo, de cortes dramáticos na ciência e tecnologia. Todos devemos estar alinhados para defender e recuperar os recursos para a CT&I que são cruciais. E precisamos de imaginação, pois vários pontos pedem que a gente inove, não apenas uma inovação cientifica e tecnológica, mas uma inovação política. Nós precisamos estar mais atentos, determinados e articulados. Nossa luta pela CT&I é permanente e vamos continuar nela”.
Assista ao painel na íntegra, no canal da SBPC no Youtube.
Christiane Bueno – Jornal da Ciência