A celebração, em 2022, dos 200 anos da proclamação da Independência será uma oportunidade de rever o passado, compreender o presente e pensar o futuro. O bicentenário foi assunto de painéis e conferências durante a 73ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada entre 18 e 24 de julho.
No painel “Rumo às independências – as comemorações do bicentenário”, Ildeu de Castro Moreira, ex-presidente da SBPC, ressaltou que não existe ainda nenhuma articulação nacional orquestrada pelo governo atual para comemorar a data como deveria ser. Segundo ele, é importante que a sociedade civil, incluindo as instituições científicas, acadêmicas e culturais, se mobilizem para realizar essas celebrações.
“Não queremos reduzir as comemorações a apenas discussões históricas. Claro que elas são fundamentais para entendermos o passado. Mas precisamos construir narrativas diferentes, em vários aspectos. Este é o momento de mobilizarmos as diferentes entidades e pensarmos nos próximos 200 anos”, disse Moreira.
O filósofo Renato Janine Ribeiro, presidente eleito da SBPC, que tomou posse no dia 23 de julho, comentou que seria um momento muito oportuno para rever políticas de nominação e de lugares de memórias. “A única atividade que vejo é a reabertura do Museu do Ipiranga/Museu Paulista da Universidade de São Paulo, que foi fechado por falta de condições de segurança do prédio, há cerca de dez anos, quando a sua diretora teve a coragem de fechá-lo, mesmo sem falar com o reitor na época. Demorou muito para que o governo de São Paulo tivesse recursos para a sua reabertura. ”
Em outra conferência, esta organizada pela Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), a historiadora Lilia Moritz Schwarcz respondia à questão: “Que independência podemos e queremos comemorar?” Professora titular no Departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo (USP), “global scholar” da Universidade de Princeton (EUA), curadora do Museu de Arte de São Paulo (MASP), colunista da grande imprensa e autora de vários livros, Schwarcz tem como centro de sua pesquisa a antropologia das populações afro-brasileiras.
A historiadora começou por alertar que, além de marcar o Bicentenário da Independência, o ano de 2022 celebra uma série de efemérides do passado e do presente do Brasil. São os cem anos da Semana de Arte Moderna de 22, o centenário do escritor Lima Barreto – de quem Schwarcz escreveu uma biografia – e é também ano de eleições presidenciais e Copa do Mundo de Futebol.
Está também entre os eventos mais importantes do ano que vem a revisão da Lei de Cotas (12.711/2012), norma federal que define parâmetros inclusivos, por meio da reserva de vagas, para o acesso às Instituições Federais de Educação Superior (Ifes) e aos institutos federais de ensino técnico de nível médio, vinculados ao Ministério da Educação (MEC).
“Será um ano cheio, que pedirá de nós uma certa vigilância cidadã e uma imaginação muito mais plural e diversa”, afirmou a historiadora. Ela prevê que haverá uma “batalha de narrativas” e uma das mais importantes é justamente a das cotas. “Foi uma conquista, uma política da maior relevância, que permitiu que o Brasil tivesse um empurrão rumo à diversidade e à inclusão social. ”
Leia a cobertura completa sobre os debates em torno da celebração do Bicentenário da Independência ocorridos durante a 73ª Reunião Anual da SBPC na nova edição do Jornal da Ciência. Baixe aqui seu exemplar em pdf e boa leitura!
Vivian Costa e Janes Rocha – Jornal da Ciência